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Diálogos da Transição
Apresentada por
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Focada na saída da crise sanitária e econômica gerada pela pandemia de coronavírus, a declaração conjunta dos líderes do G20 traz poucas ambições em termos de soluções para a questão climática.
O documento avaliado como “decepcionante” pelo secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, manteve a aposta, por exemplo, no uso de tecnologias de captura, armazenamento e reutilização de carbono (CSS), como solução intermediária para reduzir a pegada da produção de óleo.
A solução tem sido um crescente motivo de disputa nas discussões de política climática e refletiu no G20: entrou na declaração com apoio dos sauditas e sob críticas de países europeus.
Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, avalia a declaração como a “carta que era possível para que todos assinassem, mas uma carta fraca que passa longe do que é preciso para enfrentar o problema climático”.
Para Astrini, se o documento foi prévia do que os países vão apresentar na Conferência do Clima (COP 26), em novembro do ano que vem, é sinal que a necessidade de reaquecer a economia pós-pandemia pode ameaçar os compromissos do Acordo de Paris.
“Se depender desse treino, a gente vai perder a partida (…) Não cita a urgência de enfrentar a questão climática. Parece que ela está falando de um mundo que a gente tinha 30 anos atrás, sem a crise climática que a gente já enfrenta neste momento”, diz o ambientalista.
O que diz a declaração
- Desenvolvimento sustentável: reforça compromissos com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, sem especificar pontos, metas ou estratégias.
- Energia: foco é na garantia de suprimento; reconhece a “importância de acelerar o acesso universal”, sem maiores destaques para as fontes renováveis, mas sim em “utilizar a mais ampla variedade de opções de combustíveis e tecnologias, de acordo com o contexto nacional”. A transição fica por conta da “eliminação gradual dos subsídios aos combustíveis fósseis ineficientes”.
- Economia circular de carbono: rejeitada pelos europeus, acabou sendo incluída e, em troca, eles recuperaram o compromisso de eliminação de subsídios aos fósseis. A plataforma defendida pelos sauditas foca em CSS, em detrimento de medidas para acelerar a substituição de derivados de petróleo.
- Acordo de Paris: reafirmam compromisso com a implementação do acordo e “recorda” que os países deveriam comunicar ou atualizar as suas contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) refletindo suas mais altas ambições possíveis.
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A entrevista com Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima
Como avalia essa declaração do G20?
É uma declaração de fim de reunião e que não vai resolver os problemas. Não fala que os países estão comprometidos com o aumento das suas metas de corte de gases de efeito estufa, não fala da neutralização de carbono, não cita a urgência de enfrentar a questão climática.
As propostas para meio ambiente, energia e clima não falam em renováveis e não indicam um compromisso muito claro com transição energética. Como isso pode ser problemático?
É a mesma coisa que passar por uma casa pegando fogo e dizer: “bom, depois que eu terminar esse meu sanduíche, vou ver se eu lembro onde está meu telefone e, de acordo com as condições, vou tentar ligar para o bombeiro”.
É uma declaração formal que não vai fazer a menor diferença para enfrentar o problema climático. Não tem nenhuma novidade, não tem nada que dê alguma esperança de que, nesse encontro, esses países discutiram a questão de forma aprofundada e apresentaram soluções ou algum nível de ambição.
Na semana passada, o Climate Transparency Report 2020 (.pdf) alertou que pacotes de estímulo à recuperação econômica do G20 no pós-pandemia devem beneficiar os combustíveis fósseis por falta de condicionantes climáticos. Essa declaração pode ser considerada uma demonstração disso?
É exatamente o que acontece, porque se está seguindo por um caminho que aprofunda a crise. Se não mudar a rota e colocar mais dinâmica, mais esforço e mais dinheiro na rota atual, vai aprofundar a crise.
Quanto mais dinheiro a gente tiver nos modelos atuais de produção, mais a gente está turbinando o caminhar na direção errada.
