BRASÍLIA — A queda no preço do barril de petróleo pode criar uma oportunidade para negociar aspectos que dificultam o comércio de gás natural entre Brasil e Argentina e, assim, dar condições mais vantajosas para a importação nos próximos anos, concluíram agentes envolvidos nas conversas em ambos os lados da fronteira e que participaram de um painel na gas week 2025, na terça-feira (9/4).
Empresas que atuam na produção de gás natural no país vizinho e na comercialização no Brasil entendem que os custos de transporte internos na Argentina podem ser revistos, assim como o preço mínimo de venda estipulado pelo governo argentino e os impostos.
“Acreditamos que o preço mínimo é uma coisa que foi colocada em uma conjuntura de mercado mas vai mudar. A conjuntura de mercado mudou, agora o preço do Brent é diferente, então vai mudar. Quando se olha o preço mínimo e adiciona todos os custos de transporte do lado argentino, do lado boliviano, do lado brasileiro, é muito provável que hoje a molécula não chegue ao Brasil com um preço competitivo”, reconheceu o diretor-geral da Pan American Energy, Alejandro Catalano.
Segundo Catalano, o volume de importações da Argentina pode aumentar ao fim de 2025, com potencial de atingir de 4 a 5 milhões de m³/dia.
“Não vai ser todos os dias porque o verão argentino também tem complexidades. Mas, sendo um pouco otimista poderia haver uma janela de dias onde se para essas exportações”, afirmou.
Também presente ao painel, o coordenador-geral de infraestrutura da Secretaria Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), Fernando Matsumoto defendeu que as tarifas de transporte para o gás que passa pela Bolívia não pode trazer grandes impactos ao preço final.
“Lembrando que é uma integração regional. Todas as partes têm que colaborar. Não é um tentando ganhar em cima do outro. Então, esse é um ponto importante. No caso em que envolve outros países, tem que haver colaboração. O gás de trânsito não pode querer onerar, segurar uma margem acima de tudo”, disse.
Além disso, o movimento de aumentos das tarifas em diversos países, desencadeado pelo governo dos Estados Unidos, também poderia ajudar a alavancar a indústria brasileira, apontou o diretor da MGás, Rodrigo Senne.
“Isso vai exigir uma maior demanda de gás. Vai ser um vetor de oportunidade para os exportadores argentinos”, disse.
Senne destacou, ainda, que o setor elétrico também pode ser um fator importante para destravar oportunidades para o gás argentino no Brasil. Na visão dele, o gás natural importado pode compor a cesta de fornecimento de projetos termelétricos que vão disputar o leilão de reserva de capacidade, previsto pelo governo para 2025.
“Tem usinas termelétricas ali entre um ponto e outro que vão poder aproveitar o gás no período de sobra, porque a Argentina, no mês de fevereiro, está produzindo 188 milhões de m³/dia. O Brasil consome 60 milhões de m³/dia. Então a produção da Argentina é três vezes a demanda do Brasil”, completou.
Para o diretor sênior da consultoria Alvarez & Marsal, Rivaldo Moreira Neto, as importações de gás argentino fazem sentido devido às características do mercado elétrico nacional.
“Nós temos uma oportunidade muito grande de integração e desenvolvimento. (…) Nós temos um mercado com baixíssima flexibilidade, com baixíssima capacidade de contratar a curto prazo”, afirmou.
Ele lembrou ainda que, mesmo com eventuais mudanças de governo, as negociações entre os países nesse segmento têm fundamento.
“Agora nós temos a oportunidade de ter uma integração plural. É uma integração que envolve múltiplos players”, disse Moreira Neto.
Prioridade para os produtores argentinos
A primeira importação de gás da região de Vaca Muerta para o Brasil ocorreu no início de abril. A molécula foi produzida pela TotalEnergies e comecializada pela Matrix Energy, pela via da Bolívia.
Segundo a gerente Jurídica de Negócios da TotalEnergies Gas para o Cone Sul, Marisa Basualdo, a entrega foi possível depois de um período de um ano e meio de estudos e de definição de estratégias.
“Para TotalEnergies foi uma prioridade trazer a molécula. Trabalhamos com todos os agentes transportadores na Argentina, Bolívia e Brasil, conversando sobre qual seria a ideia de trazer a molécula argentina, para inaugurar essa nova era”, disse.
A entrega para o Brasil é considerada crucial para os produtores de Vaca Muerta. Segundo o gerente comercial da Pluspetrol, Pablo Campana, o mercado de exportação mais importante para a Argentina é o brasileiro.
“Temos duas coisas: uma possibilidade de curto prazo, que nos vai permitir trazer gás interrompível, com algumas limitações, mas é muito importante para demonstrar que isso é possível, e também estamos olhando muitas oportunidades a longo prazo que têm outras características”, disse.
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