RIO – A GNLink, distribuidora de gás natural liquefeito (GNL) em pequena escala, espera começar a operar no primeiro semestre de 2024. A companhia está construindo uma primeira unidade de liquefação no Paraná, com capacidade para 88 mil m3/dia, e está estruturando mais dois projetos do mesmo porte para o ano que vem, ao mesmo tempo em que se prepara para entrar também na cabotagem de GNL a partir de 2025.
O presidente da companhia, Marcelo Rodrigues, conta à agência epbr que a GNLink já mapeou oportunidades de 15 projetos no Brasil, que somam 4 milhões de m3/dia de capacidade em dez anos. Desse total, oito foram priorizados e o plano é fechar 2023 com três deles com decisão final de investimento tomada.
A GNLink é uma empresa do grupo Lorinvest, gestora de investimentos do grupo Lorentzen. A distribuição de GNL em pequena escala era, inicialmente, um braço dos negócios da Gas Bridge, mas ganhou vida própria depois que a Lorinvest decidiu descontinuar a comercializadora de gás natural.
Rodrigues destaca que o plano da empresa é acelerar os investimentos nos próximos dois anos, para se posicionar bem no emergente mercado brasileiro de GNL em pequena escala – que vem despertando a atenção de outros agentes.
“Vamos buscar uma posição relevante como distribuidora de GNL pelo modal marítimo ou rodoviário até 2025”, disse o executivo, ex-Gas Local, Golar LNG e New Fortress.
“Tem muito mercado [a ser explorado]. Hoje o Brasil tem mais de 200 cidades com mais de 100 mil habitantes e sem gás. São cidades com distritos industrias, indústrias operando que consomem GLP [gás liquefeito de petróleo], óleo combustível, diesel… O país terá mais molécula [nos próximos anos], mas não tem infraestrutura. Essa é nossa crença”, complementou.
GNLink vê distribuidoras como parcerias, não competidoras
O projeto mais avançado da GNLink é no Paraná. A empresa está instalando uma planta de liquefação no campo de Barra Bonita, da Tradener.
A ideia é que esse gás abasteça, em sua maior parte, projetos estruturantes da Compagas, a distribuidora local. A GNLink participa de uma chamada pública da concessionária paranaense para abastecimento do município de Londrina.
Rodrigues afirma que a preferência da companhia é trabalhar em parceria com as distribuidoras, em projetos de interiorização do gás, porque os projetos estruturantes (redes isoladas de gás canalizado) das concessionárias estaduais dão escala a mercados regionais – permitindo, assim, a instalação de unidades de regaseificação de maior porte.
É um modelo mais competitivo do que instalar várias unidades de regaseificação menores, pulverizadas em diferentes pontos de consumo.
“Queremos, efetivamente, trabalhar juntos das distribuidoras, não somos competidores deles, estamos aqui para ajudar a distribuidora a interiorizar o gás”, disse.
A expansão da infraestrutura de gás no Brasil, segundo ele, será puxada pelos investimentos das concessionárias estaduais de gás canalizado.
“Vejo a coisa acontecendo via distribuidoras”, afirmou.
Oportunidades vão do GNL importado ao biometano
O executivo pontua, contudo, que a companhia também cogita, em alguns casos, entregar o gás na ponta, diretamente para a indústria, e que também mira, como oportunidade de negócio, o mercado de gás para veículos pesados – os corredores azuis.
A lista de oportunidades de negócios mapeadas pela GNLink inclui desde distribuição de gás de produtores onshore ao GNL importado e biometano.
Um dos três projetos em estruturação pela companhia, para a partir de 2024 é, justamente, para distribuição do gás renovável.
A GNLink fechou um acordo de cooperação com a comercializadora paulista Migratio, para desenvolvimento, conjunto de operações verticalizadas no mercado de biometano.
A empresa do grupo Lorinvest entra no negócio com sua expertise em distribuição de gás liquefeito e comprimido, enquanto a Migratio com sua rede de clientes e experiência na originação do biogás.
As duas companhias também miram oportunidades no mercado de gás natural, a partir da importação de GNL.
GNLink e Migratio, de forma independente, possuem acordos com a Nimofast, que desenvolve um projeto de terminal de regaseificação no Paraná, para aquisição de gás importado a partir de 2025.
A distribuidora do grupo Lorinvest assumiu um compromisso para compra de 2 milhões de m3/dia a partir do terminal paranaense, enquanto a Migratio mais 1 milhão de m³/dia de gás natural.
Rodrigues conta que a GNLink tem acordo para fazer a distribuição dos volumes a serem comercializados pela Migratio. A parceria inclui a prestação dos serviços de de retirada do GNL dos navios, enchimento das carretas, transporte do GNL e regaseificação.
GNLink mira também produção onshore
A GNLink mira também a produção de gás onshore como oportunidade de negócio. Um dos projetos no radar da companhia é no Nordeste.
A distribuidora de GNL enxerga potencial para acessar a molécula do gás onshore tanto na cabeça do poço (caso da Tradener no Paraná) quanto na rede de distribuição.
Rodrigues vê a possibilidade de comprar gás na malha, no mercado livre, para posterior liquefação.
Segundo ele, em alguns estados onde a regulação prevê a figura do consumidor livre, a conta fecha.
O executivo cita a Eneva e a New Fortress Energy como players bem posicionados no Norte do país e pretende ficar de fora do mercado dessa região.
“Nosso plano é Nordeste para baixo [para o sul]”, disse.
Plano inclui cabotagem em 2025 e hidrogênio a longo prazo
Outro negócio em estudo na empresa, para 2025, é o desenvolvimento de rotas de cabotagem de GNL, a partir do apoio logístico da Norsul – também da Lorinvest.
“Tem surgido muitos navios a GNL no mundo, mas que não têm como abastecer no Brasil. Pretendemos ter uma infraestrutura junto com a Norsul para abastecer essa frota”, comentou.
A própria Norsul avalia navios a GNL em sua frota própria.
A longo prazo, a GNLink também mira o mercado de distribuição de hidrogênio de pequena escala.
Nesse sentido, a empresa assinou um acordo de cooperação tecnológica e desenvolvimento de negócios com a empresa portuguesa PRF GasSolutions, para implantação, no Brasil, de unidades de produção de hidrogênio verde (H2V), com capacidade de até 5 MW.
“Mas primeiro temos que ter, no país, uma regulação [para o H2V]”, disse.