RIO – A nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, reforçou nesta quarta-feira (19/6) o interesse da companhia de retornar ao setor de fertilizantes e petroquímica, como uma estratégia de monetização do gás natural comercializado pela empresa.
“É importante dizer que nossa retomada do setor de fertilizantes tem uma razão cristalina: os fertilizantes são uma boa oportunidade para ampliar significativamente o nosso mercado de gás. O gás natural é nosso produto. É o insumo com maior impacto no preço dos fertilizantes”, disse Magda, em seu discurso de posse. (Leia a íntegra do discurso ao pé da matéria)
Ela destacou ainda que o gás é um “combustível de transição por excelência” e que a Petrobras investirá na ampliação da infraestrutura.
Citou, nesse sentido, a conclusão do gasoduto de escoamento Rota 3 e das unidades de processamento do Polo Gaslub – ambos previstos para o segundo semestre.
“Nossa intenção é ampliar a disponibilidade de gás para o mercado e assim endereçar a nossa produção também para usos de maior valor agregado, como a petroquímica e fertilizantes”, discursou.
Em suas primeiras declarações como presidente da Petrobras, há três semanas, Magda Chambriard já havia sinalizado que queria “ajudar a desenvolver o mercado”, diante da perspectiva de aumento da oferta de gás nacional; e que a retomada dos investimentos em fafens está inserida num contexto de ampliação do consumo do gás na matriz energética brasileira – mas não a qualquer custo:
“Não vou fazer isso a qualquer preço. Vou fazer desde que dê lucro. Mas se eu precisar eventualmente abaixar um pouquinho o preço do gás para conquistar o mercado e garantir que possa expandir a produção, está valendo”.
“Desde que dê lucro, desde que a empresa e seus técnicos entendam que isso é negocialmente vantajoso para a empresa”, afirmou em sua primeira entrevista coletiva no comando da petroleira, no fim de maio.
Lula cobra volta aos fertilizantes
Magda Chambriard assume a presidência da petroleira com o desafio de administrar pressões políticas por um protagonismo maior da Petrobras na busca por soluções para aumentar a oferta de gás a preços competitivos para a indústria – incluindo os fertilizantes – e a própria retomada dos investimentos nas fafens.
Destravar as unidades de fertilizantes é uma encomenda do governo Lula 3. Na cerimônia de posse da nova CEO da estatal, o presidente da República disse que interromper investimentos no setor foi um dos grandes retrocessos dos governos mais recentes.
Lula citou o senso de urgência da retomada dos fertilizantes, por uma questão de segurança alimentar – para garantir a segurança do agronegócio brasileiro.
“Quando o petróleo não for mais o motivo da existência da Petrobras, ela vai ser uma empresa de energia, vai refinar o biodiesel, pode produzir hidrogênio verde e, agora, pode ajudar o país a enfrentar a guerra entre Rússia e Ucrânia e a recuperar a fábrica de fertilizantes que a gente tanto precisa para recuperar esse país”, discursou.
Lula fez menção, ainda, ao interesse na integração do mercado de gás na América do Sul e às críticas aos elevados índices de reinjeção da molécula nos campos offshore. “Não sei qual é essa ojeriza, de não gostar de gás que tanto pode ajudar a indústria brasileira”.
O tamanho do desafio dos fertilizantes
Historicamente, a presença da Petrobras nos fertilizantes é um desafio do ponto de vista econômico, no Brasil, por exigir preços bastante competitivos para o gás natural.
Pouco antes de ser demitido, Jean Paul Prates (PT) havia estimado ser possível estabelecer uma holding para a companhia atuar no setor de fertilizantes somente em 2025.
Acelerar os investimentos no setor é uma missão desafiadora: o projeto de Três Lagoas (MS) é uma obra abandonada; e falta chegar a uma solução para retomada das operações das unidades de Sergipe e Bahia, arrendadas à Unigel.
