LRCAP 2025

Energia Pecém tentará destravar projeto de conversão de térmica a carvão para gás no leilão de reserva

Empresa pretende participar do LRCAP com térmica existente de 720 MW, convertida, mais projeto greenfield de 1,3 GW

Sócio-fundador da Mercurio Partners, Alexandre Americano [na imagem], acredita que o leilão de junho será concorrido (Foto Divulgação)
Sócio-fundador da Mercurio Partners, Alexandre Americano, acredita que o leilão de junho será concorrido (Foto Divulgação)

RIO – A Energia Pecém, controlada pela Mercurio Partners, mira o Leilão de Reserva de Capacidade de junho como uma oportunidade para avançar com seu plano de converter sua usina no Porto do Pecém (CE), que hoje opera a carvão mineral, para gás natural

A termelétrica, de 720 MW, tem contrato no mercado regulado até 2027. 

A intenção da companhia é participar do leilão com a capacidade existente, convertida, e com um projeto greenfield, de 1,3 GW de expansão, que já nasceria a gás natural.

Sócio-fundador da Mercurio Partners, Alexandre Americano, acredita que o leilão de junho será marcado por uma forte concorrência, sobretudo entre térmicas novas: “Acho que vai ter jogo”.

As térmicas existentes e as ampliações de hidrelétricas tendem a sair em vantagem, segundo ele.

“No meio do caminho aí tem uma quantidade [de térmicas novas] que os mais competitivos vão acabar mordendo”, completou.

Americano conta que a alta da taxa de juros torna o cenário para projetos greenfield mais desafiador.

“Uma coisa é uma recontratação [de térmicas existentes], trocar uma peça ou outra. Para um projeto novo de bilhão [de investimento] tem que ter um retorno adequado”. 

Mercado aquecido

O CEO da Energia Pecém, Carlos Baldi, pontua que, tecnicamente, a conversão da térmica a carvão para gás, em si, não será um desafio. 

Ele explica que o processo exige adaptações na caldeira, mas que o projeto aproveita muito da usina atual (como as turbinas a vapor e as infraestruturas de transmissão e portuária) e é, por isso, competitivo.

“A intervenção que temos que fazer para a conversão é mínima”, afirma.

O grande desafio para a implementação de projetos novos, segundo Americano, é o cenário de restrição na cadeia de fornecedores de equipamentos no mercado global, como turbinas, motores e transformadores.

“O mercado inteiro está passando por isso. Está todo mundo disputando maquinário e o Brasil disputando com o mundo… Talvez esse seja o maior desafio desse leilão”.

“Não para [os projetos que começam em] 2030, mas para 2028 e 2029”, disse.

Projeto pode reativar GNL no Ceará

O suprimento da usina virá da importação de gás natural liquefeito (GNL). O projeto prevê a reativação da capacidade de regaseificação no Porto do Pecém.

GInaugurado em 2008, o terminal de GNL da Petrobras no Pecém – a primeira do tipo no país – foi descontinuada no fim de 2023

Havia a expectativa de que o projeto da UTE Portocem reativasse a capacidade de importação de GNL do porto, mas os planos perderam sentido com a venda do contrato da usina para a New Fortress e transferência do ativo para Barcarena (PA).

Americano acredita que a localização da térmica, no Porto do Pecém, facilita o acesso às fontes de GNL dos Estados Unidos, o principal exportador global.

A expectativa é que o terminal de GNL, uma vez ancorado na demanda das usinas do Pecém, possa no futuro abastecer um mercado mais amplo – como a demanda siderúrgica potencial no porto e a expansão do parque termelétrico de outros estados. 

O terminal de GNL do Pecém fica na extremidade norte da rede de gasodutos da Transportadora Associada de Gás (TAG). É onde a malha integrada do país acaba, no Nordeste.

Hoje, existe um gargalo nos gasodutos Nordestão e Gasfor, no Ceará, o que torna o terminal do Pecém um ponto estratégico para expansão da malha de gasodutos para outros estados da região, como Maranhão e Piauí. 

“É o último ponto da rede. Se for construir um gasoduto para lá, vai ser dali o ponto ótimo teoricamente”, disse.

Mercurio de volta à comercialização de gás 

Ele conta que o desafio de gerir o suprimento de gás a uma usina 100% flexível, como previsto no leilão de junho, impõe desafios. Por isso, a Mercurio decidiu entrar na comercialização de gás natural.

A companhia criou a MGás e, em 2024, decidiu vender o ativo para o grupo J&F

“Precisávamos de um produto 100% eficiente de gás, precisávamos entender esse produto e montamos uma comercializadora para fazer isso. Acabou que o negócio acelerou e decidimos vender o portfólio”, comentou Americano.

A Mercurio se prepara, agora, para voltar à comercialização. A empresa criou a Júpiter Gás Natural, que obteve autorização este mês da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para atuar como carregadora e importar GNL via Pecém e Suape (PE).

“A gente olha oportunidades de trade no gasoduto mesmo, de fazer operação de balanceamento: comprar aqui e vender ali”, disse.

Inscreva-se em nossas newsletters

Fique bem-informado sobre energia todos os dias