O efeito indireto do investimento em eólicas no PIB brasileiro é quase três vezes o aporte feito na construção de novos parques, calcula a LCA Consultores, em um estudo encomendado pela Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) e publicado nesta terça (22/2).
“Isso significa que cada R$ 1,00 investido num parque eólico tem impacto de R$ 2,9 sobre o PIB, após 10 a 14 meses, considerando todos os efeitos”, explica Bráulio Borges, pesquisador-associado do FGV-IBRE e economista-sênior da consultoria.
O cálculo leva em conta os efeitos indiretos e induzidos com a aquisição de máquinas e equipamentos, construção, instalação e operação dos parques eólicos.
A partir da estimativa de aporte de R$ 110,5 bilhões entre 2011 e 2020 na construção de novos parques eólicos que agregaram outros R$ 210,5 bilhões indiretamente, totalizando R$ 321 bilhões na década passada. Veja na íntegra (.pdf)
“Esta é a prova de que, além de ser uma energia renovável, a eólica também tem um forte componente de aquecer atividades econômicas das regiões onde chegam parques, fábricas e toda a cadeia de sua indústria”, diz Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica, em nota.
Em termos relativos, o aporte de capital necessário para construção dos parques representou, em média, 0,18% do PIB no período. O percentual 0,43% com os efeitos indiretos; e a 0,51% quando entram na conta os impactos da operação (0,01%) e do valor adicionado pela geração de energia a partir da fonte (0,07%).
Foram instalados pouco mais de 18 GW de potência nesse período e outros 5 GW estão em construção.
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Geração de empregos
A partir de parâmetros internacionais, a LCA também chegou a uma estimativa de geração de emprego diretos e indiretos de 196 mil postos entre 2011 e 2020.
“Internacionalmente, trabalhamos com valores que vão de 10 a 15 postos de trabalho por MW. Com esse valor de 10,7 estamos num cenário razoavelmente conservador de estimativa, e agora queremos refinar estes dados para termos um cenário ainda mais detalhado”, explica Borges.
Custo evitado com emissões
Dos R$ 321 bilhões de valor adicionado ao PIB brasileiro, R$ 48 bilhões (15%), estão parcialmente relacionados ao efeito da geração de energia eólica, que é renovável, na ‘economia’ de emissões de CO2 ou o “custo social do carbono”.
“Para estimar o custo social do carbono, são construídos diversos cenários prospectivos para o PIB dos países, considerando distintos cenários de temperatura e seus impactos sobre a atividade econômica”, explica Borges.
“As diferenças entre tais cenários são trazidas a valor presente e isso gera a estimativa de custo social do carbono, geralmente apresentada em US$ por tonelada de CO2 equivalente”.
Esse é um tema cada vez mais presente em discussões de políticas econômica e monetária: como incorporar o efeito das atividades econômicas no clima e, portanto, no financiamento de projetos de infraestrutura.
O próprio Banco Central brasileiro vem se debruçando sobre o tema.
“Nós queríamos muito ter esse número do custo social do carbono que estamos evitando, é mais fácil realizar comparações com as métricas tradicionais de desempenho econômico, como o PIB, e é fundamental que os formuladores de políticas públicas também tenham isso em mente”, diz Elbia Gannoum.
“Estamos num momento limite na luta para combater os efeitos do aquecimento global e a eólica tem um papel crucial neste cenário. Espero que estes dados se acumulem aos demais benefícios já quantificados da energia eólica para que a sociedade abrace cada vez mais essa fonte de energia renovável, de baixo impacto e com benefícios também sociais e econômicos”, conclui.