RIO — A Petrobras encerrou as negociações com a Acron, empresa de fertilizantes com sede na Rússia, para venda da UNF-3, a planta de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. Em comunicado nesta quinta (28/4), disse que mudança proposta no projeto “impossibilitou determinadas aprovações governamentais”.
Segundo a Petrobras, a previsão é relançar a venda no início de junho.
O negócio havia sido antecipado em fevereiro pela ex-Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que deixou o cargo para concorrer ao Senado Federal.
A negociação pela UFN-3 foi cancelada “tendo em vista que o plano de negócios proposto pelo potencial comprador, em substituição ao projeto original, impossibilitou determinadas aprovações governamentais que eram necessárias para a continuidade da transação”, disse a Petrobras.
“Assim, a companhia está realizando os trâmites internos para encerramento do atual processo de venda e lançamento de um novo tão logo possível”.
O negócio era visto com ceticismo em razão da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Ao decidir pela invasão, que tem deixado um rastro de destruição, mortes e violências contra civis, a Rússia de Vladimir Putin passou a ser alvo de sanções, especialmente da União Europeia e dos EUA.
Jair Bolsonaro (PL), que prestou solidariedade a Putin em visita oficial a Moscou dias antes do início da guerra, preferiu adotar uma posição oficial de neutralidade.
A guerra provocou um choque na oferta de fertilizantes, elevando preços com impacto no agronegócio brasileiro, setor que Bolsonaro tenta manter bem próximo na corrida eleitoral deste ano.
O plano do governo federal para industrialização do setor e redução da dependência externa, contudo, não apresentou medidas de curto prazo, nem propostas de reforma, por exemplo, na tributação.
A senadora Simone Tebet (MDB/MS) chegou a criticar abertamente a venda da UFN-3 para a Acron. Afirmou que a venda deveria garantir a conclusão da fábrica e o aumento da industrialização no Brasil, e servir de um polo para recebimento de produtos importados.
“Essa fábrica está sendo vendida barato, está sendo vendida sem a cláusula exigindo que a compradora termine a fábrica de fertilizantes. E mais, a pergunta é: tem alguma cláusula ali dizendo que esses equipamentos, que são os mais modernos do mundo, não vão ser depois destruídos, desmontados e levados para a Rússia? Isso é crime de lesa-pátria”, disse.
Acron desistiu da UFN-3 após derrubada de Evo Morales
Em novembro de 2019, a Acron saiu das negociações para compra da fábrica de fertilizantes de Três Lagoas. Na mesma época, o então presidente da Bolívia, Evo Morales, escapava para o exílio após seu governo ser derrubado por uma aliança de militares e partidos conservadores.
As negociações em 2019 para a compra da UFN-III chegaram a envolver os governos de Vladimir Putin, da Rússia, que é sede da Acron, e o próprio Evo Morales, em viagem a Moscou, naquele ano. Foram fechados acordos bilaterais, incluindo o desenvolvimento de negócios no Brasil.
O grupo Acron chegou a firmar acordos com a YPFB, estatal da Bolívia, para comprar gás natural para abastecer a fábrica de fertilizantes nitrogenados.
Também foi feito um acordo com o governo do Mato Grosso do Sul para receber os mesmos incentivos fiscais destinados antes à Petrobras.
De lá para cá, o partido de Evo Morales voltou ao poder após a vitória de Luis Arce, um ano após a derrubada do governo.
Atualizado para incluir nova informação da Petrobras sobre reinício da venda em junho