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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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A série de debates dos Diálogos da Transição volta em agosto.
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O mais recente relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) sobre o clima na América Latina e Caribe traz notícias, no mínimo, alarmantes sobre os rumos que as políticas energéticas e ambientais têm nos levado até agora.
Secas intensas, chuvas extremas, ondas de calor terrestres e marinhas e derretimento de geleiras estão afetando “da Amazônia aos Andes, do Oceano Pacífico e Atlântico até as profundezas nevadas da Patagônia”.
Com as taxas de desmatamento mais altas desde 2009, as emissões de gases de efeito estufa estão aumentando e a temperatura do planeta também. As geleiras andinas perderam mais de 30% de sua área em menos de 50 anos e a mega seca do Chile Central é a mais longa em pelo menos 1.000 anos.
“O relatório mostra que os riscos hidrometeorológicos, incluindo secas, ondas de calor, ondas de frio, ciclones tropicais e inundações, infelizmente levaram à perda de centenas de vidas, danos graves à produção agrícola e infraestrutura e deslocamento humano”, disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.
O especialista alerta que o aumento do nível do mar e o aquecimento dos oceanos tendem a continuar afetando os meios de subsistência costeiros — incluindo turismo, saúde, alimentação, energia e segurança hídrica.
“Na América do Sul, a contínua degradação da floresta amazônica ainda está sendo destacada como uma grande preocupação para a região, mas também para o clima global, considerando o papel da floresta no ciclo do carbono”, completa Taalas.
O clima na América Latina e Caribe:
- Temperatura continua aumentando: A taxa média de aumento da temperatura foi em torno de 0,2°C/década entre 1991 e 2021, comparada a 0,1°C/década entre 1961 e 1990.
- As geleiras nos Andes tropicais perderam 30% ou mais de sua área desde a década de 1980. Algumas geleiras no Peru perderam mais de 50% de sua área. O recuo das geleiras e a perda de massa de gelo aumentaram o risco de escassez de água para a população e os ecossistemas andinos.
- Nível do mar sobe a um ritmo mais rápido do que globalmente: isso ameaça uma grande proporção da população, que está concentrada em áreas costeiras — contaminando aquíferos de água doce, erodindo as linhas costeiras, inundando áreas baixas e aumentando os riscos de tempestades.
- Mega seca do Chile continuou em 2021: com 13 anos até o momento, esta constitui a seca mais longa nesta região em pelo menos mil anos, exacerbando uma tendência de seca. Além disso, uma seca de vários anos na Bacia Paraná-La Plata, a pior desde 1944, afetou o centro-sul do Brasil e partes do Paraguai e Bolívia.
- Os danos induzidos pela seca na bacia do Paraná-La Plata à agricultura reduziram a produção agrícola, incluindo soja e milho, afetando os mercados agrícolas globais. Na América do Sul em geral, as condições de seca levaram a um declínio de -2,6% na safra de cereais 2020-2021 em comparação com a temporada anterior.
- Temporada de furacões no Atlântico: 2021 teve o terceiro maior número de tempestades nomeadas já registradas, 21, incluindo sete furacões, e foi a sexta temporada consecutiva de furacões no Atlântico acima do normal.
- Chuvas extremas em 2021: Inundações e deslizamentos de terra nos estados brasileiros da Bahia e Minas Gerais levaram a uma perda estimada de US$ 3,1 bilhões.
- Desmatamento na floresta amazônica brasileira dobrou em relação à média de 2009-2018, atingindo seu nível mais alto desde 2009. 22% a mais de área florestal foi perdida em 2021 em comparação a 2020.
- Migração climática: Os Andes, o nordeste do Brasil e os países do norte da América Central estão entre as regiões mais sensíveis aos deslocamentos de pessoas por consequência do clima — fenômeno que aumentou nos últimos 8 anos.
