LISBOA — O Brasil chega à COP30 com o desafio de mostrar ao mundo sua capacidade de liderar a transição energética global e, ao mesmo tempo, de propor caminhos próprios de desenvolvimento sustentável.
A avaliação é de Maria João Rolim, sócia da Rolim Goulart Cardoso Advogados, em entrevista ao estúdio eixos durante o EVEx Lisboa 2025. Assista na íntegra acima.
De acordo com Rolim, a conferência do clima de Belém (PA), em novembro, será uma oportunidade para o país “mostrar a perspectiva do próprio país” – e, em especial, de uma região amazônica que abriga milhões de brasileiros que já vivenciam os efeitos diretos das mudanças climáticas.
Segundo ela, sediar a conferência na Amazônia amplia a visibilidade de uma agenda que conecta preservação ambiental, justiça social e políticas de desenvolvimento regional.
Dúvidas sobre legado do petróleo na Foz
A advogada observa que o debate sobre a abertura de uma nova fronteira exploratória de petróleo na Bacia Foz do Amazonas tem sido conduzido como parte dessa agenda de crescimento econômico do Norte. Ela pondera, contudo, que falta comparar os ganhos dessa exploração com os de outras possíveis fontes de riqueza.
“Acho que falta esse debate, o debate das alternativas, da comparabilidade. E também qual aquele que pode render mais em desenvolvimento efetivo para as pessoas”, afirma.
Para Rolim, o país precisa discutir o valor econômico da floresta e de seus serviços ambientais de forma mais estruturada. Ela defende que o Brasil pode oferecer soluções ambientais ao mundo mantendo a floresta em pé.
“Ter rotas e alternativas, é positivo. Então, a Amazônia tem milhares de riquezas ainda não exploradas, o Brasil pode fornecer serviços ambientais, manter a floresta de pé. A Amazônia é um serviço ambiental hoje”, diz.
A advogada pondera que insistir na abertura de novas fronteiras fósseis representa uma aposta limitada no tempo, em um mercado cuja demanda tende a cair.
“É como se a gente tivesse investido numa comodity do passado”, observa.
E questiona o possível legado da exploração do petróleo na região: “o petróleo tem um potencial muito grande de trazer riqueza, mas talvez não prosperidade”.
“Então será que a gente realmente só tem a exploração? E às vezes, manter aquela riqueza intocada pode ter mais valor a longo, médio prazo do que fazer o petróleo”, acrescenta.
Desenvolvimento e oportunidades locais
Rolim argumenta que o desenvolvimento da Amazônia deve vir acompanhado de capacitação e diversificação econômica, permitindo que a população local se beneficie de novas atividades produtivas associadas à economia verde.
A advogada enfatiza que a transição energética só será justa se feita de forma inclusiva e simultânea ao crescimento econômico.
“Você tem que fazer o desenvolvimento compartilhando esse desenvolvimento ao longo do fazer”, explica.
A advogada também relaciona o avanço de novas tecnologias e energias limpas à criação de oportunidades locais. Segundo ela, investir em soluções sustentáveis significa evitar “perpetuar quem já sabe fazer a água correndo para o mar. O rio correndo para o mar”.
Rolim considera que o país deve repensar seu papel global, ponderando as tentações imediatas da exploração fóssil.
“Ela é como um analgésico, tira a dor imediatamente. Mas não resolve o problema”, conclui.
Principais pontos da entrevista:
- COP30 em Belém: oportunidade para o Brasil mostrar sua própria perspectiva sobre clima e desenvolvimento.
- Foco na Amazônia: região escolhida por concentrar grande população e abrigar a floresta, símbolo das soluções ambientais que o país pode oferecer.
- Nova fronteira de petróleo: defesa de um debate mais amplo sobre alternativas econômicas para o Norte.
- Comparação de modelos: falta discussão sobre outras riquezas que também gerem desenvolvimento, como o uso sustentável da floresta.
- Economia verde: a Amazônia pode ser fonte de serviços ambientais e manter a floresta em pé pode gerar valor a médio e longo prazo.
- Transição energética: necessidade de combinar crescimento econômico com inclusão social e novas capacitações.
- Crítica à aposta fóssil: investir em petróleo é apostar “em uma commodity do passado”, com demanda em declínio.
- Desenvolvimento sustentável: defesa de um modelo que promova prosperidade compartilhada e novas oportunidades locais.