A Nova Transportadora do Sudeste (NTS) propôs ao mercado um novo investimento para ampliar a capacidade de transferência entre os sistemas do Sudeste e do Nordeste.
A ideia é instalar uma nova estação de compressão (Ecomp) em Macaé (RJ), o que permitiria ampliar a capacidade de interconexão com a malha da Transportadora Associada de Gás (TAG) dos atuais 5 milhões de m3/dia para 20 milhões de m3/dia.
O projeto se soma ao Corredor Pré-sal, dentro dos planos de ampliação e expansão da companhia para os próximos anos.
A NTS abriu uma consulta ao mercado, até 31/10, para validação das curvas atualizadas de oferta e demanda de gás que baseiam os novos investimentos.
O plano de investimentos da companhia propõe aumentar a capacidade de integração com as demais transportadoras:
- Numa ponta, com o Corredor Pré-sal, a integração com os gasodutos da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), no Centro-Sul;
- e, no outro extremo, com a Ecomp Macaé, a integração com a TAG, no Nordeste.
NTS defende impessoalidade do sistema
As redes da NTS e da TAG operam de maneira segregada – o Tecab, em Cabiúnas, está conectado a ambas as malhas e consegue exportar gás tanto para uma quanto para outra.
As duas transportadoras investiram na construção de uma interconexão entre as duas malhas de gasodutos, com capacidade para 5 milhões de m3/dia, mas ainda aguardam o aval da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para iniciar as operações de fato.
Ao justificar a Ecomp Macaé, a NTS pontua, no entanto, que, além de ampliar a capacidade restrita da interconexão construída, ainda é preciso investir para garantir a impessoalidade do sistema – já que a operação da interconexão é dependente do sistema de compressão do Rota 2, operado pela Petrobras.
A trasportadora alega que, com a estação, será possível flexibilizar o recebimento de gás novo de diferentes pontos de entrada na Estação Cabiúnas – caso do projeto de Raia (Equinor) e de uma eventual futura conexão do terminal de regaseificação do Porto do Açu na malha.
A NTS justifica que o projeto se torna ainda mais crucial com a entrada do projeto Sergipe Águas Profundas (SEAP), porque permitiria o escoamento do gás de Sergipe para o sistema integrado.
A companhia não é a única a propor um projeto para ampliar o intercâmbio entre as duas regiões. A Transportadora Associada de Gás (TAG) também tem um projeto para aumentar a capacidade do fluxo entre o Sudeste e o Nordeste: a Ecomp Itajuípe (BA).
A estação vai permitir a expansão da capacidade de escoamento do gasoduto do Cacimbas-Catu (Gascac), de 9,4 milhões de m³/dia para 12,4 milhões de m³/dia. A TAG aguarda o aval da ANP para dar continuidade ao projeto.
Corredor do Pré-Sal dividido em etapas
A NTS propôs também o faseamento do projeto Corredor Pré-sal – conjunto de novas ecomps e gasodutos para aumentar a capacidade de envio de gás do pré-sal, no Rio, para São Paulo e Sul.
A ideia é distribuir o investimento em três fases e, com isso, diluir o seu impacto tarifário e mitigar incertezas referentes à segunda fase de desengargalamento.
Os estudos da transportadora indicam que a partir de 2028 será necessária a ampliação da capacidade de envio de gás da malha da NTS para a TBG. Atualmente, o gargalo de transferência é de 15 milhões de m³/dia.
Além disso, há um gargalo entre São Paulo e o Rio de Janeiro que limita o escoamento das novas ofertas no Rio de Janeiro para São Paulo a 12,5 milhões de m³/dia.
O projeto da Ecomp Japeri possibilitaria aumentar o volume de transferência para 20 milhões de m³/dia. A estação é o ponto de partida do projeto, pois permite a postergação da necessidade de ampliação, de uma só vez, de todo o trecho de gasodutos.
