Energia

Gás argentino casa com planos da Petrobras para hidrogênio azul, diz Tolmasquim

Diretor da estatal afirma que importar gás do país vizinho, para produção de hidrogênio, pode ser um "modelo interessante"

HOUSTON – O diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Maurício Tolmasquim, acredita que a importação de gás natural da Argentina, caso ela vingue e se mostre competitiva, poderá ajudar a estatal a desenvolver o negócio de hidrogênio azul – produzido a partir do gás natural, com captura de carbono.

Segundo o executivo, o gás argentino “se casa muito” com as pretensões da companhia de produzir hidrogênio e, em paralelo, explorar o mercado de CCUS (captura, armazenamento e uso de CO2).

“Uma possibilidade é, se esse gás [argentino] chegar a um bom preço, usar esse gás e a capacidade que a Petrobras tem de CCUS para produzir o hidrogênio azul… você faz a mesma reforma do gás para produzir o hidrogênio, mas captura o CO2 no nosso CCUS. E a gente está com planos de fazer CCUS próximo à costa para capturar CO2 de nossas unidades produtivas. Então é um modelo interessante”, afirmou Tolmasquim, em entrevista exclusiva ao estúdio epbr durante a CERAWeek, da S&P Global, no Texas (EUA). Veja acima a íntegra da entrevista.

A Petrobras avalia um projeto piloto de captura e armazenamento de carbono no terminal de Cabiúnas, em Macaé (RJ). A iniciativa vai ter capacidade de capturar 100 mil toneladas de CO2 por ano.

A petroleira vê a captura de carbono não só como mecanismo para reduzir suas emissões, mas também como um novo negócio – e oferecer o serviço para indústrias.

A estatal tem acordos para estudo de oportunidades de desenvolvimento conjunto de hubs de CCUS com empresas como a Braskem e ArcelorMittal.

Três rotas para importação da Argentina

Tolmasquim disse que vê três possíveis rotas para importar gás de uma das maiores reservas do mundo, Vaca Muerta, na Argentina: o caminho “mais natural” para o Brasil seria via Bolívia, aproveitando-se da infraestrutura de gasodutos já existente e ociosa.

Mas também há alternativas via Uruguaiana (RS), com investimentos na expansão da infraestrutura; e via gás natural liquefeito (GNL).

Ele destaca que, apesar das perspectivas de crescimento da oferta de gás nacional, o Brasil continuará dependente da importação de gás.

“Precisamos importar gás porque existe uma demanda muito grande na indústria. Demanda para substituir o óleo combustível, demanda para substituir o carvão, demanda para novos usos, para fertilizantes, para petroquímica. Então você tem ali uma demanda potencial grande. E a gente lembra que ainda importa GNL para as térmicas”, afirmou o executivo.

Tolmasquim conta que ainda não há negociações concretas com Argentina – e Bolívia – e que as conversas para importação de gás de Vaca Muerta não avançarão “da noite para o dia”. Ele diz, porém, que está otimista.

“Gostaríamos que isso resolvesse, porque tem uma reserva enorme de gás na América Latina, muito próxima a nós. Não tem por que o Brasil não aproveitar. E é bom para a Argentina, claro, também, porque eles vão monetizar o gás deles, então é bom para todas as partes. Temos que achar uma solução que todos ganhem, que é a única maneira de o negócio fechar”, comentou.

Confira a cobertura do estúdio epbr na CERAWeek 2024