Airbus, Rolls-Royce e a fabricante de combustível sustentável Neste lançaram esta semana o primeiro estudo de emissões de combustível de aviação 100% renovável, conhecido como SAF (Sustainable Aviation Fuel), em um avião comercial de passageiros.
O projeto Emission and Climate Impact of Alternative Fuels (emissões e impactos climáticos dos combustíveis alternativos) estuda os efeitos do uso de SAF puro nas emissões e no rendimento dos aviões.
“Atualmente, os aviões só podem funcionar com uma mistura máxima de 50% de SAF e querosene fóssil; esta parceria permitirá entender como os motores de turbina a gás funcionam utilizando 100% do combustível sustentável visando a certificação, além de identificar as possíveis reduções de emissão e os benefícios ambientais”, explica Steven Le Moing, diretor do Programa de Novas Energias da Airbus.
Os testes nas turbinas tiveram início esta semana nas instalações da Airbus, em Toulouse, na França, utilizando um A350-900, com propulsores Rolls-Royce. Foi o primeiro voo para comprovar a compatibilidade operacional do uso do combustível sustentável puro com os sistemas da aeronave.
Também estão previstos testes de emissões em voo e análises em terra para mensurar as emissões de partículas e determinar o impacto ambiental do uso de SAF nas operações aeroportuárias.
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Antes da pandemia de covid-19, que reduziu drasticamente o número de voos, a aviação civil internacional já respondia por 2% das emissões globais de CO2.
A partir de um acordo internacional, o Corsia, o setor se comprometeu com metas de crescimento neutro de emissões a partir de 2020, em uma fase piloto e voluntária. Já a partir de 2027, as medidas e metas de redução de emissões valerão para todos os países, e os combustíveis sustentáveis terão um papel crucial neste sentido.
Tanto os testes em voo quanto em terra vão comparar emissões do uso de SAF produzido com tecnologia HEFA (Ésteres e Ácidos Graxos Hidroprocessados) contra os de querosene fóssil com baixo teor de enxofre.
O objetivo das análises é apoiar os esforços das companhias aéreas que se preparam para o uso em grande escala de renováveis, como parte das estratégias de descarbonização.
“O SAF é uma parte vital da meta da Airbus de descarbonizar a indústria de aviação e estamos trabalhando lado a lado com uma série de parceiros para assegurar um futuro sustentável para o transporte aéreo”, afirma Le Moing.
Simon Burr, diretor de Desenvolvimento de Produtos e Tecnologia da Rolls-Royce Civil Aerospace, acredita que a retomada da demanda por viagens no pós-pandemia deve acontecer de modo sustentável, impulsionando esse mercado.
“No caso das viagens de longa distância, sabemos que isso acarretará o uso de turbinas a gás durante as próximas décadas. O SAF é essencial para a descarbonização destas viagens e apoiamos ativamente o aumento de sua disponibilidade para a indústria da aviação”, destaca.
Segundo Jonathan Wood, vice-presidente da Neste para Europa, o combustível de aviação sustentável produzido pela empresa reduz em até 80% as emissões de gases de efeito estufa comparado ao uso de combustíveis fósseis.
Boeing planeja dar garantia até 2030
A iniciativa do grupo vem na esteira de um anúncio recente da Boeing de garantir que todos os seus aviões comerciais estarão aptos a usar combustíveis de aviação 100% sustentáveis até 2030.
A fabricante norte-americana divulgou em janeiro deste ano que realizou testes de voo substituindo o querosene fóssil por renovável, e se comprometeu a trabalhar com os reguladores para aumentar o limite de mistura permitido.
A regulamentação do uso de SAF no Brasil está na agenda da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Em fevereiro, a ANP lançou uma consulta pública para revisão da ANP n° 778, que especifica combustíveis de aviação fósseis, alternativos e suas misturas.
Entre as principais alterações está a adição de duas novas rotas de querosene derivados de biomassa, gases residuais e gás natural.
A revisão também será objeto de audiência pública no dia 26 de março.