Diálogos da Transição

Financiamento de energia de baixo carbono foi 73% do fóssil em 2022

A cada dólar destinado à indústria de óleo, gás e carvão, outros US$ 0,73 financiaram energia de baixo carbono, mostra levantamento da BNEF

Na imagem: Cavalos-de-pau para exploração onsore de petróleo e turbina eólica (Foto: Wiki Commons)
Mesmo com a redução do consumo de combustíveis fósseis, mundo ainda dependerá de investimentos em exploração e produção de petróleo e gás ao menos até 2050 (Foto: Wiki Commons)

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Editada por Nayara Machado
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O financiamento de projetos de energia de baixo carbono em 2022 representou 73% do volume de recursos disponibilizados pelos maiores bancos do mundo para combustíveis fósseis, de acordo com levantamento da BloombergNEF.

Isso significa que a cada dólar destinado à indústria de óleo, gás e carvão, outros US$ 0,73 financiaram energia de baixo carbono, uma leve queda em relação a US$ 0,75 em 2021.

Divulgado nesta quinta (14/12) – um dia após o encerramento da COP28 com a decisão de triplicar a capacidade renovável e fazer a transição para longe dos fósseis – o documento afirma que o financiamento está fora do ritmo necessário para limitar o aquecimento global a 1,5°C.

No cenário ideal, o apoio bancário a projetos que levarão à descarbonização da matriz energética seria de 4:1, isto é, a cada dólar aplicado em fósseis, US$ 4 iriam para renováveis.

“A atividade de investimento na economia real alcançou a paridade entre combustíveis fósseis e fornecimento de baixo carbono, crescendo em volume para US$ 2 trilhões em 2022.  No entanto, o financiamento facilitado por bancos divergiu”, destaca a BNEF.

A consultoria avalia que a guerra na Ucrânia e a recuperação econômica pós-pandemia ajudaram a alavancar os investimentos em energia no ano passado, mas os aumentos de taxas de juros para combater a inflação, tanto em países ricos como nos de renda média, ajudaram a reduzir os volumes de financiamento.

Além disso, a energia solar em pequena escala já passou a representar 20% dos gastos de capital em baixo carbono, “e como isso não é capturado no financiamento dos bancos ou nas corporações da economia real, acreditamos que contribuiu para a divergência”, avalia o documento (.pdf).

No ano passado, os bancos desembolsaram US$ 1,7 trilhão para o fornecimento de energia – abaixo dos US$ 1,95 trilhão em 2021 –, dos quais US$ 708 bilhões foram para baixo carbono, ante US$ 851 bilhões em 2021.

Os projetos de geração térmica a carvão receberam US$ 122 bilhões, sendo 76% dentro da China. Isso significa que a proporção de investimento em carvão em relação aos combustíveis fósseis está atualmente em 0,18:1. No cenário de 1,5°C, é preciso diminuir para 0,06:1 nesta década.

US$ 7 tri contra a natureza

A reforma de instituições financeiras é uma agenda que ganhou impulso especial desde o final do ano passado, quando a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, lançou a Iniciativa Bridgetown, propondo um novo pacto sobre como os países ricos ajudarão os países pobres a enfrentar e se adaptar às mudanças climáticas.

A conferência climática das Nações Unidas deste ano (COP28) também trouxe em sua declaração final a ênfase no papel do financiamento na ação climática.

O dinheiro existe. A questão é como aplicar.

Esta semana, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) publicou um estudo mostrando que US$ 7 trilhões são investidos globalmente, a cada ano, em atividades que têm um impacto negativo direto na natureza. Isto é quase 30 vezes os US$ 200 bilhões aportados para soluções baseadas na natureza (SBN).

Os recursos vêm tanto do setor público quanto privado e equivalem a aproximadamente 7% do Produto Interno Bruto (PIB) global.

“As soluções baseadas na natureza estão dramaticamente subfinanciadas. Para ter qualquer chance de alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável, esses números precisam ser invertidos – com os verdadeiros guardiões da terra, como os povos indígenas, entre os principais beneficiários”, defende Inger Andersen, diretora executiva do Pnuma.

Ao analisar os fluxos financeiros globais, o relatório mostra que o setor privado gasta US$ 5 trilhões anualmente (140 vezes os US$ 35 bilhões de investimentos privados em SBN).

Construção, serviços públicos de eletricidade, imóveis, petróleo e gás, e alimentos e tabaco são as cinco maiores investidoras em projetos associados à destruição de florestas, áreas úmidas e outros habitats naturais, representando 43% do total. Em compensação, representam 16% do total de fluxos de investimento na economia.

O relatório destaca ainda que os gastos governamentais com subsídios prejudiciais ao meio ambiente em quatro setores — agricultura, combustíveis fósseis, pesca e silvicultura – são estimados em US$ 1,7 trilhão em 2022.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Cooperação EUA-China

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, traçou nesta quinta (14) suas principais prioridades para administrar as relações EUA-China no próximo ano, incluindo uma segunda visita planejada à China e medidas para acelerar a cooperação sobre riscos climáticos e mercados financeiros. Os dois países são os maiores emissores de gases do efeito estufa.

Nova onda de calor

Uma nova onda de calor sufocante começa a elevar as temperaturas no Brasil a partir desta quinta. Segundo a porta-voz da Climatempo Maria Calar Sassaki, a onda de calor acontece em um período de, no mínimo, cinco dias, em que as temperaturas máximas ficam cerca de 5°C acima da média.

Expansão eólica

As geração de eletricidade a partir do vento respondeu por 90,4% da expansão da matriz elétrica brasileira até novembro de 2023. De acordo com a Aneel, até o último dia 30, foram adicionados 8.412,1 megawatts (MW), ultrapassando em 11 meses o crescimento de 8.235,1 MW obtido em 2022. As instalações eólicas contribuíram com 7.608,4 MW em 2023.

Mineração

Em 2022, o Brasil registrou 932 conflitos oriundos da mineração, superando os 840 verificados no ano anterior, de acordo com relatório do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração publicado esta semana. Os embates foram identificados em 792 localidades, número 22,9% maior do que o observado em 2021 (644), e envolveram 688.573 pessoas, sendo a maioria indígenas e trabalhadores.

Transição justa

A União Europeia aprovou nesta quinta (14) sua diretiva para sustentabilidade corporativa, de olho nas práticas das cadeias de suprimentos globais. Empresas sediadas nos países membros ou que têm negócios no bloco serão obrigadas a identificar e, quando necessário, prevenir, interromper ou mitigar os impactos adversos das suas atividades nos direitos humanos, como o trabalho infantil e a exploração dos trabalhadores, e no ambiente, por exemplo, a poluição e a perda de biodiversidade.

Avaliação ESG

Enquanto isso, no Reino Unido, a autoridade reguladora financeira instou as empresas que avaliam os esforços de sustentabilidade de outras empresas a aderirem a um novo código de conduta voluntário, antecipando possíveis regulamentações para uma indústria que direciona centenas de bilhões de dólares em investimentos, relata a Reuters.

Mulheres empreendedoras

A Engie anunciou esta semana as 93 vencedoras do quarto edital do Mulheres do Nosso Bairro, que apoia pequenas empreendedoras nos 50 municípios de atuação do grupo de parceiros do projeto. Uma das novidades do ano foi a priorização de vagas para mulheres pretas, que representaram 70% das vencedoras do prêmio de R$ 10 mil para investir em seu negócio, além de Educação Empreendedora pelo Instituto Consulado da Mulher, promovido pela Cônsul.