Opinião

Fracking no Brasil: ciência, regulação e oportunidade

Defender o debate qualificado sobre o fracking não significa propor sua adoção imediata ou irrestrita, mas reconhecer que o país já conta com instrumentos regulatórios maduros, escreve Lucas Mota de Lima

Lucas Mota de Lima, gerente executivo da ABPIP (Foto Divulgação)
Lucas Mota de Lima, gerente executivo da ABPIP (Foto Divulgação)

O debate sobre a utilização do fraturamento hidráulico, o chamado fracking, para a produção de petróleo e gás em reservatórios não convencionais tem ganhado espaço no Brasil.

É um tema que desperta dúvidas legítimas, mas que precisa ser enfrentado com base em ciência, experiência internacional e no sólido arcabouço regulatório de que o país dispõe.

O fracking não é uma técnica experimental. Desde 1947, já foi aplicada em centenas de milhares de poços ao redor do mundo, sob rigoroso monitoramento e com resultados expressivos em países como Estados Unidos, Argentina e China.

A tecnologia é segura, operando sob controle em tempo real e apoiada em sistemas avançados de integridade de poços, isolamento de aquíferos e licenciamento ambiental.

É importante destacar que a licitação de blocos exploratórios não significa autorização para produzir ou empregar qualquer técnica. Nessa fase, busca-se apenas o conhecimento geológico da área, sem a garantia sequer da existência de uma jazida economicamente viável.

Apenas em etapas posteriores, mediante aprovação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e dos órgãos ambientais, é que se avalia a adoção do fraturamento hidráulico. No Brasil, portanto, não há espaço para liberações automáticas ou irrestritas: cada caso passa por detalhado escrutínio técnico e legal.

A experiência internacional demonstra que o fracking pode desempenhar papel relevante na renovação de reservas, na redução da dependência externa e na interiorização do desenvolvimento econômico.

Em bacias como Recôncavo e Parnaíba, a técnica poderia revitalizar campos históricos, aproveitando infraestrutura já existente e reduzindo a necessidade de abrir novas fronteiras exploratórias em áreas ambientalmente sensíveis.

Além disso, a maior oferta de gás natural — combustível de transição reconhecido inclusive pela COP28 — teria impacto direto na competitividade do setor produtivo e na segurança energética do país.

O consumo de água, um dos pontos mais citados no debate, é limitado e regulado em múltiplas instâncias. Parte do volume retorna à superfície e pode ser tratada e reutilizada, reduzindo significativamente a demanda líquida.

Estudos internacionais demonstram que a participação do fraturamento no uso total da água é mínima, inferior a 1% mesmo em regiões de intensa atividade.

O Brasil dispõe de reservas estimadas em 16 trilhões de m³ de gás não convencional, frente a apenas 1,9 trilhão de m³ nas reservas atuais de origem convencional.

A diferença entre aproveitar ou não esse potencial pode significar empregos, renda, arrecadação e o fortalecimento de setores como o agronegócio, que depende do gás natural tanto para a produção de fertilizantes quanto como alternativa ao diesel.

Defender o debate qualificado sobre o fracking não significa propor sua adoção imediata ou irrestrita, mas reconhecer que o país já conta com instrumentos regulatórios maduros e com instituições capazes de avaliar riscos e benefícios com segurança e responsabilidade.

A ABPIP acredita que a ciência, a regulação e a responsabilidade devem nortear as decisões, garantindo que o Brasil possa aproveitar seus recursos de forma sustentável e segura, em benefício da sociedade.


Lucas Mota de Lima é Gerente Executivo Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás Natural (ABPIP).

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