CUBATÃO – A Yara começou a produzir amônia renovável no Brasil nesta sexta-feira (6/12), utilizando biometano em seu Complexo Industrial de Cubatão (SP). Segundo a empresa, a iniciativa reduz em 75% a pegada de carbono em comparação à amônia produzida a partir de gás natural.
O contrato com a Raízen prevê o fornecimento de cerca de 20 mil metros cúbicos por dia de biometano, produzido na sua unidade em Piracicaba (SP), a partir de resíduos da cana-de-açúcar, como vinhaça e torta de filtro. O biogás é distribuído pela rede da Comgás para a planta da Yara.
Segundo Daniel Hubner, vice-presidente de Soluções Industriais da Yara International, esse volume representa em torno de 5% do total de gás natural consumido pela fábrica em Cubatão, e permite fabricar entre 6 e 7 mil toneladas de amônia renovável e aproximadamente 15 mil toneladas de fertilizantes nitrogenados por ano.
“A gente consome 700 mil metros cúbicos de gás por dia. Nossa ambição é converter a planta 100% para o biometano”, disse o executivo a jornalistas.
Para isso, ele destaca que seriam necessários ao menos dez projetos semelhantes ao da planta da Raízen em Piracicaba, que tem capacidade de produção de aproximadamente 60 mil metros cúbicos por dia de biometano.
Hubner também destacou que o aumento da produção de amônia renovável pode representar um avanço importante para o Brasil, que hoje importa 85% dos fertilizantes que consome.
“Não existe nenhuma outra economia no mundo que tenha uma agricultura forte e relevante que dependa tanto da importação de fertilizantes. Essa dependência é um risco. Aumentar a produção local é fundamental”, afirmou o vice-presidente.
Uma das vantagens apontadas pelo executivo para levar em frente o projeto de amônia renovável é o custo relativamente baixo da substituição do gás natural pelo biometano, já que a infraestrutura existente na planta pode ser inteiramente mantida.
“A gente já tem toda a infraestrutura aqui”, explicou.
Baixa competitividade do gás
Outro fator é a baixa competitividade do gás natural no Brasil. A Yara é hoje o maior consumidor de gás do estado de São Paulo.
“O custo do gás natural é extremamente alto aqui. Isso não é só pela molécula em si, mas pela infraestrutura de transporte e distribuição, que precisa de soluções. Paramos em várias plantas do mundo, e em nenhum lugar a nossa planta está conectada à rede de distribuição. Estamos ligados direto ao transporte”, comentou.
Na avaliação de Hubner, o governo brasileiro acertou na política do Gás para Empregar de acesso de terceiros às infraestruturas essenciais e o transporte de gás e maior transparência na formação do preço do gás ao longo da cadeia.
Descarbonização do agro
Além de clientes industriais, um dos focos da Yara são os produtores rurais e companhias de alimento que estão em busca de soluções que reduzam a pegada de carbono, especialmente em cadeias como a do café, cuja exportação é altamente demandada por mercados com exigências de sustentabilidade.
Segundo Guilherme Schmitz, diretor de Desenvolvimento de Mercado da Yara Brasil, a amônia renovável pode reduzir em até 40% as emissões associadas à produção de café.
“Algumas cadeias do agro já estão olhando para descarbonização com uma força muito grande […] Companhias de alimentos estão buscando métodos de descarbonização. Fertilizantes renováveis são parte fundamental dessa estratégia”, disse Schmitz a jornalistas.
O jornalista viajou a convite e com despesas pagas pela Yara International.