Os investimentos precisam ser colocados em outros parâmetros, como a promessa do Green New Deal, o plano de desenvolvimento sustentável pós-coronavírus que a Europa anunciou, de dois trilhões de euros.
O novo presidente [eleito] dos Estados Unidos [Joe Biden], também tem um plano de governo para desviar o rumo da economia intensiva em carbono para uma economia de baixo carbono.
E quanto ao que foi colocado em relação ao Acordo de Paris?
Se eles quisessem ter uma indicação mais dura, diriam que é preciso atualizar [as NDCs] à luz do Gap Report, o estudo que diz o quão distante as promessas estão do que elas deveriam ser, e que o esforço do G20 é o de preencher esse vazio e apresentar na Conferência do Clima do ano que vem.
Por isso, esse treino declaratório é muito fraco.
Mas existem países no G20 discutindo soluções para a crise climática…
Tem matizes diferentes entre os países do G20. A União Europeia, por exemplo, está falando em neutralização de carbono até 2050. O Joe Biden colocou essa agenda como uma das principais da sua política nacional e internacional. A própria China está se movimentando nesse sentido também.
Então tem países fortes no G20 tomando alguma ação, ou pelo menos demonstrando que vão tomar, enquanto outros países estão em um caminho totalmente contrário.
Os Emirados Árabes são um exemplo de país que atrapalha as negociações historicamente. Agora o Brasil também passou a jogar desse lado — de negar o problema climático e atrapalhar as negociações internacionais de tema ambiental e clima.
Então, alguns países apresentaram a NDC, mas o Brasil é uma grande incógnita. O Brasil é hoje o quinto maior emissor e corre o risco de diminuir suas ambições climáticas, enfraquecendo o que já foi apresentado, o que seria um desastre para a imagem do país e suas relações internacionais.
Curtas
Mesmo com a redução de até 17%, no auge das medidas de confinamento social, as emissões de dióxido de carbono na atmosfera continuam em níveis recordes. O Boletim de Gases de Efeito Estufa da Organização Meteorológica Mundial mostra que, em 2019, as emissões atingiram a média global histórica anual de 410 partes por milhão…
…E para 2020, estimativas preliminares apontam para uma redução da emissão global anual entre 4,2% e 7,5%. ONU
Uma pesquisa encomendada pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) para a Ideia Big Data indica que 92% da população brasileira concorda com a eletrificação dos ônibus e defende que o transporte público deve ser qualificado, além de ter a percepção de que a transição energética é mais sustentável do que veículos a diesel. A Tribuna
A União Europeia pode antecipar a proibição de carros à combustão para 2025.Segundo o jornal alemão Bild, especialistas do Grupo de Assessoria sobre Normas de Emissões de Veículos (AGVES) estabeleceram novas recomendações para a norma Euro 7, que vai mudar a legislação sobre os carros na Europa em 2025. Após essas mudanças, ficará praticamente impossível que veículos à combustão circulem na região. Canaltech
A energia solar fotovoltaica ultrapassou 7 gigawatts (GW) de potência instalada, impulsionada pela geração distribuída em residências, comércio, área rural, indústria, entre outros, que atingiram 4 GW este mês. A informação é da Absolar. Broadcast/Agência Estado
Um projeto conduzido pela Energisa na reserva extrativista Vila Restauração, no Acre, vai substituir gerador a diesel por uma unidade solar, com armazenamento em baterias. O projeto faz parte de um movimento da companhia de construção de linhas de distribuição e de geração distribuída no Acre e Rondônia, substituindo o diesel. Valor
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) inclui a possibilidade de contratação de usinas termoelétricas abastecidas com óleo diesel ou gás natural e fontes renováveis no leilão de energia que será realizados em 2021 para o atendimento de regiões isoladas do país. epbr
A Abraceel acredita que o mercado de etanol pode se beneficiar com a criação de figura de um comercializador independente do biocombustível. Proposta apresentada na consulta pública da venda direta de etanol da ANP, cuja audiência será aconteceu nesta terça (24). epbr
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