Num dos primeiros atos da gestão Magda Chambriard, a diretoria executiva da Petrobras aprovou no dia 6 de junho o retorno das operações da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados S/A (Ansa), no Paraná, que está parada desde 2020.
A estatal estima que a fafen – que não usa gás como matéria-prima – volte a operar no segundo semestre de 2025. A companhia anunciou que irá publicar em breve os editais para contratação de serviços de manutenção e de materiais críticos.
Sob a gestão de Prates, a Petrobras avançou ainda num acordo temporário de tolling com a Unigel, para retomar as operações das fafens de Sergipe e Bahia, mas esbarrou em questionamentos do Tribunal de Contas da União (TCU). Magda terá de desatar esse nó.
Em maio, Magda Chambriard afirmou que caberá à Petrobras mostrar que fertilizantes são um bom negócio. “Ninguém aqui vai rasgar dinheiro”, afirmou. “E se o TCU tem dúvida, nós vamos responder às dúvidas do TCU”, completou.
Leia abaixo a íntegra do discurso de posse de Magda Chambriard:
“Boa tarde a todos os presentes e todos que nos assistem,
É uma grande alegria, uma grande honra estar aqui, assumindo o cargo de Presidente da Petrobras. Este momento decorre do convite feito a mim pelo Exmo. Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Foi um convite que me encheu de orgulho. Eu, nesse momento, rendo minhas homenagens e agradecimentos ao Presidente Lula.
Senhoras e senhores, aproveito essa oportunidade para dividir com vocês a encomenda que me foi dada por ele. A missão que recebi foi movimentar a Petrobras porque ela impulsiona o PIB do país. Foi gerir a Petrobras com respeito à sociedade brasileira. Ele me disse: “Eu tenho grande carinho pela Petrobras. A sociedade brasileira ama a Petrobras e eu também amo. Não quero confusão nessa empresa”.
Agradeço a confiança do Presidente Lula e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira e, em nome dele, estendo o agradecimento a todos os ministros que me apoiaram nessa empreitada.
Externo meus agradecimentos a todos os que me estimularam a chegar até aqui. Faço menção especial às minhas filhas que, com seu carinho, me são um importante suporte afetivo; à minha família, tão presente na minha vida; ao ex-diretor da ANP e ex-colega da Petrobras, Newton Monteiro, que sempre me foi uma referência de atuação séria, competente e transparente, e aos colegas da indústria, que compartilharam comigo momentos de estresse e de alegria, em uma jornada de dedicação quase exclusiva à indústria do petróleo.
É uma volta para a casa, pois a Petrobras é a empresa onde iniciei minha carreira, aos 22 anos. Atuei na companhia por mais de vinte anos e volto agora para liderar essa que é, certamente, a maior e mais brasileira de todas as empresas.
Volto à Petrobras com o mesmo sentimento de orgulho e de compromisso com o Brasil que me movia, e também movia a empresa, quando nela ingressei nos anos 80. A Petrobras nasceu do desejo dos brasileiros e brasileiras por um país soberano na produção de energia. Foi esse o propósito que nos fez descobrir as nossas bacias onshore, avançar para o mar, desenvolver as grandes reservas da Bacia de Campos, nos tornar a companhia de petróleo líder em operações em águas profundas e ultraprofundas, expandir o nosso parque de refino e descobrir e desenvolver as magníficas acumulações do pré-sal. Esse orgulho e compromisso com o País é plenamente coerente com o cenário atual da Petrobras.
O que vamos fazer na Petrobras está registrado em nosso Plano Estratégico, que envolve potencial para gerar centenas de milhares de empregos diretos e indiretos, além de expressivos recursos para União, estados e municípios em participações governamentais. Vamos tornar realidade o que foi planejado, com celeridade. Vamos zelar pela governança e por resultados empresariais robustos, com a rentabilidade e eficiência que o mercado e o Brasil esperam de nós.
