Gás natural na cogeração de energia

Integração estadual e depreciação de ativos de gás devem beneficiar cogeração, diz Cogen

Segundo executivo, altas tarifas prejudicam competitividade da cogeração a gás natural

Cogeração renovável a partir de biomassa pode ganhar metodologia para emissão de créditos de carbono no Brasil. Na imagem: Newton Duarte, presidente executivo da Cogen (Foto: Divulgação)
Newton Duarte é presidente executivo da Cogen (Foto: Divulgação)

BRASÍLIA – O presidente executivo da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), Newton Duarte, defende que as agências estaduais desenvolvam regulamentações que possibilitem uma integração maior entre as companhias distribuidoras de gás natural.

Na esfera federal, ele aponta que a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) deve avançar nas tratativas com as transportadoras que já tenham seus ativos parcialmente ou totalmente depreciados para redução das taxas de transporte.

Em entrevista à agência eixos, Duarte avalia que as altas tarifas prejudicam a competitividade e compara o preço praticado no Brasil.

“Mesmo que a molécula custasse zero, ainda assim o gás seria mais caro para qualquer consumidor brasileiro do que o gás americano, pagando a molécula, o transporte e a distribuidora”.

No início de abril, a Cogen organizou em Salvador (BA) um evento para discutir desafios e oportunidades para o mercado de cogeração de energia.

Para Duarte, a Bahia é um exemplo de como a produção independente e o gás onshore podem ser mais competitivos do que no maior estado produtor, o Rio de Janeiro.

“A Bahiagás fornece um gás a mais ou menos US$ 11 o milhão de BTU, contra valores que ficam entre US$ 14 e US$ 18, por exemplo, no Rio de Janeiro. Nós temos [gás] extremamente competitivo na Bahia, o que certamente dotará o estado de uma série de projetos de cogeração, com uma condição muito vantajosa do ponto de vista da energia térmica e a energia elétrica associada”, explica.

Estabilidade do sistema

Projetos de cogeração proporcionam segurança, resiliência e confiabilidade ao sistema, tudo de maneira off-grid, afirma o presidente da Cogen.

“Para o consumo de um hospital, hotel, data center ou mesmo de um centro comercial, temos condições de prover essa confiabilidade”, exemplifica.

O mesmo não ocorre para sistemas dependentes de diesel. Segundo Duarte, o combustível líquido é mais caro, mais poluente, emite particulados na atmosfera e enfrenta dificuldades de armazenamento e disponibilidade.

“Os sistemas a diesel são ruins, primeiro, porque são caros; segundo, porque você não pode armazenar muito, porque estraga; e terceiro porque, quando você precisa de muito diesel, porque acabou a luz, é você e todo mundo sem luz. Então todos foram atrás do diesel e você não consegue comprar”, detalha.

Em projetos a gás natural, o sistema de cogeração é o principal fornecedor de energia elétrica e térmica, para aquecimento da água e uso de ar-condicionado, por exemplo, ficando a alimentação da concessionária de energia como um backup.

“Se um motor a gás gera energia elétrica, ele vai ter uma eficiência de 40% a 44%. Se a gente consegue cogerar energia elétrica e térmica da mesma molécula de gás, a eficiência supera 90%”, afirma.

Nos últimos vinte anos, o país quase triplicou a capacidade instalada de cogeração, passando de 7,4 GW para 21,7 GW. O bagaço de cana-de-açúcar (12,94GW) e o licor negro (3,83Gw) – resultado de processos industriais da celulose – são responsáveis pela maior parte dessa energia. Em terceiro lugar fica o gás natural (3,15 GW), seguido da madeira (1,15 GW), biogás (395 MW) e outros (267 MW).

Internalização do gás

Para o presidente da Bahiagás, Luiz Gavazza, é preciso mais investimentos em gasodutos de para desenvolver esse mercado.

“Os nossos gasodutos de transporte ainda estão muito pelo litoral. O presidente do Conselho de Administração da Bahiagás, Marcos Cavalcante, gosta de provocar a gente que em termos de gasodutos de transporte, a gente ainda está na época das capitanias hereditárias. Precisamos dos bandeirantes para internalizar o gás”, compara.

Quanto aos gasodutos de distribuição, Gavazza disse que a infraestrutura dobrou nos últimos 24 anos e que os investimentos continuam. Ele cita o desenvolvimento de gasoduto de 366 quilômetros, que irá levar o gás de Itagibá a Brumado, ambos municípios baianos.

“Ou seja, é o projeto Gás Sudoeste sendo ampliado. Então, a distribuição trabalha tanto com essa vertente de ampliar seus investimentos na expansão da infraestrutura, como também de descobrir essas alternativas para ter o gás em regiões remotas em relação à redistribuição”, pontua.

De acordo com o CEO da empresa, é necessário contratar capacidade de saída da transportadora – no caso, a TAG. A medida permitiu levar um gás mais barato para um nicho de clientes mais próximos. A Bahiagás atualmente conta com 12 supridores.

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