Fim de novos investimentos em fósseis e dos carros a combustão: o roteiro para zero emissões em 2050

Roteiro da IEA estabelece mais de 400 marcos para orientar os países rumo às emissões líquidas zero até 2050
Foto: Divulgação IEA

newsletter

Diálogos da Transição

eixos.com.br | 19/05/21
Apresentada por

Editada por Nayara Machado
[email protected]

A Agência Internacional de Energia (IEA) lançou nesta terça (18) um roteiro para o setor alcançar emissões líquidas zero de gases de efeito estufa em 2050.

De acordo com o Net Zero by 2050 (.pdf), há um caminho viável para alcançar a meta, mas ele é estreito e requer uma transformação sem precedentes na produção, transporte e uso da energia.

“As promessas climáticas dos governos até o momento – mesmo se totalmente cumpridas – ficariam bem aquém do que é necessário para trazer as emissões globais de dióxido de carbono (CO2) relacionadas à energia para zero até 2050 e dar ao mundo uma chance igual de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 °C”, diz a agência.

O roteiro estabelece mais de 400 marcos para orientar os países rumo às emissões líquidas zero até 2050 – entre eles, interromper o desenvolvimento de novas reservas de óleo e gás.

  • A partir de hoje, nenhum investimento em novos projetos de fornecimento de combustível fóssil;

  • Em 2035, não haverá vendas de novos carros com motor de combustão interna;

  • Chegar a 2040 com emissões líquidas zero no setor de eletricidade global;

  • Implantação imediata e massiva de todas as tecnologias de energia limpa e eficiente disponíveis, combinada com um grande impulso global para acelerar a inovação;

  • Chegar a 630 gigawatts de adição anual de energia solar fotovoltaica até 2030;

  • Chegar a 390 gigawatts de adição anual de energia eólica em 2030;

  • Alcançar taxa global de melhorias de eficiência energética média de 4% ao ano até 2030.

Roteiro da IEA para emissões líquidas zero até 2050 (Clique na imagem para ampliar)

Investimentos para impulsionar PIB global

“O caminho da IEA para este futuro mais brilhante traz um aumento histórico no investimento em energia limpa que cria milhões de novos empregos e impulsiona o crescimento econômico global.

Levar o mundo para esse caminho requer ações políticas fortes e confiáveis ​​dos governos, sustentadas por uma cooperação internacional muito maior”, disse Fatih Birol, diretor executivo da IEA.

Fornecer eletricidade para cerca de 785 milhões de pessoas, hoje sem acesso, e soluções de cozimento sem emissões para 2,6 bilhões de pessoas são outros pontos destacados no roteiro.

A IEA estima um custo de cerca de US $ 40 bilhões por ano, o equivalente a cerca de 1% do investimento médio anual no setor de energia.

Já para alcançar o net-zero em 2050, o investimento total anual em energia projetado pela agência chega a US$ 5 trilhões até 2030, o que acrescentaria 0,4 pontos percentuais ao ano no crescimento do PIB global.

PUBLICIDADE

Em tempo, Patrick Pouyanné, CEO da petroleira Total, deu o tom desse desafio para as empresas de O&G: a transição vai precisar de apoio de investidores, incluindo o entendimento que os balanços das companhias do setor estão atrelados ao financiamento e, portanto, à rentabilidade do petróleo.

Ele participou de um evento promovido esta semana pelo Citi sobre a demanda de investidores por projetos com critérios de ESG – e se não é preciso pensar que o ponto de chegada da transição deve ser antecipado para 2030, ao invés de 2050.

O painel não tinha relação com o estudo da IEA, mas tem tudo a ver com o retrato feito pelo relatório. Afinal, a dúvida sobre como financiar a transição está na ordem do dia.

Diz Pouyanné:

“Os investidores são a outra parte da equação. Têm que integrar esta ideia de transição e a transição energética não virá apenas de novas empresas verdes com novos investimentos. Virá também de agentes maiores com a capacidade de aportar esse capital.

