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Editada por André Ramalho
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PIPELINE Fornecedores privados direcionam cada vez mais gás para distribuidoras do Centro-Sul, na nova geografia da abertura do mercado brasileiro. Ano de 2024 marca o início da venda de gás da Shell, New Fortress e Compass para concessionárias do Sudeste e do Sul.
Eneva e Sergas encerram disputa sobre tarifa da UTE Porto de Sergipe. A agenda regulatória do gás em São Paulo e Paraná. Preços do GNL com viés de baixa em 2024 e mais. Confira:
O NOVO FLUXO DO GÁS NA ABERTURA DO MERCADO
Em 2024, ao menos três agentes privados – Shell, Compass e New Fortress (NFE) — passarão a fornecer gás natural a distribuidoras no Centro-Sul.
O movimento revela um novo fluxo no mercado brasileiro: concentrados num primeiro momento no Nordeste, os fornecedores privados direcionam cada vez mais seus portfólios para os grandes centros de consumo.
Levantamento da agência epbr, com base nos contratos públicos do mercado regulado, mostra que ao menos 5,2 milhões de m3/dia estão contratados pelas distribuidoras junto a fornecedores privados, em 2024, no Sul/Sudeste.
É pouco menos da metade dos volumes firmes sob contrato, hoje, fora do universo Petrobras, no mercado regulado – que, enquanto o mercado livre ainda não desabrocha, segue como principal destino do gás nacional.
A tendência é que o Centro-Sul se torne o principal destino do gás privado: quando se olha para o longo prazo, 90% do volume contratado pelas concessionárias estaduais em 2030, junto aos agentes privados, está no ES, MG, SP, SC e RS.
Uma nova geografia da abertura da indústria de gás, que viu o Nordeste – o primeiro grande laboratório dos novos entrantes – concentrar praticamente todos os contratos dos novos supridores na virada de 2021 para 2022.
Você viu por aqui os motivos do protagonismo nordestino na abertura, uma combinação entre diferentes fatores: a região abriga a maioria dos campos onshore vendidos pela Petrobras; a TAG saiu na frente da NTS, na oferta de contratos firmes de capacidade disponível; a migração da Unigel para o mercado livre; e o fato de a Petrobras ter decidido, em 2021, se retirar das chamadas públicas das distribuidoras locais.
Mas, aos poucos, o cenário começa a mudar: cinco das 11 distribuidoras do Centro-Sul conectadas à malha interligada já possuem contrato com algum fornecedor fora do universo Petrobras: Comgás (SP), ES Gás (ES), Gasmig (MG), SCGás (SC) e Sulgás (RS).
Desde o início de 2022, que marca o primeiro grande impulso do movimento de abertura do mercado, produtores de gás do Sudeste como Galp, Shell e 3R Petroleum passaram a buscar na região um destino para parte de seus volumes.
O Nordeste, vale dizer, ainda é o principal destino do gás privado. E é onde o mercado, de fato, se desconcentrou: todas as distribuidoras nordestinas conectadas à malha de transporte continuam com contratos com supridores privados.
Embora a Petrobras tenha voltado a participar das chamadas públicas na região de forma ativa em 2023, a estatal possui, hoje, menos de 30% do mercado regulado local.
A seguir, a gas week apresenta um raio-x dessa movimentação:
COMGÁS ANCORA MAIOR PARTE DO GÁS PRIVADO
A distribuidora paulista deu mais um passo na diversificação de seu portfólio de suprimento de gás, ao fechar em dezembro um contrato com a Shell na modalidade firme flexível.
O acordo prevê a entrega de 500 mil m3/dia – o equivalente a quase 4% do volume total contratado pela distribuidora, a maior compradora de gás do mercado brasileiro.
A Shell ajuda a ilustrar bem o movimento dos fornecedores privados: na sua estreia como comercializadora, começou vendendo para os dois maiores mercados do Nordeste – Copergás (PE) e Bahiagás (BA) – e, agora, começa a direcionar seu gás do pré-sal para as distribuidoras do Sudeste – além da UTE Marlim Azul e de mirar o mercado livre na região.
A Comgás também vive a expectativa de começar a receber, este ano, gás do Terminal de Regaseificação de São Paulo, que também pertence à Compass. A distribuidora tem um contrato para aquisição de 3,125 milhões de m3/dia firmes do TRSP, que estava previsto inicialmente para 2023, mas atrasou.
O terminal está conectado à concessão pelo gasoduto Subida da Serra, no centro de um impasse sobre sua classificação como transporte ou distribuição. O acordo entre a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Arsesp (o regulador paulista) e Comgás ainda está em discussão.
Com Shell e Compass, a concessionária de São Paulo entra em 2024 com um pouco mais de um quarto de seu volume de gás contratado com empresas fora do universo Petrobras. Até o fim do ano passado, a petroleira brasileira era a única fornecedora da distribuidora.
Já a Compass aposta no TRSP não só como uma fonte de gás para a Comgás. Vê na importação de GNL, a longo prazo, uma oportunidade de desenvolvimento de seu braço de comercialização, a Edge, de olho no mercado livre e GNL em pequena escala.
