HOUSTON, TX — A inteligência artificial (IA) está no centro das discussões sobre energia no mundo, impulsionando tanto o crescimento da demanda energética quanto a busca por maior eficiência e descarbonização, afirmou o CEO da Shape Digital, Felipe Baldissera durante a CERAWeek, evento da S&P Global, em Houston (TX). Em entrevista ao estúdio eixos, ele destacou o impacto da tecnologia no setor e a necessidade de novos investimentos para garantir a segurança energética. Veja acima a íntegra da entrevista.
“A demanda global de energia deve crescer 50% ou mais nos próximos 10 ou 20 anos, e boa parte desse aumento vem da inteligência artificial”, afirmou Baldissera. O executivo explicou que a necessidade de treinar modelos de IA e expandir a infraestrutura de data centers está gerando um aumento expressivo no consumo de eletricidade.
Esse crescimento ocorre em um momento de transição energética, no qual fontes renováveis ganham espaço, mas sem substituir imediatamente o petróleo e o gás. “A transição não é sobre substituição, mas sim sobre complementaridade. Óleo e gás continuam essenciais, e os investimentos em exploração e produção (E&P) são fundamentais para garantir a segurança energética”, explicou.
Uso da IA na descarbonização
Se por um lado a IA contribui para o aumento da demanda, por outro, ela também pode otimizar operações e reduzir emissões no setor de óleo e gás. Baldissera afirmou que é possível reduzir as emissões de FPSOs sem grandes investimentos em infraestrutura, apenas com o uso de inteligência artificial para tornar os processos mais eficientes.
“Ao utilizar IA para monitoramento e otimização de operações, conseguimos manter as plantas offshore na melhor configuração possível, reduzindo consumo energético e emissões sem necessidade de grandes obras ou investimentos em capex”, explicou.
Brasil como polo de data centers
Baldissera também apontou o potencial do Brasil para se tornar um hub de data centers, aproveitando sua capacidade de geração de energia. “Nos EUA, há um gargalo de fornecimento de eletricidade para novos data centers. O Brasil tem vantagem competitiva, com fontes renováveis e reservas de óleo e gás que podem garantir essa oferta”, afirmou.
A descarbonização do setor também esteve em pauta. O executivo destacou que a regulação do mercado de carbono brasileiro, com o recém-aprovado modelo de cap and trade, deve impulsionar investimentos em tecnologias de redução de emissões.
“O Brasil já tem uma posição competitiva, com FPSOs de alta produtividade que reduzem a pegada de carbono por barril. Com tecnologias complementares, como captura e armazenamento de carbono (CCS) e FPSOs mais eficientes, podemos melhorar ainda mais esse cenário”, disse.
No longo prazo, a sobrevivência das empresas de óleo e gás dependerá da capacidade de produzir com menor custo e menor impacto ambiental. “Ninguém sabe até quando o petróleo será o centro da economia, mas será uma competição de eficiência. Quem tiver menor custo e menor emissão de carbono vai permanecer no mercado”, concluiu Baldissera.