EVEx Lisboa 2025

Portugal vê armazenamento e interconexão como saídas para volatilidade das renováveis, diz operador

O diretor do Omip, Ricardo Nunes, destaca desafios de lidar com flutuações de preços com fontes renováveis intermitentes, e como armazenamento pode ajudar o mercado português

LISBOA — O diretor do Operador do Mercado Ibérico (Omip), Ricardo Nunes, acredita que não há, hoje, uma “bala de prata” para lidar com a volatilidade causada pela entrada de fontes renováveis intermitentes, mas que o armazenamento e a interconexão com as redes elétricas de outros países podem ajudar Portugal a lidar com questões como preços flutuantes e horários de pico de geração.

Em entrevista exclusiva ao estúdio eixos, durante a EVEx Lisboa 2025, Nunes conta que, com o aumento da participação da energia solar na matriz, o mercado português tem convivido com a ocorrência de preços negativos em horários de maior irradiação – o que, segundo ele, desincentiva novos investimentos na fonte.

“Portugal está a fazer um caminho muito interessante nesse ponto de vista, não só com o armazenamento, digamos, que está associado a uma unidade de produção, mas também com o próprio armazenamento independente. E um outro tema que já se fala há muitos anos tem a ver com a interconexão, comentou.

Ele cita que a ampliação da interconexão poderia funcionar como uma espécie de armazenamento indireto.

“As interconexões são ótimas entre Portugal e Espanha, mas entre a Península Ibérica e o resto da Europa já não são assim tão boas. E, portanto, se esta interconexão funcionasse melhor, poderia funcionar como uma espécie de um armazenamento indireto e, em períodos que Portugal precisasse, poderia importar energia mais barata, nomeadamente de França ou de outros países europeus”

“E, quando a energia fosse mais alta aqui, poderíamos exportar, fazendo com que ganhássemos uma certa estabilidade no nível de preços”, completou.

Armazenamento começa a ganhar espaço

Para o diretor do OMIP, não existe solução única. Ele defende que o avanço deve combinar políticas públicas consistentes e estratégias múltiplas, como a eletrificação e a criação de redes de armazenamento de energia.

Nunes conta, nesse ponto, que o armazenamento de energia começa a ganhar espaço no país, impulsionado pela redução de custos e pela ampliação dos diferenciais de preço entre horários de pico e fora de pico.

Ele considera que esse movimento abre espaço para que as baterias passem a atuar de forma independente, com modelos de negócio sustentáveis.

Ele também defende ajustes no perfil de consumo: “provavelmente, temos que também direcionar o consumo para as horas que, neste momento, são mais baratas”, o que ajudaria a suavizar variações de preço no mercado.

Ritmo da transição e segurança no mix

Nunes avalia que há um consenso crescente na sociedade portuguesa sobre a importância da transição energética e da descarbonização.

“Não é se é importante ou não descarbonizar, não é se é importante ou não fazer uma transição energética, mas sim, como é que a vamos fazer e em que ritmo é que a vamos fazer”, afirmou.

Ele lembra que Portugal precisou investir inicialmente em eólicas e solares, com incentivos tarifários.

Hoje, o país busca ampliar a geração offshore e as opções de armazenamento.

Segundo Nunes, o desafio é equilibrar sustentabilidade ambiental, segurança de abastecimento e viabilidade financeira. Ele ressalta que a transição deve ocorrer “de forma em que os portugueses consigam suportar essa transição energética”, evitando que o custo recaia de maneira desigual sobre a população.

O diretor cita como exemplo recente o apagão ocorrido em abril, reforçando a importância da segurança energética como um dos pilares do sistema.

Ele defende que o ritmo da transição deve ser gradual e alinhado à maturidade das tecnologias, alertando para o risco de sobreinvestir em soluções ainda incipientes.

“No final do dia são os portugueses que também estão, no fundo, a financiar esta transição energética”, disse.

Principais pontos da entrevista:

  • Volatilidade de preços: oscilações entre 500 e 20 €/MWh após 2022 expõem desafios do mercado elétrico.
  • Ritmos distintos da transição: países avançam em velocidades diferentes; Portugal mantém trajetória considerada de sucesso.
  • Mais eletrificação: expansão da demanda é essencial para equilibrar oferta renovável e reduzir picos de preço.
  • Avanço do armazenamento: queda nos custos e spreads elevados favorecem novos projetos de baterias.
  • Interconexões europeias: melhoria nas ligações com outros países pode funcionar como “armazenamento indireto”.
  • Estabilidade de preços: armazenamento ativo e consumo ajustado aos horários baratos ajudam a estabilizar o sistema.
  • Consenso social: portugueses concordam com a transição; debate foca no ritmo e nos custos.
  • Sustentabilidade financeira: transição deve ser viável e não excluir consumidores de menor renda.
  • Segurança energética: após apagões, reforço da confiabilidade do sistema é prioridade.
  • Foco competitivo: investimentos devem priorizar tecnologias em que Portugal tenha vantagem comparativa.

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