O uso de baterias para armazenar energia pelos consumidores finais vai seguir inviável economicamente na maior parte dos casos nos próximos dez anos, concluiu a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) no caderno de micro e mini geração distribuída do Plano Decenal de Energia 2034.
O documento, que está em elaboração, é usado para orientar políticas públicas, novos investimentos e a operação do sistema elétrico brasileiro.
Nesse recorte, a EPE trata das aplicações behind the meter (BTM), termo em inglês que engloba soluções adotadas por consumidores, como a geração própria de energia, backups e o próprio armazenamento.
A conclusão é de que as baterias devem atender sobretudo a nichos de mercado, com foco naqueles consumidores que usufruem dos benefícios complementares desses sistemas, como prevenção a blecautes ou vantagens ambientais e logísticas na substituição de geradores a diesel.
A EPE aponta que o preço das baterias teria que cair muito além do atual para o investimento ser viável economicamente aos usuários de baixa tensão que optam pela tarifa branca, variável ao longo do dia.
Também foi considerada baixa a viabilidade econômica do uso das baterias para ampliar o auto consumo dos clientes de micro e mini geração distribuída. Nesse modelo, o consumidor pode instalar um pequeno sistema de geração, que injeta a energia na rede da distribuidora e gera créditos que são descontados na tarifa de luz.
A bateria poderia evitar a injeção na rede, armazenando o excedente da geração para consumo posterior. Mas, segundo a EPE, hoje a regulação da MMGD no Brasil não favorece o armazenamento da geração própria.
A conclusão é de que a adoção de baterias pode ser vantajosa apenas para clientes na rede de alta tensão que tenham grande demanda no horário de ponta do consumo, quando a energia é mais cara.
Com os sistemas de armazenamento, esses clientes poderiam deslocar o consumo para fora do horário de ponta. Mesmo assim, a EPE aponta que na maior parte desses casos ainda é mais competitivo para esses clientes optar por geradores a diesel para atender a demanda nesses momentos.
Os estudos da EPE usam como referência um custo de R$ 4.000/kWh para um sistema de armazenamento comercial ou residencial hoje. A previsão é que as baterias de íon-lítio podem ter uma queda adicional de 30% no custo do investimento entre 2024 e 2034 no mercado internacional.
No entanto, a EPE reconhece que as baterias têm um aumento no preço final de 74% no Brasil em relação ao mercado internacional, por causa dos altos tributos. Os estudos confirmam que a desoneração poderia levar a quedas nos preços. A redução da carga tributária para esses equipamentos é um dos pleitos que o setor tem levado ao governo.
Para além do uso pelos consumidores finais, as baterias podem prestar diversos serviços ao sistema elétrico, como o armazenamento da geração solar e eólica para fornecimento de potência e o controle da tensão, além de melhor gestão dos sistemas de transmissão e distribuição.
As discussões sobre a introdução do armazenamento de energia por meio das baterias no sistema elétrico brasileiro ganhou tração este ano, por causa da queda no preço internacional desses equipamentos. O governo ainda discute se vai permitir a participação desses sistemas no leilão de potência previsto para este ano.
Atualizado para esclarecer que a análise da EPE, neste recorte, trata do uso de baterias por consumidores finais (behind-the-meter)