Nossa gestão, como não poderia deixar de ser, está totalmente alinhada com a visão de país do nosso presidente Lula e do Governo Federal, que é nosso acionista majoritário. Está também em consonância com a visão de mercado, geração de valor econômico e rentabilidade. Nosso Plano estabelece a trajetória que a companhia irá percorrer como uma líder brasileira da transição energética justa e inclusiva. Nessa transição, nossos ativos de petróleo e gás e nossas plantas de refino serão fortalecidos com investimentos consistentes e tempestivos, reduzindo progressivamente as emissões de carbono. Temos a ambição de chegar a zero emissões, ou Net Zero, até 2050. Cerca de 11% do nosso investimento total será em projetos de Baixo Carbono.
O caminho da transição energética justa nos leva a abrir e fortalecer frentes em energias renováveis e descarbonização, tirando proveito da nossa expertise e focando nos combustíveis líquidos do futuro – mais verdes e mais eficientes. Também avançaremos em energia eólica, solar e hidrogênio.
Em nosso plano, o Gás Natural é o combustível de transição por excelência. Investiremos na ampliação da nossa infraestrutura, com projetos como a conclusão da Rota 3 e as unidades de processamento de gás natural. Nossa intenção é ampliar a disponibilidade de gás para o mercado e assim endereçar a nossa produção também para usos de maior valor agregado, como a petroquímica e fertilizantes.
É importante dizer que nossa retomada do setor de fertilizantes tem uma razão: os fertilizantes são uma boa oportunidade para ampliar significativamente o nosso mercado de gás. O gás natural é o insumo com maior impacto no preço dos fertilizantes. Também vamos reforçar nossa atuação em petroquímicos e lubrificantes, produtos não-carburantes que aprimoram nosso portfólio e contribuem para a redução de emissões.
Para financiar essa transição, são fundamentais os investimentos em exploração e produção – que hoje representam cerca de 70% do nosso orçamento total e geram os maiores retornos para a companhia e, por consequência, para os acionistas e a sociedade.
Vamos instalar 14 novas plataformas no período do Plano, sendo sete até 2026. Ainda nesse ano, vamos iniciar a operação da plataforma de Mero 3 e antecipar o início da produção de uma plataforma no mar do Espírito Santo. A Bacia de Campos, nossa pioneira em águas profundas e ultraprofundas, terá sua produção revitalizada, num projeto que foi vencedor do prêmio OTC esse ano, como vimos agora há pouco junto com o presidente Lula e o ministro Alexandre Silveira. O pré-sal, que concentra blocos de exploração e produção de óleo e gás com baixo custo de extração e baixa emissão de CO2, já representa cerca de 80% da nossa produção.
Não podemos esquecer que as reservas de petróleo e gás natural constituem recursos finitos, de forma que nossa segurança energética, durante a transição justa, passa pela sua reposição. Nessa linha, é fundamental desenvolver nossas fronteiras exploratórias, como as da Margem Equatorial e do Sul do Brasil, sempre com rigorosos padrões de segurança, em absoluta conformidade com a legislação ambiental e com os processos de licenciamento.
Nosso parque de refino será ampliado e modernizado, com vistas a se tornar um dos melhores do mundo em eficiência operacional e energética, oferecendo ao mercado combustíveis e produtos mais eficientes e sustentáveis. Entre os destaques, além da modernização das refinarias atuais, implantaremos o trem 2 da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, um projeto que, junto com o Gaslub, no Rio de Janeiro, vai gerar valor econômico e reduzir significativamente nossa importação de diesel.
Também vamos fortalecer nossa logística, fundamental para o crescimento sustentável das nossas atividades. Vamos investir na ampliação e manutenção de oleodutos e gasodutos, nos terminais e em um programa de construção de navios, garantindo confiabilidade operacional e geração de valor para a Petrobras, para o setor naval e para o Brasil.
