Gás Natural

Blueshift mira gás da Argentina, para distribuição de GNL no Sul do Brasil

Empresa negocia parceria com produtor argentino para projeto de liquefação de pequena escala no país vizinho

Blueshift mira gás da Argentina, para distribuição de GNL no Sul do Brasil. Na imagem, distribuição de GNL de pequena escala (Foto: Galileo/Divulgação)
Distribuição de GNL de pequena escala (Foto: Galileo/Divulgação)

RIO — A Blueshift, empresa brasileira que atua na importação e comercialização de gás natural, pretende fechar ainda este ano uma parceria com um produtor argentino para a construção de uma planta de liquefação no país vizinho. O plano da companhia é iniciar em 2024 a atividade de distribuição de gás natural liquefeito (GNL) de pequena escala, na região Sul do Brasil.

O foco da companhia está em indústrias situadas fora da rede de distribuição de gás das concessionárias locais. O investimento inicial será de cerca de US$ 6,5 milhões, num projeto com capacidade para distribuir 40 mil m³/dia, mas que pode ser escalonado, no futuro, para até 200 mil m³/dia, em módulos.

Liquefazer para depois transportar o GNL via carretas. O plano se assemelha ao modelo de comercialização do gás da Eneva no Parnaíba.

Em paralelo, a empresa entrou, na Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com pedido de autorização para importar 300 mil m³/dia de gás da Bolívia por meio do gasoduto Gasbol. Mira oportunidades de comercialização no mercado livre, a partir de 2023.

A Blueshift é o braço de investimentos em gás do empreendedor Luciano Quadros — engenheiro com passagens por Odebrecht e Camargo Corrêa. O empresário também atua na geração de energia. É sócio da Beta Produtora de Energia, que está construindo uma termelétrica a gás em Trombudo Central (SC).

Térmica em SC vai consumir GNL da Flórida

A UTE Trombudo (28 MW) foi contratada no Leilão de Reserva de Capacidade de dezembro de 2021 e está prevista para 2025.

O gás da térmica virá dos Estados Unidos. A Blueshift tem contrato de longo prazo com a Eagle LNG Partners — assinado antes da guerra da Ucrânia — para compra de GNL a granel.

O produto é fornecido via contêineres criogênicos diretamente de JacksonVille, na Flórida. No Brasil, desembarca no Porto de Itapuá e segue via carretas para a usina.

A companhia mantém conversas com fornecedores, na tentativa de antecipar a operação da termelétrica para 2023.

Blueshift vê demanda reprimida no Sul

O fundador e CEO da Blueshift, Luciano Quadros, conta que a experiência na importação de GNL dos Estados Unidos foi o ponto de partida para que a companhia decidisse apostar na importação de gás de outras fontes, para comercialização no Brasil.

Segundo o empresário, as conversas com o potencial parceiro argentino estão em andamento e devem ser concretizadas até o fim do ano.

A ideia é que a Blueshift assuma os aportes de construção da planta de liquefação e que o sócio se encarregue das atividades de tratamento do gás — associado ao petróleo e, atualmente, reinjetado.

Quadros cita a demanda reprimida por gás no Sul, em função das limitações de capacidade do Gasbol, como uma oportunidade.

“Consumidor tem. A demanda por gás nas indústrias do Sul é muito grande”, comenta.

O executivo afirma que a intenção é oferecer contratos de gás com preços indexados ao Henry & Hub.

Empresa crê em boom das comercializadoras

Já a estratégia para monetização do gás da Bolívia se baseia na comercialização para clientes das distribuidoras interessados em migrar para o mercado livre.

“Alguns clientes, que hoje estão conectados às redes das distribuidoras, estão fazendo os primeiros contatos para receber as propostas no mercado livre… Acredito que o mercado de comercialização de gás no Brasil vai começar tímido, mas que em quatro a cinco anos vai tomar uma rota de crescimento”, disse.

Quadros afirma, contudo, que a Blueshift ainda não tem contrato para aquisição do gás boliviano.

Empresas como Tradener e CDGN possuem, hoje, contratos com a estatal boliviana YPFB para importar gás na modalidade interruptível e também miram o potencial de desenvolvimento futuro do mercado livre na região Sul.