Diálogos da Transição

Geração a gás precisa ser eliminada até 2045 para limitar o aquecimento a 1,5°C, diz relatório

Um desafio e tanto, já que o gás está nos planos de muitas economias como combustível de transição

Geração a gás precisa ser eliminada até 2045 para limitar o aquecimento a 1,5°C, diz relatório. Na imagem, termelétrica Portocem, no Complexo do Pecém/CE (Foto: Divulgação)
Termelétrica Portocem, no Complexo do Pecém/CE (Foto: Divulgação)

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Diálogos da Transição

Editada por Nayara Machado
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A série de debates dos Diálogos da Transição volta em julho.
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Estudo da Climate Analytics aponta 2035 como prazo para que o gás natural deixe de ser fonte de eletricidade em países ricos e 2040 no resto do mundo, para viabilizar a meta de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até o fim do século. No mundo todo, o prazo final é 2045.

Um desafio e tanto. O gás está nos planos de muitas economias como combustível de transição. E a crise energética causada pela invasão da Rússia à Ucrânia tem levado a atrasos no corte de combustíveis fósseis.

Até mesmo o carvão — fonte de energia mais poluente — está ganhando um prazo extra.

No final do mês passado, o grupo dos sete países industrializados ocidentais (G7) voltou atrás na meta de eliminar o carvão até 2030. Em comunicado conjunto, países disseram que “se comprometem com o objetivo de alcançar setores de eletricidade predominantemente descarbonizados até 2035”.

Onde entra o gás nessa história? O combustível é visto como um substituto com papel importante na confiabilidade do sistema elétrico, complementando a intermitência das fontes renováveis.

Um problema é que, embora menos poluente, o gás também é um combustível fóssil. Outro é que as soluções de baixo carbono necessárias para sua substituição ainda não estão totalmente disponíveis.

“Nossa análise mostra muito claramente que o gás fóssil não pode ser um combustível de transição”, diz a autora principal Claire Fyson, que lidera a análise de caminhos de mitigação na Climate Analytics.

“A eliminação progressiva em todas as regiões é no máximo 5-10 anos depois do carvão, muito curto para que os investimentos na expansão do gás sejam economicamente justificáveis e não fiquem encalhados”.

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O relatório da Climate Analytics avalia a rapidez com que a geração de energia a gás fóssil deve ser eliminada em diferentes partes do mundo.

Os cenários foram desenvolvidos antes da invasão da Ucrânia pela Rússia e do recente aumento nos preços do petróleo e do gás. Mas os analistas afirmam que o cenário atual, de preocupações econômicas e de segurança energética, podem obrigar a uma redução mais rápida do gás em algumas regiões.

Principais conclusões:

  • Para chegar a um caminho compatível com 1,5°C do IPCC, a geração ininterrupta de energia a gás fóssil precisa ser efetivamente eliminada (com menos de 2,5% de participação de geração) até 2045 em todas regiões do mundo;

  • O declínio na geração de energia a gás fóssil deveria começar imediatamente em trajetórias de 1,5°C, cair para 15% da geração total global de eletricidade até 2030, e ficar abaixo de 10% até 2035;

  • A Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) é mais conservadora no seu cenário Zero Líquido, com a geração ininterrupta de energia a gás fóssil caindo para 17% da geração total em 2030 e sendo eliminada até 2050;

  • Os países ricos veem uma eliminação gradual do gás fóssil mais rápida, com a geração de energia a gás caindo abaixo de 10% da geração total de eletricidade até 2030, a ser efetivamente eliminada até 2035;

  • Para os países emergentes, o ritmo varia entre as regiões, mas, em média, a parcela de geração de energia a gás fóssil cai abaixo de 10% até 2035 e é eliminada até 2045 no cenário de 1,5°C.

  • Brasil é um dos países que está apostando no gás

    O Plano Decenal de Energia 2031 mostra que a contratação obrigatória de 8 GW de geração termelétrica incluída na lei de privatização da Eletrobras, além de sair mais cara, vai prejudicar a expansão de fontes renováveis, como eólica e solar.

    “O Brasil tem importado quantidades crescentes de gás natural liquefeito para queimar em termelétricas, particularmente em Sergipe e Rio de Janeiro”, explica Roberto Kishinami, coordenador do Portfólio de Energia Elétrica do iCS (Instituto Clima e Sociedade).

