Integração regional

Gás argentino terá que ser competitivo para buscar seu espaço no Brasil, diz Sylvie D'Apote

Diretora do IBP acredita que investidores argentinos terão dificuldades de fechar contratos de longo prazo com consumidores brasileiros

BUENOS AIRES — Ao chegar no Brasil, o gás natural argentino terá que buscar o seu espaço num mercado aberto e concorrencial e que tem dificuldades, hoje, de assumir contratos de longo prazo como desejam os investidores do país vizinho, avalia a diretora-executiva de Gás Natural do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), Sylvie D’Apote.

Em entrevista ao estúdio eixos, durante o Midstream & Gas Day 2025, evento organizado pelo Econojournal, em Buenos Aires, a executiva afirmou que o gás importado da Argentina terá de concorrer com o aumento da oferta de gás nacional.

“É um mercado que tem gás do pré-sal, onshore, GNL [gás natural liquefeito] e o gás da Bolívia ainda por um tempo determinado. [O gás argentino] vai ter que buscar seu mercado, ser competitivo”.

“No Brasil os preços não são dados, existe uma mecânica de competição que está gerando preços diferenciados e os argentinos vão ter que se inserir nesse mercado aberto”, comentou.

Ela cita que o gás onshore de Vaca Muerta, no país vizinho, tem custos de extração muito competitivos – mas que terá de percorrer cerca de 4 mil quilômetros de gasodutos, com tarifas de transporte empilhadas, para chegar aos principais centros de consumo do Brasil.

“É uma equação complicada. Tem molécula barata, mas que tem que remunerar transporte em três países, tendo a Bolívia como trânsito”, disse.

Perfil de contratos no Brasil é de curto prazo

Sylvie destacou, ainda, que os argentinos terão dificuldades de encontrar agentes no Brasil propensos a assinar contratos de aquisição de gás de longo prazo e, assim, financiar os investimentos necessários em infraestrutura para ampliar a capacidade de envio de gás firme ao mercado brasileiro.  

Ela cita que a abertura do mercado livre, no país, tem se dado por meio de contratos com prazos mais curtos.

“Hoje o mercado brasileiro não tem contatos de 15 anos, nem na molécula nem no transporte. Quem vai ser esse offtaker [tomador]?” 

“Lá atrás foi a Petrobras, mas o mundo mudou. A Petrobras não é mais a empresa que colocava dinheiro adiantado num contrato de 20 anos”, disse.

E, mesmo que a indústria brasileira assuma esse risco, ela acredita que o gás argentino terá de superar a concorrência com o gás do pré-sal por esse mercado de longo prazo. 

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