RIO — Enquanto o Brasil coloca a ampliação da malha de gasodutos no centro da política energética, com o objetivo de aumentar o aproveitamento do gás nacional, a Europa se prepara para uma nova onda de investimentos em infraestrutura — mas dessa vez para transporte daquele que a União Europeia acredita ser o combustível do futuro: o hidrogênio.
A Rystad Energy estima que existem, hoje no mundo, 91 projetos de dutos para hidrogênio planejados e previstos para entrar em operação por volta de 2035. São cerca de 30,3 mil km — sete vezes mais do que o tamanho da malha atual de transporte de hidrogênio.
Mais de 85% da rede planejada está na Europa.
Dentro da geopolítica da energia, o hidrogênio é, hoje, a aposta da Europa para eliminar gradualmente as importações de combustíveis fósseis da Rússia.
E o hidrogênio desponta como elemento importante de integração energética. Espanha, França e Alemanha miram, por exemplo, dutos transfronteiriços para o hidrogênio.
- Para aprofundar: União Europeia avança em gasoduto para hidrogênio
Gasodutos serão reaproveitados
Mas o gasoduto que transporta gás, hoje, pode ser o duto de hidrogênio do futuro.
A construção de novos gasodutos dedicados ao hidrogênio será complementada com o reaproveitamento das redes de gás existentes.
De acordo com a iniciativa European Hydrogen Backbone (EHB), que reúne 31 operadores europeus de sistemas de transporte de gás, 60% das redes poderão ser reaproveitadas até 2040.
A Rystad destaca que o declínio do gás dará vida a um sistema de transporte que, de outra forma, poderia enferrujar.
Após modificações, os gasodutos de aço, reaproveitados, podem acomodar 100% de hidrogênio — ou 20%, se misturados ao gás.
A consultoria também cita que o uso de gasodutos existentes para o transporte de hidrogênio é quatro vezes mais econômico do que a construção de novos dutos.
Injeção de hidrogênio na rede em debate no Brasil
No Brasil, a injeção compulsória do hidrogênio nas redes de gás é o conceito central do PL 725/2022, de autoria do ex-senador Jean Paul Prates (PT/RN).
A Lei do Hidrogênio prevê que, até 2032, seja adicionado o percentual mínimo de 5% de hidrogênio na rede de gasodutos — e uma injeção de 10% até 2050.
A Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) já sinalizou que quer participar ativamente da definição das políticas públicas para o hidrogênio.
O governo Lula criou um Grupo de Trabalho Interministerial — que ficará sob o guarda-chuva da Secretaria de Planejamento e Transição Energética do Ministério de Minas e Energia — para tratar de políticas para o combustível.
O Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), lançado no governo anterior, ainda carece de metas e objetivos claros.