    O gás natural foi o 4º produto mais importado pelo país entre janeiro e abril de 2022. Na comparação com o mesmo período em 2021, houve um aumento de 11,6% nas importações de gás, enquanto o preço subiu 133,3%.

    Para Kishinami, expor o consumidor brasileiro às oscilações desta commodity por meio das contas de eletricidade é uma atitude que afronta o mercado doméstico e que prejudica a todos, “com maior peso à população de menor renda”.

    Alternativa ao gás e ao diesel

    Para o presidente da White Martins América Latina, Gilney Bastos, o hidrogênio verde pode competir com o diesel em veículos pesados no Brasil, principalmente em um cenário de sucessivas altas no valor do combustível fóssil, como vem ocorrendo.

    “As distâncias rodoviárias que se praticam aqui são prato cheio para investirmos em novas tecnologias de carga pesada”, avalia o Bastos em entrevista à agência epbr.

    Segundo ele, a concentração do transporte no modal rodoviário acentua a necessidade do país em buscar alternativas de abastecimento menos suscetíveis ao mercado internacional, como é o caso do diesel.

    A companhia, do grupo alemão Linde, é uma das maiores produtoras no Brasil de hidrogênio cinza — feito a partir de gás natural — e já possui memorandos de entendimento para produção de hidrogênio verde, feito a partir de eletrólise com energia elétrica renovável, no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Ceará.

    Paralelamente ao mercado doméstico, o executivo da White Martins também vê um grande potencial na exportação do hidrogênio verde para o mercado europeu. Por enquanto, todos os protocolos assinados pela empresa estão vinculados a regiões portuárias, como Pecém (CE), Açu (RJ) e Rio Grande (RS).

    Do biodiesel ao etanol

    A BSBIOS, uma das maiores produtoras de biodiesel do país, decidiu entrar no mercado de etanol com a instalação de uma usina de processamento de cereais de inverno no Rio Grande do Sul.

    Nesta segunda (20/6), o grupo assinou um protocolo de intenções com o governo do estado para incluir o projeto no programa Pró-Etanol do Rio Grande do Sul.

    Localizada em Passo Fundo (RS), onde a BSBIOS já opera uma usina de biodiesel, a nova unidade processará, quando totalmente instalada, 1.500 toneladas de cereais por dia para produzir 220 milhões de litros de etanol (anidro ou hidratado) e 155 milhões de toneladas por ano de farelo para a cadeia de proteína animal.

    A BSBIOS prevê investimento de R$ 316 milhões na primeira fase de implantação de unidade que processará milho, trigo, triticale, arroz, sorgo, dentre outros cereais. Os investimentos serão realizados no segundo trimestre de 2023, com previsão de início das operações no segundo semestre de 2024.

    Para a agenda

    20, 21 e 22 de junho — A SmartCities Mundi promove um congresso virtual sobre 100 iniciativas de cidades inteligentes e seu impacto socioeconômico e ambiental no mundo. As informações sobre painelistas e inscrições podem ser conferidas no site.

    22/6 — A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) sediará, na quarta, a terceira edição do Laboratório de Inovação Social em Bioplásticos: Oportunidades e barreiras em bioplásticos no Brasil. O evento é gratuito, das 13h30 às 18h30, em formato híbrido. Os interessados podem escolher entre a participação presencial, que ocorre no Auditório Mário Tolentino, localizado no Departamento de Química (DQ) da UFSCar, ou de forma remota, com transmissão ao vivo através da página da Eventbrite, onde as inscrições podem ser realizadas.

    22/6 — O Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura (FGV CERI) promove o webinar O Clima para Finanças Brasileiras na Transição Energética. O encontro discutirá como o sistema financeiro brasileiro está aproveitando oportunidades ligadas ao clima para alavancar negócios que geram empregos e riquezas. Transmissão ao vivo, às 14h, pelo canal da FGV no YouTube. As inscrições podem ser feitas acessando o link.

    23/6 — A ATM Digital, em parceria com a Stolthaven Santos, realizará uma conferência sobre logística verde no Brasil. O evento The First Brazil Green Logistics Summit abordará temas como sustentabilidade e logísticas focadas no hidrogênio verde. O evento terá início às 9h e os interessados podem se inscrever clicando aqui.