NFE PÕE OS PÉS NO SUL
Outra fornecedora a estrear na comercialização de gás no Centro Sul é a New Fortress Energy. A companhia informou que o navio regaseificador (FSRU) que vai operar no Terminal Gás Sul (TGS) chegou em Santa Catarina e está nas etapas finais de preparo para o comissionamento.
A NFE possui contrato com a SCGás (SC) para venda de 150 mil m3/dia.
Previsto inicialmente para 2022, o TGS conviveu com estouros no orçamento e no cronograma e atrasou. A empresa espera que o terminal esteja operacional no primeiro trimestre de 2024.
O contrato entre NFE e SCGás inclui cláusulas de ressarcimento por atrasos. As empresas não comentam sobre o assunto, por questões de confidencialidade.
QUEM VENDE PARA QUEM
Ao todo, cinco fornecedores privados possuem contratos de suprimento firmes com cinco distribuidoras das regiões Sul e Sudeste. Esses acordos somam 5,2 milhões de m3/dia em 2024:
- a 3R tem contrato para venda de 400 mil m3/dia firmes da produção de Peroá para a ES Gás até 2025;
- a Galp tem contratos de longo prazo com a ES Gás, Gasmig, SCGás e Sulgás que, juntos, somam compromissos firmes de 1,06 milhão de m3/dia este ano (a metade do volume da companhia sob contrato no mercado regulado);
- a Shell tem acordo com a Comgás para 2024, de 500 mil m3/dia na modalidade firme flexível;
- Compass tem contrato com a Comgás, para 3,125 milhões de m3/dia por dez anos;
- e a NFE tem acordo com a SCGás para 150 mil m3/dia, por cinco anos.
VEM MAIS AÍ?
A região Sudeste, a maior produtora de gás do país, deve ganhar a principal fonte de gás privado novo desta década: o projeto Raia, operado pela Equinor, deve disponibilizar no mercado 14 milhões de m3/dia a partir de 2028.
O novo campo cacifa a petroleira norueguesa – e sua sócia Repsol Sinopec, além da Petrobras – a se tornarem grandes fornecedoras num mercado que, até lá, espera-se que mais aberto.
As empresas ainda buscam opções de monetização desses volumes. Confiram que haverá demanda, com o declínio dos campos do pós-sal e das importações da Bolívia.
Também não dá para ignorar, nessa equação, a ascensão do biometano. A diversificação do portfólio de suprimento das distribuidoras passa hoje também pelas perspectivas de desenvolvimento do gás renovável – o que pode levar à entrada de novos agentes privados no fornecimento ao mercado regulado, sobretudo no Centro-Sul, onde o potencial é maior.
A Sulgás já tem contrato com a SebigasCótica – que se associou à gestora de investimentos alternativos eB Capital – para aquisição de 15 mil m3/dia, a partir do fim deste ano, da planta em construção em Triunfo (RS).
A Compagas lançou nesta semana uma nova chamada pública para receber propostas de aquisição de biometano. A distribuidora do Paraná espera avançar, assim, com o plano de expandir a participação do gás renovável em seu portfólio para algo entre 15% a 20% a partir de 2025.
O primeiro contrato, com fornecimento previsto para a partir de 2025, está em fase final de negociação e deve ser anunciado ainda este mês.
GÁS NA SEMANA
Eneva e Sergas encerram disputa. A Centrais Elétricas de Sergipe (Celse), da Eneva, terá de pagar entre R$ 5 milhões e R$ 12 milhões por ano à distribuidora, para encerrar uma disputa judicial sobre a movimentação do gás natural consumido pela UTE Porto de Sergipe.
Fusão 3R/PetroReconcavo? A Maha Energy, acionista relevante da 3R, propôs a incorporação de ativos onshore da empresa pela PetroReconcavo, numa operação que traria sinergias de US$ 1 bilhão. A ideia é que os campos terrestres na Bahia e no Rio Grande do Norte que pertenciam à Petrobras voltem a ser operados de forma única, mas agora pela PetroReconcavo – que nega haver qualquer negociação em andamento nesse sentido.
Arsesp define agenda para 2024. A agência reguladora do estado de São Paulo quer decidir este ano o que fazer com os efeitos da retirada do ICMS da base de cálculo de PIS/Cofins e os créditos tributários de quase R$ 2 bilhões, que propõe devolver integralmente aos consumidores paulistas de gás natural. Estes assuntos e outros estão na agenda regulatória 2024-2025, em consulta pública até 1º de fevereiro.
Mercado livre no Paraná. A Agepar pretende regulamentar este ano o mercado livre de gás no estado. O tema está incluído na agenda regulatória de 2024, que também prevê atualizar este ano as regras do serviço de distribuição.
Preços do GNL em queda. A Wood Mackenzie vê os preços globais da commodity em viés de baixa em 2024. Segundo a consultoria, os elevados níveis de armazenamento, juntamente com um Inverno ameno no Hemisfério Norte, farão com que os preços globais permaneçam relativamente fracos este ano, num contexto de procura global moderada.