É importante enfatizar que o caminho da transição energética justa é inclusivo, balizado pelo cuidado com as pessoas e com o meio ambiente. Temos consciência do relevante papel que a Petrobras, maior empresa do país, tem para a redução das desigualdades e para o desenvolvimento econômico nacional. Senhoras e senhores, aqui eu faço uma pausa para exaltar a figura da deputada Benedita da Silva, ícone da luta pela diversidade de gênero e raça e da luta pela inclusão social.
Retomando, nosso Plano Estratégico e nossa agenda ESG têm ambição de alcançar Net Zero até 2050 e absoluto compromisso com a segurança e com o meio ambiente. Essa é uma cultura enraizada na empresa. Também afirmamos nosso propósito de proteger e promover os direitos humanos em toda a cadeia produtiva e a diversidade, equidade e inclusão em todo o Sistema Petrobras.
Sobre diversidade, quero destacar que, após os trâmites de aprovação dos novos diretores que indicamos na semana passada, teremos, de forma inédita, além de mim, mais três mulheres na direção da empresa, respaldadas por currículos e competência inquestionáveis. Indicamos para a diretoria duas empregadas de carreira da companhia, Renata Baruzzi na diretoria de Engenharia, Tecnologia e Inovação e Sylvia Anjos na diretoria de E&P, que, junto com o Fernando Melgarejo, executivo do Banco do Brasil e futuro diretor financeiro, passarão a compor a nossa Diretoria.
Pelo seu porte e trajetória, a Petrobras tem potencial para movimentar o país não só no segmento de energia, como também por meio de investimentos sociais, ambientais e culturais, que são selecionados de forma alinhada com nossa estratégia de negócios. Apoiamos projetos voltados para conservação e restauração florestal, biodiversidade marinha, economia circular, educação e geração de trabalho e renda. Para cada real investido pela Petrobras, estima-se que sejam gerados quase cinco reais em benefícios para a sociedade e o meio ambiente.
Um exemplo atual do nosso compromisso social está nas ações empreendidas em face da inundação que assolou o Rio Grande do Sul. O Sistema Petrobras tem grande importância para a economia local com a presença da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), da Usina Termelétrica de Canoas, dos Terminais Aquaviários e de mais de 140 quilômetros de dutos da Transpetro. Com a importância vem a responsabilidade, à qual não nos furtamos nesse cenário de emergência. Nossas doações já somam mais de 30 milhões de reais e atuamos em várias frentes, como o alojamento de desabrigados, doação de combustíveis, cessão de helicópteros e equipamentos diversos, e atendimentos voltados à saúde física e mental dos afetados. Ainda vamos além: criamos um grupo executivo para olhar o longo prazo e contribuir com o cuidado com as pessoas e retomada da economia do Rio Grande do Sul.
O compromisso da Petrobras com o Brasil também se materializa no apoio à Cultura, que destaco hoje, especialmente, pelo fato de esta posse ocorrer no Dia do Cinema Brasileiro. A Petrobras é reconhecida como a grande viabilizadora da retomada do cinema nacional. E após alguns anos de redução desses investimentos, estamos voltando a incrementá-los, o que também é um fator de inclusão social.
Todas essas realizações que marcam a história dessa companhia e todos esses planos de futuro têm em comum a excelência técnica e a dedicação dos trabalhadores e trabalhadoras da Petrobras; e a nossa capacidade de inovar e desenvolver tecnologia, muito bem simbolizada por esse Centro de Pesquisas onde estamos hoje.
Então, nesse meu retorno à empresa, quero reafirmar o meu orgulho de fazer parte dessa equipe e meu compromisso de conduzir essa companhia e nossos mais de 140 mil trabalhadores – entre empregados e prestadores de serviços – de forma profissional, célere e transparente, observando as normas, a boa governança e a lógica empresarial.
Conto com os petroleiros e petroleiras nessa jornada de fazer a Petrobras cada vez maior e mais longeva. Nosso compromisso com o Brasil é marca de nossa história e vai continuar guiando nossos caminhos. O Brasil é a nossa energia, ontem, hoje e sempre. Obrigada!”