Diálogos da Transição

Fósseis terão participação relevante na matriz até 2050, prevê IEA

Foto: Freepik
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eixos.com.br | 13/10/21
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Editada por Nayara Machado
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Lançado nesta quarta (13), o World Energy Outlook 2021 (WEO-2021) indica que a eletrificação com renováveis terá um papel central na descarbonização da economia global, mas os combustíveis fósseis — óleo, gás e carvão — terão lugar na matriz energética até 2050.

“A eletrificação limpa é um elemento central em todos os cenários deste relatório, mas não é possível eletrificar tudo. Mesmo no cenário net zero (NZE), a eletricidade representa menos de 50% do consumo total de energia final em 2050”, diz a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), autora do relatório.

Outro ponto levantado pela agência é o risco de descompasso entre a oferta e a demanda de energia, como resultado da “falta de sinais de investimento adequados, progresso tecnológico insuficiente, políticas mal elaboradas ou gargalos decorrentes de falta de infraestrutura”.

De acordo com as estimativas, a participação dos combustíveis fósseis na matriz, que permaneceu em torno de 80% ao longo de várias décadas, pode diminuir para cerca de 50% em 2050 no APS (cenário de promessas anunciadas) ou cair para pouco mais de 20% no NZE.

Em setembro, um mês antes do lançamento do WEO, um grupo de mais de 150 organizações da sociedade civil de todo o mundo enviou uma carta aberta ao diretor da IEA, pedindo para colocar a ambição de 1,5 ºC no centro das análises.

Em resposta, o documento da IEA traz o capítulo Mantendo a porta a 1,5 ° C aberta, onde ressalta que as promessas anunciadas e as atualizações das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, em inglês) fecham menos de 20% da lacuna em 2030 entre o STEPS (cenário de políticas declaradas) e o NZE.

“As emissões adicionais de 12 Gt CO2 precisam ser reduzidas em 2030 para colocar o mundo no caminho certo para o NZE, e isso precisa ser acompanhado por reduções de quase 90 milhões de toneladas nas emissões de metano das operações de combustível fóssil (equivalente a outras 2,7 Gt de emissões de CO2)”.

A agência elenca quatro principais prioridades de ação para fechar essa lacuna na próxima década e preparar o terreno para uma redução rápida das emissões após 2030:

  • Fornecer uma onda de eletrificação limpa

  • Aproveitar todo o potencial da eficiência energética

  • Impedir vazamentos de metano de operações de combustível fóssil

  • Impulsionar a inovação em energia limpa

Não é a primeira vez que o lançamento do WEO é cercado por críticas: O lado B do World Energy Outlook da IEA

No ano passado, organizações científicas e financeiras apontaram um desalinhamento dos cenários desenhados pela IEA com as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris e a supervalorização do papel dos combustíveis fósseis e da energia nuclear.

Uma das críticas partiu de um estudo da University of Technology Sydney, na Austrália, sobre o otimismo exagerado em relação aos mecanismos de captura e armazenamento de carbono (CCS), que teria a finalidade de prolongar a vida dos combustíveis fósseis.

A seguir, o papel dos fósseis nas projeções da IEA:

Petróleo. Pela primeira vez, a demanda de petróleo mostra eventual recuo em todos os cenários do relatório — embora a variação de tempo e nitidez da queda seja ampla.

No STEPS (menos ambicioso) a demanda se estabiliza em 104 milhões de barris por dia em meados de 2030 e, em seguida, diminui ligeiramente até 2050.

O uso de derivados de petróleo no transporte rodoviário aumenta em cerca de 6 mb/d até 2030, com um aumento particularmente acentuado em 2021. Na aviação, navegação e petroquímica, esse crescimento é estimado em 8 mb/d, aproximadamente.

Já no NZE (o melhor cenário), a demanda por petróleo cai para 72 mb/d em 2030 e para 24 mb/d em 2050.

Leva em conta a perspectiva de que, em 2030, 60% de todos os carros de passageiros vendidos globalmente serão elétricos e não haverá vendas de carros novos movidos a combustível fóssil depois de 2035.

