Armazenamento subterrâneo

Momento é favorável para projetos de estocagem de gás natural, defende GBS Storage

GBS amplia participação em Manati, de olho no potencial de conversão do campo em ativo de armazenamento

CEO da Gas Bridge Storage, Celso Silva (Foto: Divulgação)
CEO da Gas Bridge Storage, Celso Silva (Foto: Divulgação)

RIO – O momento da indústria de gás e energia no Brasil é favorável, hoje, ao desenvolvimento do negócio de armazenamento de gás natural, defende o CEO da GBS Storage, Celso Silva. 

O braço de estocagem de gás do grupo Lorinvest no Brasil assinou em março um contrato com a GeoPark para aquisição de uma participação adicional de 10% no campo de Manati, no litoral da Bahia, de olho no potencial de conversão do ativo num projeto de armazenagem subterrânea de gás ao fim de sua vida útil.

Em entrevista à agência eixos, Celso Silva conta que a companhia espera avançar, em breve, num entendimento com os demais sócios do campo sobre o futuro do campo.

A GBS Storage ficará com 20% de Manati, em sociedade com a Petrobras (a operadora com 35%) e a Brava Energia (45%).

“Por conta da evolução da matriz elétrica, está sendo requerida cada vez mais flexibilidade das termelétricas a gás no Brasil. Esse momento [para desenvolvimento de projetos de armazenamento] está muito próximo”, comenta o executivo.

Celso Silva destaca que o negócio de estocagem deixou de ser entendido como um serviço para balanço de flutuações sazonais de demanda e oferta – como historicamente se construiu no Hemisfério Norte – para se tornar uma fonte de serviços de flexibilidade de curto prazo que visa a facilitar relação entre supridor-demanda.

“O mercado começou a entender que é preciso alguma infraestrutura de midstream para fazer o balanço da oferta e demanda”, disse.

O presidente da GBS Storage acredita que o leilão de reserva de capacidade será um teste importante para a demanda pelo serviço de estocagem de gás, mas que projetos de armazenamento miram não só a demanda do setor elétrico; e tendem a atrair também agentes interessados em injetar gás do pré-sal associado ao petróleo ou, eventualmente, gás argentino de oportunidade.

“Concluímos que as comercializadoras de gás são os agentes que estão mais afeitos a tomar riscos para lidar com vários clientes [incluindo as térmicas]”, avalia.

Produção de Manati em fase final

O campo está parado desde março de 2024, quando foi interditado para manutenção, para atendimento a exigências da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). 

Celso Silva cita que Manati ainda deve produzir gás por mais algum tempo, antes de parar para uma eventual futura conversão.  

A expectativa, hoje, é que a vida útil econômica da produção de gás de Manati se encerre entre 2027 e 2028 – tempo suficiente para que, uma vez tomada a decisão sobre o projeto de armazenamento agora, o consórcio consiga encomendar os equipamentos necessários e obtenha a autorização da ANP para rodar o serviço.

Uma vez tomada a decisão de investimento na estocagem, o projeto de conversão é de rápida implementação, com execução em 12 a 18 meses até o início da prestação de serviços.

Celso Silva cita que Manati tem uma capacidade inicial de armazenamento estimada em 300 milhões de m3 de gás.

Desconto nas tarifas de transporte

O desenvolvimento do negócio de armazenamento de gás ainda dá seus primeiros passos no Brasil, com o projeto da Origem e da Transportadora Associada de Gás (TAG).

Falta definir, ainda, como esse serviço vai pagar as tarifas de transporte de gás. Celso Silva defende que o Brasil siga o modelo europeu e conceda descontos no acesso à malha de gasodutos pelas instalações de armazenamento.

O debate aberto pela ANP, para revisão da Resolução 15/2014 (critério para cálculo das tarifas de transporte de gás) desponta, nesse sentido, como uma oportunidade para discussão da criação de tarifas diferenciadas para algumas atividades (projetos de estocagem e termelétricas, por exemplo).

A ANP está consultando o mercado se devem ser aplicados descontos nas tarifas em pontos de entrada/saída a partir de/para as instalações de estocagem; e, se positivo, qual o patamar razoável para esse desconto.

GBS amplia presença em Manati

A conclusão da compra da participação da GeoPark pela GBS Storage ainda aguarda o aval da ANP e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) – e a expectativa é que isso ocorra no segundo trimestre.

A transação foi fechada por US$ 1 milhão (líquido de US$ 12 milhões de passivos relacionados a obrigações de descomissionamento ou abandono). O negócio também envolve ajustes de capital de giro e pagamentos contingentes com base no desempenho do campo ou sua potencial conversão para armazenamento de gás.

A entrada da GBS Storage em Manati  ocorreu em 2023, quando a companhia adquiriu da PRIO uma primeira fatia de 10% do campo. 

“A ideia, na ocasião, era fazer parte do jogo e entender melhor o campo”, afirma Silva.

Ele conta que a tese de investimento em armazenamento subterrâneo começou a ser desenvolvida pela Lorinvest em 2019.

Havia um entendimento, inicial, de que os campos de Merluza e Lagosta, no pós-sal da Bacia de Santos, pudessem ser convertidos, mas chegou-se à conclusão de que as características técnicas dos ativos não eram as ideias, apesar de a logística fazer sentido.

“Resolveu-se, então, investir em pesquisa em todos os campos no Brasil e chegou-se a uma conclusão, a partir de uma análise multicriterial que existiam cinco campos muito bons para executar esse serviço e que Manati, apesar de ser offshore, por ser em águas rasas e já ter uma infraestrutura pronta, era o mais adequado”

O campo de Manati começou a operar em 2007 e já foi um dos maiores produtores de gás natural não associado no Brasil, tendo produzido, no pico, 7 milhões de m3/dia.

Está localizado a 10 km da costa do município de Cairu, no sul da Bahia, em lâmina d’água entre 35 e 50 metros e conta com uma infraestrutura instalada: uma plataforma fixa; um gasoduto de 125 km e capacidade de 6 milhões de m3/dia; além de uma Estação de Tratamento de Gás e uma estação de compressão, no continente. 

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