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Fusão entre ExxonMobil e Pioneer cria primeira “megamajor” do petróleo, diz Wood Mackenzie

Petroleira vai se tornar a maior produtora de gás não-convencional do mundo e amplia distância para petroleiras europeias

Cinco previsões para o petróleo e gás natural em 2024, segundo a consultoria Wood Mackenzie. Na imagem: Sonda da Pioneer Natural Resources perfura poço de gás não-convencional, o shale gas, na Bacia do Permiano, nos Estados Unidos (Foto: Divulgação)
Sonda da Pioneer perfura poço de gás não-convencional, o shale gas, na Bacia do Permiano, nos EUA (Foto: Divulgação)

A compra da petroleira Pioneer Natural Resources pela ExxonMobil, anunciada na última quarta-feira (11/10) vai criar a primeira “megamajor” do setor de petróleo, afirmou o vice-presidente sênior de pesquisa corporativa da consultoria Wood Mackenzie, Tom Ellacott. A consultoria destaca ainda que a fusão marca uma maior distinção entre as estratégias das majors americanas, que reforçam a aposta no petróleo, e as europeias, que têm focado na descarbonização do portfólio. 

O negócio, no valor de US$ 60 bilhões (R$ 300 milhões), é o maior da petroleira neste século – desde a fusão com a Mobil em 1998. É também o maior do setor desde a compra da BG pela Shell, em 2015, por US$ 82 bilhões. 

“Nós prevemos há alguns anos que as grandes empresas do setor ficariam ainda maiores”, disse Ellacott.

Maior produtora de gás não-convencional do mundo

A fusão ainda precisa receber aprovação dos órgãos regulatórios. Caso seja aprovada, a ExxonMobil vai se tornar a maior empresa em produção de tight oil [reservas não-convencionais] do mundo, sendo responsável por 10% de toda a produção global desse tipo de petróleo na próxima década. 

A companhia se torna também a maior produtora da Bacia do Permiano, nos EUA, com 16 bilhões de barris de óleo equivalentes. A estimativa da Wood Mackenzie é que a aquisição vai acrescentar US$ 5 bilhões ao fluxo de caixa livre anual da companhia. 

Além disso, a fusão com a Pioneer garante décadas de suprimento para a infraestrutura da Exxon nos EUA, que inclui refinarias, plantas petroquímicas, unidades de gás natural liquefeito (GNL) e ativos de exportação de commodities e gerenciamento de carbono. 

“Nesse enorme negócio, que evidencia a demanda por petróleo e a alta dos preços do barril, a ExxonMobil passa a ser uma empresa única. Também marca uma posição de força, já que é uma aquisição por escolha, e não por necessidade”, afirmou. 

Negócio aumenta diferença entre EUA e Europa

O analista ressalta ainda que poucas empresas concorrentes da Exxon teriam capacidade de fazer movimentos similares. Ellacott lembra que as majors europeias têm menos espaço de manobra nesse sentido, dado o maior desconto de capital e a pressão pela descarbonização dos portfólios.

“Será que essa transação histórica da ExxonMobil marca uma nova fase de crescente diferenciação estratégica entre as grandes empresas europeias e americanas? Acreditamos que sim”, diz. 

A Exxon tem concentrado o aumento da produção global sobretudo na Bacia do Permiano e na Guiana. Segundo o analista, o atual portfólio da companhia já garante uma das perspectivas de crescimento da produção de petróleo e gás mais fortes do setor na década atual. 

Com a aquisição da Pioneer, a previsão é que a empresa aumente de 28% para 40% a exposição a ativos de ciclo rápido, ou seja, que começam a produzir rapidamente. Hoje, os poços perfurados pela Pioneer se pagam em menos de 24 meses, o que faz com que a companhia tenha bons retornos e preços de equilíbrio (breakeven) baixos. 

Segundo a Wood Mackenzie, esses ativos vão garantir maior flexibilidade ao portfólio da Exxon, o que ajuda a empresa em momentos de incertezas geopolíticas e de volatilidade no mercado conforme a transição energética se intensifica. 

‘Limpeza’ do portfólio

Além disso, o negócio ajuda a “limpar” o portfólio da major. A intensidade de emissões de escopo 1 e 2 da Pioneer também é 75% menor do que a média global prevista para a Exxon para os próximos cinco anos. 

Por outro lado, a concentração do portfólio da Exxon na Bacia do Permiano vai crescer de 30% para 40%. 

“Com esta aquisição, a concentração do fluxo de caixa operacional dos ativos de upstream da Exxon ultrapassa o da Chevron. Mas a escala dos outros negócios da empresa na cadeia de valor, como dutos, refino, comercialização, petroquímica e negócios de baixo carbono, proporciona uma diversificação substancial, o que a diferencia da concorrente”, diz o vice-presidente de pesquisa em upstream (exploração e produção) da Wood Mackenzie, Rob Clarke. 

Consolidação do setor

Para Clarke, a decisão da Exxon traz impactos para todo o setor de produção não-convencional dos EUA, assim como para as outras empresas do setor. Segundo ele, a aquisição coloca outras companhias diante de decisões estratégicas. 

“As empresas independentes dos EUA podem ser vendidas, o que é uma maneira de lidar com os desafios de portfólio que têm enfrentado. E se a maior empresa do setor decidir por vender ativos, ao invés de optar pela consolidação, o que isso significa para as outras companhias com portfólios mais fracos?”, questiona. 

A Wood Mackenzie acredita que a aquisição da Pioneer pode levar o mercado a reavaliar empresas semelhantes, como a Diamondback, Permian Resources, Matador, EOG, Devon e Marathon.