Transporte de gás

Plano coordenado de gasodutos propõe 30 projetos; conheça cada um deles

Plano de longo prazo das transportadoras reúne desde projetos de interiorização da malha a intervenções de menor porte

Dutos da Unidade de processamento de gás natural (UPGN) de Guamaré/RN (Foto Giovanni Sérgio/Agência Petrobras)
Dutos da Unidade de processamento de gás natural (UPGN) de Guamaré/RN ( | Foto Giovanni Sérgio/Agência Petrobras

RIO — O 1º Plano Coordenado de Desenvolvimento do Sistema de Transporte de Gás Natural propõe, ao todo, 30 projetos na malha de gasodutos do país.

O planejamento de longo prazo reúne desde projetos de interiorização – levar gás ao Triângulo Mineiro é um deles – a intervenções de menor porte, como estações de compressão (Ecomps), loops (seções paralelas a gasodutos existentes) e conexões da malha a novas fontes de suprimento (como Raia e Sergipe Águas Profundas).

O plano (veja na íntegra, em .pdf) está em consulta pública até 18 de agosto.

Os investimentos, que somam R$ 37 bilhões em dez anos, ainda precisam passar pela aprovação da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e pela interação (e eventuais contestações) com o Conselho de Usuários.

O plano reúne projetos em diferentes estágios de maturidade – alguns deles estão em fase pré-conceitual e ainda precisam passar por chamadas públicas incrementais, para confirmação do interesse do mercado.

E há também projetos que concorrem entre si: como o Projeto Veredas e a Rota do Bode, da Transportadora Associada de Gás (TAG), no Nordeste; e o Gasog, da TAG, e o Gasinf, da Nova Transportadora do Sudeste (NTS), para conexão do Porto do Açu (RJ). 

O raio-x do Plano Coordenado

Os investimentos estão distribuídos entre cinco grandes eixos:

  • R$ 23,7 bilhões para atendimento a novos mercados;
  • R$ 10,2 bilhões para garantia de suprimento;
  • R$ 2,38 bilhões para integração de áreas de mercado;
  • R$ 982 milhões para conexão de novas fontes de suprimento;
  • R$ 7 milhões voltados à transição energética

Veja abaixo a lista de todos os projetos contemplados no Plano Coordenado por eixo:

Garantia de suprimento

  1. Corredor Pré-Sal Sul / NTS: Construção de 4 Ecomps e duplicação de 300 km de gasodutos, visando ampliar a capacidade de transferência de gás do Rio para São Paulo e para a malha da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), no Sul, de 15 milhões para 25 milhões de m³/dia. A NTS está propondo o faseamento dos investimentos, para mitigar o impacto tarifário;
  2. Nova Ecomp Japeri (RJ) / NTS: É uma primeira fase do projeto Corredor Pré-Sal e consiste na construção de uma estação de compressão com capacidade de 25 milhões de m³/dia e que permitirá aumentar a transferência de gás do Rio para SP e Sul, de 12,5 milhões para 20 milhões de m³/dia;
  3. Ampliação da ERP São José dos Campos (SP) / NTS: A obra na Estação Redutora de Pressão visa aumentar a capacidade de transferência para a Região Metropolitana de São Paulo, de 7 milhões para 13 milhões de m³/dia;
  4. Expansão do Trecho Sul do Gasbol / TBG: Instalação de duas novas Ecomps e a duplicação de um trecho de 90 km entre Siderópolis (SC) e Canoas (RS), resultando na possibilidade de oferta adicional de 900 mil m³/dia para SC e RS;
  5. Nova Ecomp Gaspar (SC) / TBG: Instalação de uma nova estação no trecho Araucária-Biguaçu do Gasbol permitirá remanejar capacidade entre zonas de saída (cerca de 400 mil m³/dia para SC e RS), sem aumento de capacidade no sistema;
  6. Reclassificação TRBA (BA) / TAG: A reclassificação do gasoduto integrante do Terminal de Regaseificação da Bahia, da Petrobras, como gasoduto de transporte, visa aumentar a flexibilidade da operação da malha;
  7. Ramal Pilar e PS Marechal Deodoro II (AL) / TAG: Construção de novo gasoduto e ponto de saída para remoção do bypass existente entre a produção da Origem Energia e a distribuição da Algás. É um reforço ao modelo do sistema integrado de transporte, defende a TAG.

