Abertura ganha tração

Migração de indústrias para o mercado livre de gás bateu recorde em 2024

Ao menos 17 clientes fecharam contratos no mercado livre de gás este ano, triplicando o número de usuários livres no país

Linha de produção da indústria ceramista, com placas de cerâmica transportados sobre esteiras e roldanas (Foto Divulgação Anfacer)
Indústria ceramista concentrou maior parte dos novos clientes livres de gás em 2024 | Foto Divulgação Anfacer

RIO – A migração de indústrias para o mercado livre de gás natural bateu recorde em 2024: ao menos 17 consumidores assinaram contratos diretamente com seus supridores este ano, triplicando o número de clientes livres no país em relação a 2023.

De acordo com levantamento da agência eixos, com base em dados preliminares, seis desses contratos foram selados no quarto trimestre (alguns têm o início do suprimento previsto apenas para 2025).

Dentre as novidades, destaque para o aumento da presença da indústria ceramista: Viva Pisos e Revestimentos e Cerâmica Alfagres fecharam contratos com a MGás; e a Cerâmica Capri fechou com a Eneva.

Além disso, a Carmelo Fior, que já havia estreado como cliente livre este ano em São Paulo, fechou novos acordos de suprimento para outras empresas do grupo (Serra Azul e Pisoforte). 

Os últimos meses também marcaram a entrada da indústria de vidros no mercado livre, com a Saint Gobain e AGC Vidros, ambas novas clientes da Edge.

E também da indústria de alimentos, com a M. Dias Branco, dona da marca Piraquê, que fechou com a Galp.

Quem é quem

Veja a seguir a relação dos 24 clientes industriais com contratos no mercado livre:

  • Proquigel: entrou em 2021 no mercado livre e mantém um contrato de longo prazo com a Petrobras, embora as fábricas de fertilizantes do grupo estejam paralisadas neste momento;
  • Gerdau: estreou em 2021 e mantém contratos com a Petrobras para suprimento de diferentes unidades de produção;
  • Refinaria de Mataripe: entrou em 2021 e mantém contratos com Galp, Petrobras e Shell;
  • Refinaria de Manaus: estreou em 2022 e mantém contrato com Petrobras;
  • ArcelorMittal: entrou em 2023 e possui, hoje, contrato com a Petrobras;
  • Vale: estreou em 2023 e vem ampliando, desde então, sua presença no mercado livre; para 2025, fechou contratos com Eneva, Origem e Edge;
  • Samarco: entrou em 2023 e mantém contrato com a Vibra;
  • Alunorte: passou a consumir em 2024 gás da New Fortress Energy;
  • Biancogres: entrou no mercado livre em 2024 e mantém contrato com a Shell;
  • Delta Cerâmica: estreou em 2024, com gás da Edge;
  • CSN: entrou em 2024, com diferentes supridores, e mantém contrato de longo prazo com Petrobras; 
  • Carmelo Fior: assinou em 2024 seu 1º contrato com a Edge e, mais recentemente, fechou também com a MGás e Brava Energia para suprimento de outras empresas do grupo, como Pisoforte e Serra Azul;
  • Lef Cerâmica: estreou em 2024, com gás da Edge;
  • Suzano: passou a comprar gás da Shell em 2024;
  • Cedasa: assinou em 2024 seu 1º contrato com a Edge;
  • Incopisos: estreou este ano, com a Edge;
  • Ternium: entrou no mercado livre em 2024, ao assinar contrato com Petrobras;
  • Cerâmica Alfagrês: assinou em 2024 seu primeiro contrato com a MGás;
  • Viva Pisos e Revestimentos: assinou em 2024 seu 1º contrato com a MGás;
  • M. Dias Branco: a dona da marca Piraquê assinou em 2024 seu 1º contrato no mercado livre com a Galp;
  • AGC Vidros do Brasil: assinou em 2024 seu 1º contrato no mercado livre com a Edge;
  • Cerâmica Capri: assinou recentemente o seu 1º contrato com a Eneva e vai migrar para o mercado livre em 2025;
  • Saint Gobain: assinou em 2024 um contrato com a Edge e vai migrar para o mercado livre a partir de janeiro de 2025;
  • Braskem: vai migrar sua primeira unidade para o mercado livre em 2025 e já tem molécula assegurada pela Voqen, seu braço de comercialização.

O levantamento toma como base os dados públicos da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), atualizados até outubro; e com o banco de dados de apuração própria da agência eixos.

Um breve histórico

O primeiro contrato do mercado livre de gás remonta ao fim dos anos 2000, entre a Petrobras e Furnas, no setor termelétrico.

Foi só em 2021 que as primeiras indústrias se aventuraram a entrar no ambiente livre, na esteira da abertura do setor de gás natural.

Na ocasião, a Proquigel (empresa do grupo Unigel que opera as fábricas de fertilizantes de Sergipe e Bahia), Gerdau e a Refinaria de Mataripe se lançaram no mercado livre.

Três anos depois, em 2024, o mercado livre começa a ganhar tração. O crescimento ocorre num momento em que novos supridores privados começam a operar – em especial as comercializadoras independentes, como a Edge e MGás.

A chegada de competidores fez a Petrobras se mexer. A estatal começou a perder fatia de mercado e lançou este ano uma nova política de preços que passou a oferecer produtos mais customizados – e competitivos – no mercado livre.

A migração de indústrias para o mercado livre têm levado a ajustes no mercado cativo e exigido das distribuidoras soluções mais flexíveis.

Concessionárias como CEG (RJ), Comgás (SP) e ES Gás (ES) já acionaram as cláusulas de redução da quantidade diária contratada com a Petrobras.

Em geral, os contratos de suprimento da estatal permitem, via aditivos, a redução dos volumes contratados pelas concessionárias estaduais em casos de perda de clientes para o mercado livre.

A geografia da abertura

Os primeiros contratos do mercado livre de gás se deram em praças como Sergipe e Bahia, onde estão as fafens operadas pela Proquigel, além de Minas Gerais e Espírito Santo.

O ano de 2024 marca, no entanto, o início do mercado livre dos dois principais centros consumidores da molécula no país: São Paulo e Rio de Janeiro.

No mercado paulista, o principal driver tem sido a entrada em operação do Terminal de Regaseificação de São Paulo (TRSP) e início das atividades da Edge.

Já no Rio, a abertura reflete um conjunto de fatores, como a aprovação do novo modelo de CUSD – o contrato assinado entre usuários livres e a concessionária estadual de gás canalizado pelo uso da rede. 

E a própria relação de competitividade do gás no estado. A migração para o mercado livre depende, ao fim, da estratégia (e apetite ao risco) de cada indústria e da realidade local. E em estados como o Rio, onde o custo de aquisição de gás da Naturgy é menos competitivo que a média nacional, a migração pode fazer mais sentido.

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