RIO – A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou que o projeto de Sergipe Águas Profundas (SEAP) somente será viável se tiver mercado para o gás natural.
“Quando se fala de esforço legislativo, em construção de mercado de gás, em indústria gasífera, a gente tem que entender que os projetos de gás na verdade nascem como projetos de óleo. A maior parte, no Brasil, é de gás associado”, afirmou durante evento do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) no Rio de Janeiro nesta terça-feira (10/12).
A CEO reforçou que “ninguém faz plataforma para ter prejuízo”.
“Isso não tem nada a ver com chantagem, tem a ver com realidade de negócio”, acrescentou.
Sergipe é a principal nova fronteira de produção de gás do país. O projeto prevê um gasoduto, com capacidade para 18 milhões de m³/d de gás natural, que deve entrar em operação junto com duas plataformas.
Recentemente, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), tem ampliado a pressão por medidas de desconcentração no mercado de gás, o “gas release”, com medidas que afetam a estatal.
O tema chegou a ser incluído no relatório do projeto de lei do Programa da Aceleração da Transição Energética (Paten), no Senado, mas foi retirado da versão final.
Este mês, o ministro enviou um ofício à ANP pedindo que a agência priorize na agenda regulatória.
Em nota, a estatal complementou a fala da CEO e afirmou que o Paten endereça a necessidade da empresa para viabilizar economicamente os projetos.
Na semana passada, Chambriard afirmou à agência eixos que a companhia trabalha junto com o MME em prol do gás e do avanço do mercado livre no país.
“Com objetivo de acelerar a competitividade e aumentar o consumo, a estatal passou a conceder reduções de preço para as companhias que retiram mais de 60% do volume de gás contratado. Só este ano, esse esforço resultou na celebração de 43 aditivos contratuais com 13 distribuidoras, gerando reduções de preços de até 10%”, disse em nota enviada à redação.
Dificuldades para viabilizar SEAP
Em paralelo, a Petrobras tem enfrentado dificuldades para viabilizar a contratação das plataformas de SEAP, com tentativas de contratação há três anos, sem sucesso. A dificuldade de financiamento é uma das principais questões.
Uma nova licitação foi lançada em 30 de novembro, no modelo build, operate and transfer (BOT).
As duas plataformas previstas para o projeto terão capacidade de processar 120 mil barris/dia de petróleo cada e até 12 milhões de m³/d de gás natural, que será exportado diretamente para venda, sem necessidade de tratamento adicional em terra. A previsão é de entrada em operação da primeira unidade em 2030.
Industrial nacional
Chambriard disse ainda que a estatal está “profundamente comprometida” em contribuir para impulsionar a indústria nacional. Ela reafirmou o compromisso de que a empresa fará encomendas aos fornecedores brasileiros.
“Mas nós temos que ter bases competitivas e rentáveis. Ninguém está aqui falando que nós vamos ter prejuízo ou ter menos lucro. O patamar de lucro, de rentabilidade, da Petrobras vai ser respeitado, mas olhando para a indústria nacional”, afirmou.
Segundo a executiva, o fortalecimento da cadeia produtiva nacional ajuda a dar segurança à empresa.
“Garante proteção contra instabilidade geopolítica, contra instabilidade cambial, otimização de custos logísticos e garante, principalmente, segurança de entrega, de abastecimento dos insumos necessários”, disse.