BRASÍLIA — Até 2025, a geração global de energia nuclear deve ultrapassar seu último recorde de 2021 e, junto com fontes renováveis como solar, eólica e hidroelétrica reduzir a participação dos combustíveis fósseis no mix de fornecimento de eletricidade, aponta relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) publicado nesta quarta (24/1).
Entre 2024 e 2026, a agência projeta uma capacidade adicional de 29 GW de energia nuclear entrando em operação em todo o mundo, sendo mais da metade na China e na Índia. Já a geração deve ter um crescimento de cerca de 3% ao ano, em média, até 2026, se aproximando de 3 mil TWh.
Com novas usinas iniciando operações comerciais em várias regiões, além da recuperação nuclear francesa e das reativações esperadas no Japão, a IEA espera que a geração global seja quase 10% maior em 2026 em comparação com 2023.
“Em 2022 e 2023, muitos países colocaram a implementação ou expansão da energia nuclear no centro de suas estratégias para atingir objetivos de política climática, desencadeando um significativo renascimento do interesse global na energia nuclear”, avalia o documento.
No roteiro para emissões líquidas zero, a IEA indica que a energia nuclear precisa mais que dobrar até 2050, complementando o desenvolvimento de energias renováveis e aliviando a pressão sobre o fornecimento de minerais críticos.
Estratégia de transição
Na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), realizada em Dubai, no final de 2023, mais de 20 países assinaram uma declaração conjunta para triplicar a capacidade de energia nuclear até 2050.
Globalmente, isso significaria uma adição de 740 GW de capacidade nuclear à capacidade atual de 370 GW.
A Associação Nuclear Mundial estima que, até novembro de 2023, 68 GW estavam em construção, com mais 109 GW atualmente planejados e 353 GW propostos.
Além dos reatores atualmente em construção, mesmo que todos esses projetos planejados e propostos sejam realizados, atingir o objetivo da declaração exigiria uma adição adicional de 210 GW para alcançar o objetivo anunciado até 2050.
“Muitos países estão tornando a energia nuclear uma parte crítica de suas estratégias energéticas, visando garantir a segurança energética enquanto reduzem as emissões de gases de efeito estufa”, observa a IEA.
No entanto, alcançar a meta de triplicar a geração esbarra em desafios como riscos de construção e financiamento no setor.
Atrasos nas construções e custo de capital
Globalmente, os projetos de construção iniciados entre 2010 e 2020 tiveram um atraso médio de cerca de três anos.
Entre os exemplos elencados pelo relatório está o primeiro reator da mais recente usina nuclear dos Estados Unidos, o Vogtle 3, que entrou em operação comercial em 2023, com a expectativa de que a segunda unidade, Vogtle 4, o siga no início de 2024.
A construção da usina levou o dobro do tempo esperado. Após o início da construção em 2009, as duas unidades estavam inicialmente programadas para iniciar as operações em 2016 e 2017.
“Com o Vogtle-3 conectado à rede apenas no final de 2023 e o Vogtle-4 agora programado para o início de 2024, a construção levou 14 anos para ser concluída, o dobro do prazo inicial, resultando em um excesso de custo de US$ 17 bilhões em relação ao orçamento inicial de US$ 14 bilhões”, relata a agência.
Outro desafio é acesso a financiamento. O custo de capital inicial de uma usina é alto e só é amortizado ao longo de longos períodos, o que torna a lucratividade do projeto um ponto sensível.
Com taxas de juros mais altas, os atrasos na construção podem se tornar ainda mais custosos devido ao aumento do valor do tempo. A maior parte do risco está associada à fase de construção.
Pequenos reatores
Uma nova geração de Reatores Modulares (SMR) pretende enfrentar alguns desses desafios, ao empregar tecnologias modulares, que podem oferecer produção em série em fábrica, permitindo que o produto final seja enviado para o local.
O tamanho menor do projeto ajuda a facilitar o financiamento, pois os requisitos de capital são menores.
E, embora os SMRs estejam atraindo cada vez mais a atenção dos investidores, o desenvolvimento e implementação dessa tecnologia permanecem modestos, avalia a IEA.
Existem diversas tecnologias com diferentes casos de uso sendo desenvolvidas e operadas, desde microreatores com capacidades abaixo de 10 MW até reatores grandes de até 400 MW.
Atualmente, apenas dois China e Rússia operam SMRs, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Enquanto a Rússia opera uma instalação com capacidade de 70 MW, a China iniciou recentemente as operações comerciais da primeira unidade em Shidaowan, com capacidade de 200 MW. Os dois países combinados atualmente têm mais 425 MW em construção.
Além disso, a Argentina planeja conectar seu reator de teste Carem25 em 2027. A Agência de Energia Nuclear da OCDE (NEA) estima que a capacidade global de SMR atingirá 21 GW até 2035.