Sabe, há este debate sobre taxonomia na Europa, que é um debate que me é estranho porque só encapsula a ideia de que “o que é verde é bom”.

Não, o que será bom é todo o capex, que deve ser dedicado a esta transição, mesmo que se parta de um ponto “fóssil” como o meu, como a da Total”.

O debate sobre a taxonomia diz respeito a classificação de empresas e projetos, o que deve ser considerado para carimbar um investimento como verde. Segue:

“Se eu quiser mudar para a Total Energies, preciso de algum apoio dos investidores, incluindo o custo da minha dívida. Se minha dívida está aumentando porque as pessoas vão considerar que eu tenho 70% do meu portfólio fóssil, e então eu não sou bom, isso não será positivo para me empurrar na direção certa.

Por isso, é muito importante que mantenhamos todos os formadores de política – e sei que não é tão fácil – e os investidores também, [isto é], a comunidade financeira deve se integrar com a ideia de transição. A transição não é da noite para o dia. Leva tempo”.

A “Total Energies” é o mais recente reposicionamento de marca da Total, um movimento cada vez mais comum no mercado de petróleo: as empresas de O&G estão se colocando como empresas supridoras de energia de fontes diversas.

“Em toda esta primeira fase de investimentos em renováveis, criei uma infraestrutura. E então, em 10, 15 anos, após a amortização inicial, vocês [os investidores] terão um retorno muito bom. Quando você está investindo em uma empresa como a Total Energies, você precisa investir a longo prazo.

E meus acionistas, diga-se de passagem, estão se beneficiando hoje dos dividendos provenientes do petróleo – a propósito, dividendos muito bons, de seis, sete por cento. Muito altos, por sinal”, brincou Pouyanné.

Ele conclui:

“E então no futuro, em 10, 15 anos, eles terão o fluxo de caixa proveniente destes investimentos [verdes], e é sempre assim nesses negócios. Portanto, este debate sobre o menor retorno das energias renováveis não é o debate certo.”

Curtas

O relator da MP da capitalização da Eletrobras, Elmar Nascimento (DEM/BA) garantiu em coletiva nesta terça (18) que a maior parte do seu relatório foi acordada com os ministérios da Economia, Minas e Energia e, em alguns pontos, até com participação do presidente Jair Bolsonaro…

…A proposta condiciona a capitalização da Eletrobras à realização de leilões locacionais para contratação de 6 GW de térmicas à gás natural nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, além de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). epbr

A Comgás e a Scania vão desenvolver ações para acelerar o desenvolvimento do mercado de GNV e biometano para veículos comerciais pesados. O primeiro passo a ser dado pelas empresas será o mapeamento de corredores e rotas logísticas, para aumentar o número de pontos de abastecimento no estado de São Paulo. epbr

Um mês após anunciar o início da produção de combustível de aviação sustentável (SAF) no sul da França, a petroleira Total estreou esta semana o seu biocombustível. O voo 342 da Air France-KLM decolou, na terça (18), do aeroporto de Paris, Charles de Gaulle, com destino a Montreal, abastecido com 16% de SAF. epbr

Cerca de 94% do desmatamento registrado na Amazônia brasileira e na região de Matopiba é ilegal, aponta novo estudo divulgado nesta segunda-feira (17) por dois institutos e por universidade brasileira. De acordo com a análise, a promessa de Jair Bolsonaro de eliminar a perda de floresta é pouco realista devido à falta de transparência dos dados sobre o uso das terras da região. G1

Ao observar que a sustentabilidade se tornou uma preocupação sensível a investidores, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, disse nesta quarta (19) que o governo vem buscando selos verdes aos projetos que estão sendo leiloados no Brasil. Segundo ele, o programa de ferrovias será o primeiro a contar com a certificação ambiental. Broadcast

[sc name=”news-transicao” ]