A petroquímica será a única área com aumento na demanda, representando 55% de todo o petróleo consumido globalmente em 2050.

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Gás natural. A demanda aumenta em todos os cenários nos próximos cinco anos, mas sujeita a muitos fatores que afetam em que medida e por quanto tempo o gás natural pode manter um lugar na matriz energética. As perspectivas estão longe de ser uniformes nos diferentes países e regiões.

No STEPS, a demanda de gás natural cresce para cerca de 4 500 bilhões de metros cúbicos (bcm) em 2030 (15% maior do que em 2020) e para 5 100 bcm em 2050.

O uso na indústria e no setor de energia aumenta até 2050, e o gás natural continua a ser a opção padrão para aquecimento.

No NZE, a demanda cai drasticamente a partir de 2025, e fica em 1.750 bcm em 2050. Mais de 50% da demanda neste cenário virá da produção de hidrogênio, e 70% do uso do gás será em instalações equipadas com sistemas de captura, armazenamento e uso de carbono (CCUS).

Mais: Janela para transição com o gás está fechando

Carvão. Todos os cenários estimam declínio, mas na tendência que analisa as políticas atuais, a demanda continua crescendo até 2025, para só então começar um lento declínio até 2050 — cerca de 25% menor do que em 2020.

“Entre 2025 e 2030, a demanda total de carvão na China começa a cair e há grandes reduções no carvão uso em economias avançadas, principalmente como resultado da menor demanda no setor de energia”, analisa.

No NZE, a demanda global de carvão cai 55% até 2030 e 90% até 2050; em 2050, 80% da pequena quantidade restante de carvão ainda em uso estará equipada com CCUS.

Curtas

Hidrogênio. Uma comitiva formada por representantes do governo do Ceará foi à Espanha na semana passada visitar a planta de produção de hidrogênio verde (H2V) da Neoenergia. A unidade visitada em Puertollano começará a operar no fim do ano…

…É uma parceria entre a Iberdrola e a empresa química de fertilizantes Fertiberia. Juntas, as companhias esperam investir 1,8 bilhão de euros até 2027 para o desenvolvimento de 830 MW de hidrogênio verde. epbr

Óleo, gás e net zero. A Chevron divulgou um relatório atualizado de resiliência às mudanças climáticas que detalha a ambição da empresa de avançar rumo a emissões zero até 2050. Contudo, a petroleira reforça que a redução de suas emissões se dará com a continuidade dos investimentos na produção de petróleo e gás natural. Veja a íntegra (.pdf)

Amônia. A S&P Global Platts lançou avaliações diárias de preços de carga de amônia anidra, refletindo a tecnologia de produção, as rotas comerciais e os usos estabelecidos…

…Segundo a consultoria, o mercado de amônia vê um aumento nos investimentos devido ao papel que pode desempenhar na transição energética, como solução para o desafio-chave do transporte, no fornecimento de um mercado de hidrogênio comercializado globalmente.

Biodiesel. Audiência pública da ANP discutiu na semana passada a minuta de resolução sobre o novo modelo de comercialização de biodiesel. Com fim dos leilões, as distribuidoras deverão comprar o biocombustível diretamente dos produtores com meta de contratação de 80% do volume comprado no bimestre anterior. O novo formato deverá entrar em vigor até 1º de janeiro de 2022. O vídeo da audiência pública está no canal da ANP no YouTube

Elétricos. A Neoenergia está expandindo seu programa de mobilidade elétrica com o projeto Linha Verde. A primeira fase da iniciativa de instalação de eletropostos nas bases operacionais foi implantada entre as capitais Natal (RN) e Recife (PE), onde atuam as distribuidoras da Neoenergia, Cosern e Neoenergia Pernambuco.

ESG. A Volkswagen Previdência Privada (VWPP), que administra dois planos previdenciários dos colaboradores do Grupo Volkswagen, anunciou aporte de R$ 200 milhões em fundo exclusivo ESG com a XP Advisory. Faz parte da estratégia Way To Zero da companhia.

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