Energia

Fortescue firma acordo com distribuidora europeia para substituir gás da Rússia por hidrogênio verde

Iniciativa espera entregar para a Europa até cinco milhões de toneladas por ano de hidrogênio verde até 2030

Fortescue firma acordo com distribuidora europeia para substituir gás da Rússia por hidrogênio verde
“A energia verde reduzirá drasticamente o consumo de combustível fóssil na Alemanha e ajudará rapidamente a substituir o fornecimento de energia russo”, disse Andrew Forrest, presidente da FFI (foto: FFI/Divulgação)

RIO — A australiana Fortescue Future Industries (FFI) e uma das principais distribuidoras de gás da Europa, a alemã E.ON, assinaram memorando de entendimento nessa terça (29/3) para entregar até cinco milhões de toneladas por ano de hidrogênio verde (H2V) para a Europa até 2030.

O volume equivale a aproximadamente um terço da energia térmica que a Alemanha importa da Rússia.

“A energia verde reduzirá drasticamente o consumo de combustível fóssil na Alemanha e ajudará rapidamente a substituir o fornecimento de energia russo, ao mesmo tempo em que criará uma nova e maciça indústria de emprego intensivo na Austrália”, disse Andrew Forrest, presidente e fundador da FFI.

De acordo com o comunicado, ambas as empresas irão colaborar com os governos alemão e australiano para obter o fornecimento o mais rápido possível e ajudar a descarbonizar empresas de médio porte na Alemanha, Holanda e outras regiões europeias atendidas pela E.ON.

A E.ON estima uma demanda crescente por hidrogênio verde, especialmente na sua base de clientes industriais de pequeno e médio porte.

“Juntos, nossa ambição é diversificar rapidamente o sistema de energia na Alemanha e na Holanda”, destacou Patrick Lammers, COO da E.ON.

Acordo bilateral

Em junho do ano passado, durante a realização do G7, Austrália e Alemanha assinaram um acordo bilateral com o objetivo de produção de hidrogênio verde na Austrália e exportação para a Alemanha.

“Duas grandes empresas internacionais estão unindo forças para construir uma ‘ponte de hidrogênio’ da Austrália à Alemanha e Holanda, com base em valores compartilhados e na capacidade conjunta de realizar a escala de tal projeto”, afirmou Leo Birnbaum, CEO da E.ON.

O vice-chanceler alemão e ministro de Assuntos Econômicos e Ação Climática, Robert Habeck, disse que a parceria entre as empresas é um grande passo para a indústria alemã de hidrogênio verde dentro do acordo bilateral.

“A corrida pela produção e transporte em larga escala de hidrogênio verde decolou (…) Continuaremos promovendo iniciativas como esta dentro da Parceria de Energia Alemanha-Austrália”.

Fortescue no Brasil

A Fortescue também pretende desenvolver projetos de produção de hidrogênio verde em larga escala no Brasil para exportação ao continente europeu.

Por aqui, a companhia possui dois memorandos de entendimento neste sentido.

Um com o Ceará, para construção de uma usina de produção de hidrogênio verde no Complexo do Pecém, e outro com o Porto do Açu, no Rio de Janeiro, também voltado ao desenvolvimento de uma unidade de produção de H2V e amônia verde totalmente destinada para exportação.

“O importante anúncio de hoje na Europa não está apenas sinalizando ao mercado global que agora é a hora de produzir hidrogênio renovável. É também um passo decisivo na jornada da Fortescue para se tornar uma das maiores produtoras de energia verde do mundo”, disse Elizabeth Gaines, CEO da Fortescue Metals Group, empresa controladora da FFI.

União Europeia quer reduzir demanda de gás russo em dois terços

No início do mês, em mais um movimento de sanção à Rússia pela invasão à Ucrânia, a Comissão Europeia apresentou um plano para tornar a Europa independente dos combustíveis fósseis russos antes de 2030, começando pelo gás natural.

A estratégia principal é acelerar a implantação de gases renováveis ​​para substituir o gás, tema sobre o qual a Comissão já estava debruçada. Para isso, o plano prevê um aumento das importações de gás natural liquefeito (GNL) de fornecedores não russos e maiores volumes de produção e importações de biometano e hidrogênio renovável.

Hoje, a União Europeia (UE) importa quase 90% do gás natural utilizado para aquecimento e geração de eletricidade na região, sendo 45% proveniente da Rússia. O plano chamado RePowerEU (em inglês) espera reduzir a demanda da UE por gás russo em dois terços antes do final do ano.

Uma análise da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) indica que a União Europeia poderia reduzir suas importações de gás natural russo em mais de um terço no prazo de um ano.

A Rússia também responde por cerca de 25% das importações de petróleo e 45% das importações de carvão.

“Devemos nos tornar independentes do petróleo, carvão e gás russos. Simplesmente não podemos confiar em um fornecedor que nos ameace explicitamente. Precisamos agir agora para mitigar o impacto do aumento dos preços da energia, diversificar nosso suprimento de gás para o próximo inverno e acelerar a transição para energia limpa”, disse a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen.

Para Ursula, essa poderá ser mais uma oportunidade para acelerar a transição energética e garantir a soberania energética da região.

“Quanto mais rápido mudarmos para energias renováveis ​​e hidrogênio, combinados com mais eficiência energética, mais rápido seremos verdadeiramente independentes e dominaremos nosso sistema de energia”.