LONDRINA — De olho no potencial de produção e consumo de biogás no campo, empresas apostam em veículos e máquinas agrícolas com motores movidos a biometano. Scania, New Holland e a MWM estão entre as companhias que se movimentam para incorporar soluções baseadas no combustível renovável na carteira de produtos.
A fabricante sueca Scania, por exemplo, espera mais que quadruplicar as vendas de caminhões a gás natural ou biometano nos próximos anos.
Como o biogás pode ser produzido próximo ao seu lugar de consumo, a expectativa é que o combustível renovável ganhe escala no agronegócio de forma mais simples do que o gás natural veicular (GNV).
A estimativa é que o agronegócio brasileiro tenha capacidade de produzir cerca de 114 milhões de metros cúbicos diários (m³/dia) de biogás, com destaque para o setor sucroalcooleiro — que responde por quase 50% desse potencial, de acordo com a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás).
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Com 600 unidades de caminhões a gás e biometano vendidas desde 2020 no mercado brasileiro, a Scania espera lançar mais um modelo em 2024, de olho na demanda do setor agrícola.
“A previsão é que em 2024 lancemos o caminhão com 460 cavalos a biogás, mas dependerá da demanda”, disse o diretor de negócios do Grupo Scania, Marcelo Gallao, durante evento da Geo Biogás & Tech, na semana passada em Londrina (PR).
Atualmente, a Scania comercializa no Brasil caminhões pesados movidos a gás natural ou biometano, com motores de potências de 280, 340 ou 410 cavalos.
Segundo Gallao, a meta é que o número de veículos do tipo vendidos no país chegue a 2,5 mil nos próximos anos.
Grupo Cocal substitui diesel por biometano
O novo modelo da montadora sueca, de 460 cavalos, vem sendo testado pelo Grupo Cocal, que atua na indústria sucroalcooleira e utiliza biometano produzido a partir dos resíduos da cana-de-açúcar cultivada pela própria companhia.
A Cocal produz hoje cerca de 9 milhões de m³ de biometano por ano, na sua unidade em Narandiba (SP), em parceria com a Geo Biogás & Tech. Desse total, 4,4 milhões de m³ são entregues à distribuidora local, GasBrasiliano. O restante é consumido internamente, na substituição do diesel em máquinas agrícolas e caminhões.
“Estamos atuando na substituição do diesel pelo biometano de forma escalonada em nossa frota”, explicou o gerente de manutenção automotiva da Cocal, Luis Cláudio Gomes.
A ideia, segundo ele, é substituir por completo o consumo de diesel, que hoje chega a 30 milhões de litros por safra. Além dos caminhões, a companhia vem fazendo essa substituição em máquinas e equipamentos agrícolas, como motobombas utilizadas na irrigação.
“Iremos substituir 100% das nossas motobombas”, disse Gomes. A substituição poderia reduzir o consumo de diesel em 260 mil litros por safra.
Agro muda percepção sobre biogás
A fabricante de motores e geradores MWM também vem apostando no agronegócio para colocar no mercado novas soluções a biogás. Além da produção de geradores de eletricidade movidos ao gás renovável, a fabricante oferece o serviço de conversão de caminhões, para substituição de motores a diesel por motores a biometano.
“Estamos levando soluções a nossos clientes do agro que querem descarbonizar suas atividades”, disse o diretor da MWM, Cristian Malevic.
Segundo ele, a produção e a demanda do biometano devem se desenvolver em conjunto.
“Se nós não disponibilizamos produtos, não temos crescimento do mercado de biometano. Por isso, estamos apostando na maior disponibilidade de produtos a biogás”, explicou Malevic.
Atenta à demanda dos clientes pela agenda da sustentabilidade, a New Holland, fabricante de máquinas agrícolas, lançou este ano no mercado brasileiro o primeiro trator movido a biometano, com 152 cavalos de potência.
Segundo a companhia, a tecnologia reduz até 80% das emissões em comparação com um motor a diesel padrão.
“A linha agrícola não se apegava à agenda de sustentabilidade há alguns anos. Hoje, o cliente exige que seja sustentável, porque ele vê que consegue agregar valor ao produto final”, conta o especialista de Marketing da New Holland, Juliano Perelli.
A empresa agora parte para desenvolver novas máquinas a biometano abaixo de 100 cv, e acima de 200 cv.
“A previsão é que em 2026 tenhamos algo novo para apresentar ao mercado”, disse Perelli.
* O repórter viajou à Londrina a convite da Geo Biogás & Tech