Menos gás da Bolívia e mais pré-sal
O cenário de referência leva em conta o declínio da importação de gás boliviano e dos volumes entregues pela UTGCA, em Caraguatatuba (SP). Em compensação, haverá um aumento da oferta de gás nacional, na costa do Rio de Janeiro, com a entrada em operação da Rota 3, este ano, e do projeto Raia, da Equinor, em 2028.
Segundo a NTS, essa nova tendência demanda, portanto, investimentos para superar gargalos e ampliar a capacidade de envio de gás do Rio para São Paulo e para a malha da TBG – invertendo o sentido do fluxo. Historicamente a interconexão entre NTS e TBG funcionou no sentido do envio do gás da Bolívia para a NTS.
A NTS entende que ainda há grandes incertezas relacionadas à importação firme da Argentina e não considera as importações do país vizinho em suas contas.
A transportadora também não considera, em seus estudos, os impactos do Terminal de Regaseificação de GNL de São Paulo (TRSP) sobre a demanda.
Argumenta, nesse sentido, que pelo fato de o terminal da Edge (da Compass) estar desconectado do sistema de transporte, a malha da NTS cumpre um papel de “back-up” em caso de indisponibilidade da planta de GNL.
NTS estuda mais projetos
Fora o Corredor Pré-Sal e a Ecomp Macaé, a NTS também estuda potenciais projetos de expansão da malha para regiões ainda não atendidas.
É o caso do município de Extrema (MG), a pedido da Gasmig, e do Gasinf, gasoduto de conexão do terminal de GNL do Porto do Açu à malha da NTS.
A transportadora também avalia, a pedido da Urca Energia, a construção de um Ponto de Recebimento de biometano em Japeri, para a injeção de até 120 mil m³/dia do aterro de Seropédica (RJ) em 2026.
Transportadoras esperam destravar investimentos
Os novos projetos da NTS ainda precisam passar pelo aval da ANP — e pelo escrutínio do Conselho de Usuários.
A transportadora convive, hoje, com impasses no pedido de autorização para a Ecomp de Japeri.
As transportadoras depositam as expectativas de que o novo decreto da Lei do Gás ajude a destravar investimentos no setor.
O decreto muda os ritos para outorga de novos investimentos em infraestrutura de gás, ao instituir o Plano Nacional Integrado das Infraestruturas de Gás Natural e Biometano – que funcionará como principal referência para a ANP nas autorizações.
O decreto reforça a posição da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) no planejamento do setor. A estatal indicará as melhores alternativas de expansão das infraestruturas, analisadas de forma sistêmica.
A ANP ofertará, então, a outorga da autorização para as instalações previstas no Plano para os investidores interessados, por meio de processo seletivo público para escolha do projeto mais vantajoso, considerados os aspectos técnicos e econômicos.
O decreto abre espaço para exceções nesse rito. Um agente pode pedir autorização para um projeto não contemplado no plano, desde que ele tenha “compatibilidade com o planejamento setorial” e não prejudique o “uso eficiente e compartilhado das infraestruturas existentes”.
Em entrevista ao estúdio eixos, na ROG.e., a diretora de Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE, Heloísa Borges, defendeu que o Plano Integrado, bem como a criação do novo Comitê de Monitoramento do Setor de Gás Natural (CMSGN), não visam a usurpar competências da ANP – uma crítica presente no setor.
Ela afirmou que o espírito do decreto é somar esforços para agilizar os processos na ANP, por meio de uma articulação institucional.
“A ANP, no momento da autorização, muitas vezes não conseguia ou não enxergava de forma integrada esse desenvolvimento, porque as autorizações elas se davam em momentos distintos. Então a ideia é agora fazer o que é a expertise da EPE: analisar de forma integrada e com um olhar de médio e longo prazo, sem, é claro, adentrar na esfera regulatória da ANP”, disse, em referência aos objetivos do Plano.