PNIIGB

Novo Plano Integrado da EPE tem rota para Argentina e Triângulo Mineiro e foco em gargalos; conheça todos os projetos

Novo Plano Nacional Integrado da EPE reúne 13 projetos considerados prioritários para ampliar a oferta de gás natural e biometano, além de mitigar gargalos e expandir a malha integrada de gasodutos no país

RIO — O novo Plano Nacional Integrado das Infraestruturas de Gás Natural e Biometano (PNIIGB), colocado em consulta pública pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) nesta segunda-feira (29/9), reúne 13 projetos considerados prioritários para ampliar a oferta de gás natural e biometano, além de mitigar gargalos e expandir a malha integrada de gasodutos no país.

A lista inclui um novo gasoduto de escoamento; o avanço do Corredor Pré-Sal; a interiorização do gás para o Triângulo Mineiro; e a conclusão do projeto de integração com a Argentina via Uruguaiana (RS).

Além da instalação de dois hubs de biometano, como antecipou a diretora de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE, Heloísa Borges, ao videocast gas weekAssista na íntegra acima

Juntos, os projetos do PNIIGB totalizam R$ 42 bilhões em investimentos (leia na íntegra, em .pdf). 

A ideia é que o plano funcione como uma carteira de projetos que poderá ser ofertada pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) ao mercado, por meio de um processo seletivo público para outorga (entenda o que é o PNIIGB)

A EPE cita que foram priorizadas, no planejamento, as alternativas capazes de contribuir para a diversificação da oferta, a segurança de suprimento, a interiorização do gás e a integração do biometano à malha existente.

A seguir, a agência eixos resume os projetos contemplados no novo PNIIGB.

Integração com a Argentina

  • Conexão Brasil-Argentina: Gasoduto de quase 600 km de extensão e capacidade de 15 milhões de m³/dia ao longo de seu traçado, que visa conectar Uruguaiana (RS) a Triunfo (RS). Investimento estimado em R$ 8,9 bilhões.

Trata-se da conclusão do projeto original da Transportadora Sulbrasileira (TSB), dos anos 2000.

Em entrevista recente a videocast gas week, a diretora de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE, Heloísa Borges, antecipou que a integração Brasil-Argentina seria um dos eixos do PNIIGB e que o plano iria sugerir a rota atualmente “mais madura”. Assista na íntegra acima

A EPE defende que o aproveitamento do gás argentino permite não só elevar a segurança de fornecimento de gás natural no Brasil, através da diversificação das fontes de oferta, como permite um reforço na capacidade de entrega da infraestrutura existente na região Sul. 

A TSB, por sua vez, defende a ampliação do projeto original, como solução estruturante para o mercado brasileiro, e não só o Rio Grande do Sul, e avalia inclusive a mudança do traçado original. Assista na íntegra o sétimo episódio do videocast gas week, com o diretor-geral da TSB, Walter Farioli.

Rumo ao Triângulo Mineiro

  • Conexão Uberaba: Gasoduto de transporte para levar gás natural e biometano ao Triângulo Mineiro, a partir do Gasbol. Investimento estimado em R$ 3,145 bilhões

O PNIIGB se debruça sobre o gasoduto Iacanga (SP)-Uberaba (MG) – rota já estudada pela EPE em planos indicativos anteriores e sugerida pela TBG no Plano Coordenado. 

São cerca de 260 km de extensão e capacidade para 6 milhões de m³/dia.

Trata-se de uma rota alternativa ao traçado original do Brasil Central, que parte de São Carlos (SP) rumo a Brasília (DF), via Triângulo Mineiro. O projeto foi concebido nos anos 2000 pela TGBC, ligada ao empresário Carlos Suarez, mas que nunca saiu do papel. 

A EPE cita que o Brasil Central não foi incluído no PNIIGB porque se trata de um projeto já autorizado pela ANP no passado.

A estatal alega ainda que a rota via Iacanga visa o melhor aproveitamento do potencial de oferta de biometano da região Noroeste de São Paulo e o atendimento de novos munícipios desse estado que ainda não se encontram conectados à malha integrada de gasodutos.

E que a expansão rumo ao Distrito Federal ainda carece de  “maiores estudos de mapeamento da demanda e da oferta correspondente”. 

A interiorização do gás para o Triângulo Mineiro é uma promessa do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), que já sinalizou a intenção de destinar o gás da União até o polo gás-químico da região.

Ainda em Minas, a EPE indicou a construção de mais um gasoduto novo:

  • Conexão Extrema: Gasoduto Bragança Paulista (SP)–Extrema (MG), da Nova Transportadora do Sudeste (NTS). Estimado em R$ 200 milhões

Construção de duto de 30 km, visando o atendimento do consumo industrial na cidade de Extrema (MG) e outras expansões da Gasmig. 

EPE indica melhor alternativa no Açu

  • Conexão Porto do Açu: Gasoduto de transporte para conectar o complexo portuário, em São João da Barra (RJ), à malha integrada. 

A EPE recomenda a construção do Gasoduto dos Goytacazes (Gasog), da Transportadora Associada de Gás (TAG) como a alternativa de menor custo sistêmico, vis a vis o projeto do Gasoduto de Integração Norte Fluminense (Gasinf), da NTS.

O Gasog é estimado em R$ 1 bilhão, tem 45,5 km de extensão até o Gasoduto Cabiúnas-Vitória (Gascav) e foi projetado para movimentar até 12 milhões de m³/dia (podendo ser ampliado até 18 milhões de m³/dia no futuro). 