Diversificação de Fontes de Suprimento

  1. SEAP (SE) / TAG: Novo ponto de conexão/gasoduto para conectar e receber a produção de gás do projeto Sergipe Águas Profundas;
  2. Raia (RJ) / NTS: construção de um Ponto de Recebimento em Macaé (RJ), para permitir injeção de até 16 milhões de m³/dia do campo operado pela Equinor na malha de transporte a partir de 2028;
  3. Conexão Terminal Sergipe / TAG: instalação de um Ponto de Recebimento e um Ponto de Entrega, incluindo sua interligação por meio de um gasoduto de 25 km entre a rede TAG e o terminal de regaseificação de Barra dos Coqueiros (SE). A conexão já foi feita – foi incluída no plano porque, na ocasião de sua elaboração, a obra estava em curso.

Integração de Áreas de Mercado

  1. Interligação Gascar x Gaspaj / NTS: ligação do único gasoduto da malha Sudeste que se encontra isolado do resto do sistema (o Gaspaj) permitirá o escoamento entre os dutos sem que haja necessidade de transferência de custódia para a TBG;
  2. Nova Ecomp Macaé (RJ) / NTS: visa a independência da interconexão NTS/TAG e aumento da flexibilidade das ofertas oriundas de ambos os sistemas;
  3. Nova Ecomp Itajuípe (BA) / TAG: visa aumentar a capacidade de transferência Rio-Nordeste, de 9,4 milhões para 12,4 milhões de m³/dia. Amplia a flexibilidade operacional e reduz a necessidade de contratação do serviço de congestionamento, segundo a transportadora;
  4. Nova Ecomp Cabo (PE) / TAG: relacionada ao Projeto Veredas, para ampliação de capacidade da malha integrada e atendimento a novas demandas e demandas existentes reprimidas pela atual restrição de capacidade da malha.

Atendimento a Novos Mercados

  1. Gasoduto Iacanga (SP) – Uberaba(MG) / TBG: Duto de 300 km visando o atendimento da região do Triângulo Mineiro, a partir da malha da TBG, para atender à demanda de um polo gás-químico com potencial de demanda de 6 milhões de m³/dia;
  2. Gasoduto Bragança Paulista (SP) – Extrema (MG) / NTS: construção de duto de 30 km, visando o atendimento do consumo industrial na cidade de Extrema (MG) e outras expansões da Gasmig;
  3. Gasinf (RJ) / NTS: construção do Gasoduto de Integração Norte Fluminense, um novo ramal bidirecional, de 105 Km, e capacidade inicial para 12 milhões de m³/dia, para ligação do Porto do Açu à malha da NTS. Possibilitará tanto o fluxo de entrada do GNL do terminal na malha integrada como o consumo de gás nacional no porto;
  4. Gasog (RJ) / TAG: construção de um novo ramal bidirecional, de 45 km, para ligação do Porto do Açu à malha da TAG. Visa atender consumo termelétrico e industrial do porto, além de conectar nova fonte de suprimento (o terminal de GNL do Açu);
  5. Ponto de Entrega GNC Japeri (RJ) / NTS: construção de um PE de gás natural comprimido, a pedido da Urca Gás, para atender à região por meio do transporte virtual. Permitirá a entrega de até 300 mil m³/dia;
  6. Gasoduto TBG-Curiúva (PR) / TBG: Projeto de 140 km visando o atendimento da região norte do Paraná, com potencial de consumo de 500 mil m³/dia;
  7. Novo Ponto de Saída Itagibá (BA) / TAG: visa atender ao consumo de mineradoras no município de Brumado (BA) e outras expansões da Bahiagás, de 700 mil m³/dia;
  8. Expansão Gasfor / TAG: loop de 300 km, relacionado ao Projeto Veredas, para ampliação de capacidade da malha integrada e atendimento a novas demandas na região, a depender do resultado de chamada pública incremental;
  9. Expansão Nordestão / TAG: loop de 450 km, relacionado ao Projeto Veredas, para ampliação de capacidade da malha integrada e atendimento a novas demandas na região, a depender do resultado de chamada pública incremental;
  10. Ampliação da Ecomp Aracati (CE) / TAG: relacionada ao Projeto Veredas, para aumento de capacidade da malha integrada e atendimento a novas demandas, a depender do resultado de chamada pública incremental;
  11. Ampliação da Ecomp Macaíba (RN) / TAG: relacionada ao Projeto Veredas, para aumento de capacidade da malha integrada e atendimento a novas demandas, a depender do resultado de chamada pública incremental;
  12. Ampliação da Ecomp Santa Rita (PE) / TAG: relacionada ao Projeto Veredas, para aumento de capacidade da malha integrada e atendimento a novas demandas, a depender do resultado de chamada pública incremental;
  13. Ampliação da Ecomp Pilar (AL) / TAG: relacionada ao Projeto Veredas, para aumento de capacidade da malha integrada e atendimento a novas demandas, a depender do resultado de chamada pública incremental;
  14. Rota do Bode / TAG: Gasoduto que liga Sergipe ao Ceará, pelo interior, para atender Petrolina (PE), Juazeiro do Norte (CE) e outras demandas na região a pedido das distribuidoras do Nordeste. A viabilização do investimento depende de resultado de chamada pública incremental e, a depender de configuração, pode ser uma possível alternativa às expansões do Nordestão e Gasfor;
  15. Novo Ponto de Saída Buriti (AM) / TAG: visa atender demandas da UTE Manaus I e dar maior flexibilidade operacional à Cigás.
Entenda a diferença entre os projetos Veredas e Rota do Bode