Cobrimos por aqui
- Quase um Rio de Janeiro a menos: o saldo do desmatamento na gestão de Bolsonaro
- Número de mortes causadas por extremos climáticos foi 15 vezes maior na última década
- COP27, justiça climática e as lições de Petrópolis
Desconto de dez centavos para a gasolina custa onze centavos do etanol
Entre crise climática e crise de preços dos combustíveis, o governo de Jair Bolsonaro escolheu a última e decidiu intervir no programa de descarbonização para tentar cortar 10 centavos no litro da gasolina, a pouco mais de dois meses das eleições.
A intervenção no RenovaBio via decreto que prorrogou a data para distribuidoras de combustíveis comprovarem o atendimento à meta de descarbonização derrubou o preço do CBIO — título comercializado em bolsa de valores que equivale a uma tonelada de carbono.
Os CBIOs vinham em tendência de forte alta desde o início do ano, chegando a R$ 202,65 no final de junho. Desde o anúncio da intervenção, o crédito vem despencando.
“Vale ressaltar a importância do CBIO para a definição do mix da usina [de etanol]. O produtor deve comparar o preço do hidratado + CBIO versus preço pago pelo açúcar NY + basis + prêmio de polarização”, explica Yuri Renni, analista sênior de inteligência de mercado de energia renovável da hEDGEpoint Global Markets.
Para o hidratado, a queda do CBIO de R$ 202,65 no final de junho para R$ 108,08 em 20/07 representa uma queda de receita de R$ 0,11 por litro vendido.
O impacto da queda dos preços do CBIO também foi sentido no mercado de açúcar.
“Uma vez que o Brasil é o principal fornecedor do adoçante no momento, uma redução do preço do etanol significa uma queda do piso do açúcar e, portanto, pode ser entendido como baixista”, afirma.
O analista também observa que neste ano houve uma antecipação das partes obrigadas em adquirir CBIOs, o que teria gerado a escalada de preços.
“Quando comparamos junho de 2021 com 2022 temos que a participação da parte obrigada aumentou de 47% para 89%”, completa.
Para o governo, está tudo bem
Durante encontro com empresários do agro ontem (25/7), no Global Agribusiness Forum, o ministro da Agricultura, Marcos Montes, disse que o RenovaBio é “um dos maiores programas de sustentabilidade que o mundo conhece” e que o governo vai manter o programa, mas a decisão de intervir nos prazos é “propícia para o momento”.
Inverno sem aquecedor
Estados-membros da União Europeia concordaram nesta terça (26/7) com um plano de emergência para usar menos gás, em meio às incertezas sobre o abastecimento com gás russo no inverno que se aproxima.
A Rússia era o principal fornecedor de gás do bloco, com 40% de seu suprimento.
Na última quarta (20/7), a Comissão Europeia apresentou uma proposta de metas para que todos os estados da UE reduzam voluntariamente o consumo de gás em 15%, isto é, 45 bilhões de metros cúbicos entre agosto de 2022 e março de 2023.
O volume é baseado no consumo médio dos países entre 1º de agosto e 31 de março nos últimos cinco anos.
Desde a invasão à Ucrânia em fevereiro, a Rússia vem reduzindo seus fluxos de gás para a Europa. Nesta semana, a empresa de energia russa Gazprom anunciou novos cortes, e Putin vem ameaçando uma interrupção total.
“O compromisso coletivo de reduzir em 15% é muito significativo e ajudará a preencher nosso estoque antes do inverno”, disse em nota a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
“O anúncio da Gazprom de que está cortando ainda mais as entregas de gás para a Europa através do Nord Stream 1, sem motivo técnico justificável, ilustra ainda mais a natureza não confiável da Rússia como fornecedor de energia”, completa.
Os cortes de gás são voluntários, mas podem se tornar obrigatórios em caso de emergência de abastecimento. Para isso, uma maioria de 15 países da UE precisa concordar com a medida.
A proposta inicial era de corte obrigatório de 15%, mas vários países se opuseram ao plano, com Espanha, Polônia e Grécia entre os críticos. Os governos europeus acabaram concordando em permitir que alguns países reduzissem ou optassem por não cumprir as metas obrigatórias. Reuters
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