EVEX Lisboa 2025

Potigás mapeia projetos de biometano e planeja adaptação da rede de gasodutos para hidrogênio verde

A distribuidora aposta em chamadas públicas e financiamento público para expandir o gás renovável no Rio Grande do Norte

LISBOA — A Potigás já mapeou de três a cinco projetos para injeção de biometano na rede de gás canalizado do Rio Grande do Norte.

Em entrevista exclusiva ao estúdio eixos, durante a EVEx Lisboa 2025, a presidente da Potigás, Marina Melo Alves, conta que a companhia aposta no modelo das chamadas públicas para destravar os projetos de gás renovável no estado — mas que há desafios a serem superados. Veja na íntegra acima.

“A gente tem feito estudos de como desenvolver o mercado local, porque embora a gente tenha vontade de colocar na nossa rede o biogás, fazer projetos, até mesmo projetos isolados de distribuição, a gente precisa que o produtor faça esses investimentos, comece a acreditar também no projeto”, disse.

Ela também cita a precificação do biometano como um desafio a ser superado, em especial no Nordeste. Mas acredita que a entrada dos bancos públicos no financiamento de projetos tende a dar mais competitividade ao biocombustível.

“Então, a gente acredita que esse financiamento possa estruturar melhor esses projetos, para que a gente tenha um preço competitivo também. Em que pese não seja só isso, o preço é um fator importante, mas não é absoluto”, comentou.

A executiva comentou também sobre as perspectivas em torno do início do mandato do biometano em 2026, como previsto na lei do Combustível do Futuro.

“A gente escutou que, aqui na Europa, existe um mandato, mas que não está sendo cumprido. Eu não espero que isso aconteça com a gente no Brasil”

“Porque mais do que uma imposição de uma lei, você precisa realmente ter viabilidade de mercado… Esse mercado não está de suprimento 100% desenvolvido. Mas eu acredito que a gente vai cumprir, sim, a meta”, complementou.

Rede compatível com novos combustíveis

Marina Melo destacou que a Potigás já estuda como adaptar sua rede de gasodutos à futura inserção de novos combustíveis, como o hidrogênio verde.

Segundo ela, as distribuidoras de gás, por serem essencialmente empresas de infraestrutura, precisarão se preparar para operar com uma variedade maior de gases combustíveis.

“Hoje por nossas redes passam o gás natural, mas amanhã o que vai passar por lá são gases combustíveis, os gases sustentáveis”, afirmou.

De acordo com a executiva, o principal desafio técnico está na compatibilidade do hidrogênio com os materiais utilizados nos dutos e nas diferenças de poder calorífico em relação ao gás natural.

Por isso, a empresa analisa soluções como sistemas dedicados ou misturas (blends) que permitam a injeção gradual do novo combustível na rede.

“Está na nossa visão de como é que a gente vai adaptar nossos sistemas, nossas estruturas para essa transição também, a nossa própria transição, para uma economia mais verde”, afirmou.

Hubs estratégicos

No Rio Grande do Norte, a Potigás acompanha o desenvolvimento de projetos de hidrogênio a partir da eletrólise da água com energia solar e eólica.

A executiva citou o Porto Indústria Verde, em construção no estado, como um dos vetores que podem acelerar o avanço da produção.

A presidente da distribuidora avalia que, até 2035, poderão existir operações concentradas em hubs industriais, com produção voltada a setores específicos, como o de aço.

Melo considera o cronograma viável para que a infraestrutura acompanhe a expansão da indústria do hidrogênio. Segundo ela, o desenvolvimento deve ocorrer de forma regionalizada, com sistemas dedicados em polos estratégicos, antes de alcançar escala nacional.

Principais pontos da entrevista com a presidente da Potigás

  • Mapeamento entre três a cinco projetos de injeção de biometano na rede de gás canalizado do Rio Grande do Norte.
  • Aposta em chamadas públicas para estimular investimentos e destravar projetos de gás renovável.
  • Precificação do biometano no Nordeste como desafio, com expectativa de aumento de competitividade por meio de financiamento público.
  • Expectativa de cumprimento do mandato do biometano em 2026, desde que haja viabilidade de mercado.
  • Estudo de adaptação da rede de gasodutos para novos combustíveis, incluindo hidrogênio verde, com uso de sistemas dedicados ou blends.
  • Observação de desafios técnicos na compatibilidade do hidrogênio com os materiais dos dutos e seu poder calorífico distinto do gás natural
  • Desenvolvimento regionalizado do hidrogênio, com hubs industriais e produção direcionada a setores específicos
  • Confiança na consolidação do biometano e do hidrogênio como vetores estratégicos na transição energética.

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