O Projeto Veredas visa a expansão da capacidade de transporte de gás no Nordeste, entre Pernambuco e Ceará, para atendimento do incremento de demanda das distribuidoras da região relatado no mapeamento de mercado realizado pela TAG em 2023. Os investimentos contemplam loops e a expansão de Ecomps existentes, a serem definidos conforme a demanda. O estudo está em fase conceitual, de definição do escopo, custo e prazo estimados. A ideia da TAG é fasear o investimento. 

Em fase de estudo, a Rota do Bode é uma solução para a interiorização do gás entre Sergipe e o Ceará apresentada pelas distribuidoras da região à TAG, para atendimento de polos de Petrolina, Araripina e Juazeiro do Norte. É uma alternativa ao Projeto Veredas com o atributo adicional da interiorização. A impossibilidade do faseamento, por outro lado, é um desafio.

Transição Energética e Biometano

  1. PR Japeri (RJ) /NTS: construção de um ponto de recebimento para injetar até 120 mil m³/dia de biometano na malha de transporte, a pedido da Urca Gás;
  2. PR Valparaíso (SP) /TBG: construção de um ponto de recebimento de até 200 mil m³/dia, para injetar biometano proveniente de usinas de açúcar e etanol no Gasbol.

Plano coordenado subsidiará EPE

Previsto na Lei do Gás de 2021, o plano coordenado é uma etapa do planejamento da expansão da malha de transporte. Cabe à ANP analisar e aprovar a proposta, após consulta pública.

O plano servirá como insumo ao Plano Nacional Integrado de Infraestruturas de Gás Natural, novidade trazida pelo decreto 12.153/2024 e em elaboração pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Em paralelo às discussões sobre o plano coordenado das transportadoras, a EPE tem promovido interações com a ANP e os transportadores.

Nem todos os projetos apresentados serão necessariamente incorporados ao Plano Nacional Integrado. A maior parte ainda se encontra em fase pré-conceitual e de baixa maturidade.

A expectativa é de que a consulta pública da ANP contribua para dar transparência e consolidar uma base técnica comum entre regulador, planejador e agentes de mercado.

Projetos mais maduros

Entre os projetos considerados mais maduros pelas transportadoras estão reforços à segurança do suprimento, com destaque para a construção de estações de compressão nas rotas da NTS (Japeri/RJ), TBG (Gaspar/SC) e TAG (Itajuípe/BA).

A Petrobras espera que a unidade de Japeri saia do papel o quanto antes.

A obra é a primeira parte do projeto Corredor Pré-sal, necessário para ampliar a capacidade de envio de gás do pré-sal do Rio de Janeiro para São Paulo, para compensar o declínio das importações bolivianas.

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