Segurança do suprimento

Guerra no Irã gera risco real no suprimento de fertilizantes para o Brasil, diz diretor da Atlas Agro

Segundo o diretor da empresa fertilizantes, o Brasil precisa criar mecanismos para reduzir exposição ao mercado externo

Tensões geopolíticas e guerras em que estão envolvidos países produtores de fertilizantes e grandes supridores para o mercado brasileiro, como o Irã, podem afetar a oferta desses produtos para o agronegócio brasileiro, na avaliação do diretor de operações da Atlas Agro, Rodrigo Santana.

“Se essa guerra [entre Irã e Israel] acabar durando um pouco mais de tempo, como é a situação da Rússia com a Ucrânia, que dura até hoje, tem risco real de faltar fertilizantes no mercado brasileiro. Isso vai ter um impacto muito grande na produtividade agrícola”, disse Santana em entrevista ao estúdio eixos durante o Energy Summit, no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (26/6).

Segundo o diretor da empresa fertilizantes, o Brasil precisa criar mecanismos para reduzir essa exposição ao mercado externo.

“Nos últimos cinco anos, houve três situações de problemas geopolíticos que ocasionaram esses problemas. Isso vai se tornar cada vez mais frequente”, frisou.

Cerca de 85% dos fertilizantes consumidos no país são importados, sendo a Rússia a origem da maior parte do produto que desembarca em solo brasileiro.

Santana também chamou a atenção para a participação do Irã para o abastecimento do mercado brasileiro.

“Hoje, o Brasil importa 17% da ureia utilizada do Irã e os preços dos fertilizantes voltaram a subir. A gente não sabe se esse cessar-fogo vai durar ou não e se essa guerra vai acabar durando mais tempo, como é o caso da Rússia e da Ucrânia, que o  conflito dura até hoje”, disse.

Reforma do setor elétrico afeta projetos

A Atlas Agro tem um projeto para a produção de fertilizantes verdes a partir de hidrogênio, em Uberaba, no Triângulo Mineiro. Há expectativa de criação de um polo de fertilizantes na região.

A revisão dos incentivos para a autoprodução de energia pode impactar o projeto, segundo Santana. A mudança está prevista na medida provisória 1300/2025, da reforma do setor elétrico, enviada pelo governo ao Congresso Nacional em maio.

O executivo ressaltou que é importante ter garantias jurídicas para avançar com grandes projetos.

“Sempre que você tem um novo tabuleiro na mesa ou a regra do jogo é alterada, isso gera mais insegurança e faz com que você tome mais tempo para conseguir avançar. Essa última medida provisória colocou algumas mudanças nessa regra, principalmente no curso da energia gerada final para os consumidores industriais”, disse.

Ele lembrou, entretanto, que a MP conta com 600 emendas, por isso acredita ser necessário aguardar o desenrolar dessas medidas para avaliar o tamanho do impacto.

“A gente está falando de projetos de bilhões de dólares”, pontuou.

Em relação ao Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixo Carbono (PHBC), Santana acredita que há um “descasamento de timing”, com a definição do período de entre 2028 e 2032 para a vigência dos incentivos fiscais para esses projetos.

Ele afirmou, ainda, que espera que o Programa de Desenvolvimento da Indústria de Fertilizantes (Profert) traga alternativas para desonerar investimentos.

Projeto da Atlas Agro em Uberaba

Santana afirmou que o projeto de fertilizantes verdes, produzido a partir do hidrogênio, entrará agora na última fase antes da decisão de investimento.

Na nova etapa, será feito o mapeamento de riscos do front-end engineering design (FEED, na sigla em inglês).

A etapa atual do projeto envolve a definição detalhada dos requisitos técnicos, avaliação de custos iniciais, garantindo que aspectos cruciais sejam considerados antes da fase de execução.

“A gente vai entrar no FEED esse ano e, depois, temos entre 12 a 18 meses, até tomar a decisão final de investimento. Então a gente continua o nosso cronograma da decisão final de investimento para 2026”, estimou.

Já foi concluída a primeira etapa, na qual é avaliado o desenvolvimento do negócio,  que inclui o terreno, a disponibilidade hídrica, acesso à rede e conversas com clientes. Também foi finalizada a fase de pré-engenharia, na qual é feita uma primeira avaliação, com estimativas para o investimento.

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