Já o Gasinf é estimado em R$ 1,9 bilhão previsto para o Gasinf, com 100 km de extensão. A NTS incluiu o projeto nos investimentos previstos para o ciclo 2026-2030, na revisão tarifária.

A EPE ressalva, porém, que, embora recomende o Gasog neste primeiro momento, o Gasinf “pode se tornar uma expansão do Gasog futuramente, ou se viabilizar pela decisão final de investimentos na UPGN do Porto do Açu”.

O Açu conta, hoje, com um parque termelétrico instalado de 3 GW e que tem como única fonte de suprimento o terminal de GNL da Gás Natural do Açu (GNA), além de projetos em estudo nas áreas de siderurgia e fertilizantes.

Gargalos de uma ponta a outra do sistema

O PNIIGB identifica necessidades de investimentos desde o Trecho Sul do Gasbol ao outro extremo da malha integrada, no Nordeste.

  • Corredor Pré-Sal Sul: composto pela duplicação de dois gasodutos (Gasjap e Gascar), duplicação de três Ecomps (Taubaté, Vale do Paraíba e Campos Elíseos) e uma nova Ecomp em Piracaia (SP). Investimento estimado em R$ 7,7 bilhões

Trata-se de um projeto da NTS para expansão da capacidade de escoamento entre os estados de Rio de Janeiro e São Paulo. 

A solução é necessária para aumentar o fluxo de gás processado entre as malhas da NTS e TBG, diante do declínio da oferta da Bolívia e da UTGCA (Caraguatatuba). 

O projeto da Ecomp Japeri, já com autorização de construção concedida pela ANP, contorna apenas uma parte das restrições na malha hoje, na avaliação da EPE. 

  • Duplicação do Trecho Sul do Gasbol: O projeto de duplicação de Siderópolis (SC) a Porto Alegre (RS), da TBG, busca ampliar a capacidade de atendimento de demandas da região Sul, além de permitir o escoamento de gás argentino que pode vir a ser importado via Uruguaiana (RS). Investimento estimado em R$ 2,9 bilhões.
  • Ecomp Itajuípe (BA): Trata-se de um projeto de uma nova estação de compressão no gasoduto Cacimbas-CAtu (Gascac), da TAG.  Investimento estimado em R$ 757 milhões

A ecomp permitirá acrescentar 3 milhões de m³/dia à capacidade de movimentação entre as regiões Sudeste e Nordeste, para 12,4 milhões de m³/dia.

O objetivo é eliminar uma restrição física na malha e que limita, na prática, o direcionamento do gás produzido no Sudeste ao Nordeste, em substituição ao GNL importado.

O Conselho de Usuários (CdU) prega cautela com a aprovação do projeto e pediu mais clareza sobre a sua necessidade.

O lançamento do PNIIGB acontece em paralelo à discussão sobre o 1º Plano Coordenado das transportadoras, que vem recebendo questionamentos sobre o impacto dos novos investimentos nas tarifas.

  • Projeto Veredas: expansão do trecho da malha integrada no Nordeste. O projeto da TAG tem característica modular e é dividido em três fases, compostas por expansões em Ecomps e em loops nos gasodutos existentes ao longo dos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

A EPE entende que, para o 1º ciclo do PNIIGB, a fase I do projeto seria a primeira etapa para garantir o atendimento do crescimento potencial da indústria dessa região, ficando as demais fases sujeitas à concretização da demanda.

Estimada em R$ 2,5 bilhões, a fase I consiste na duplicação de 85,5 km do gasoduto Nordestão entre Ipojuca (PE) e Igarassu (PE), o que poderia acrescentar uma capacidade de escoamento de até 4 milhões de m³/dia, no trecho de Pernambuco ao Ceará. A fase I conta, ainda, com a ampliação da Ecomp Pilar (AL).

Conexão do biometano

Conforme antecipado por Heloísa Borges ao videocast gas week, a primeira edição do PNIIGB recomenda a construção de dois hubs para injeção de biometano na malha de gasodutos de transporte de São Paulo e Paraná.

São eles:

  • Hub São Carlos: gasoduto Sertãozinho–São Carlos, com 99,5 km de extensão, vazão inicial de até 1 milhão de m³/dia e investimento estimado em R$ 135 milhões.
  • Hub Porecatu: construção de um ponto de recepção de biometano em Porecatu (PR) e construção de um gasoduto ligando-o a Bilac (SP), com 185 km de extensão e vazão inicial de 590 mil m³/dia. Investimento estimado em R$ 949 milhões.

Novas infraestruturas no pré-sal

Um dos principais destaques do PNIIGB é a construção de um novo gasoduto de escoamento para levar o gás de Bacalhau e Aram, no pré-sal da Bacia de Santos, até a costa, além de uma nova unidade de processamento para receber esse gás.

  • Gasoduto de escoamento Bacalhau/Aram–Cubatão: com 360 km de extensão, capacidade para 12,5 milhões de m³/dia e investimento estimado em R$ 5,06 bilhões
  • e a UPGN Cubatão: com capacidade para 12,5 milhões de m³/dia e capex de R$ 2,7 bilhões.

O Plano Nacional Integrado também destaca, como prioritária, a conexão de Gato do Mato (Orca), operado pela Shell, ao Rota 2, por meio de um tie-back.

  • Gato do Mato-Conexão Rota 2: tie-back de 24 km de extensão, com capacidade para 1,5 milhão de m³/dia e investimento estimado em R$ 529 milhões.

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