Crise eólica

Indústria eólica projeta recuperação no Brasil a partir de 2027

Novos clientes e a chegada de empresas chinesas para produção de equipamentos no Brasil devem aquecer o setor

Foto: Divulgação/Abeeólica
Foto: Divulgação/Abeeólica

RIO — A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica), Elbia Gannoum, espera que o setor volte a crescer a partir de 2027, após um período de retração causado pelos cortes de geração (curtailments) e pela queda na contratação de novos projetos. 

Segundo a executiva, os contratos que começam a ser firmados em 2025 devem se refletir em uma retomada mais robusta em dois anos.

“O ano de 2024 foi a primeira vez em que a curva de crescimento de capacidade se inverteu. Em 2023, tivemos 4,8 GW; em 2024, 3 GW; e em 2025, 2 GW. Afundou mesmo, e em 2026 vai continuar afundando. Contudo, em 2027 esse cenário se inverte e volta a crescer com mais força”, diz a executiva em entrevista à agência eixos

Cadeia industrial em crise

A desaceleração já levou ao fechamento de fábricas importantes. Em 2023, a Siemens Gamesa paralisou sua planta na Bahia e, neste ano, a GE Vernova encerrou as atividades de sua unidade de turbinas, a LM Wind Power, em Suape (PE). 

Apesar do cenário adverso, Gannoum acredita que a chegada de fabricantes chineses reaqueça a produção local. Ela cita Goldwind, Mingyang, Windey Energy, Sany e Envision entre os exemplos.

“Temos visto uma recuperação da cadeia de produção global com a entrada da China. Empresas chinesas estão chegando ao Brasil”, pontua. 

Ela avalia que os novos contratos deverão alavancar a indústria.

Demanda renovada

Entre os vetores que devem sustentar a retomada, a presidente da Abeeólica aponta a entrada de grandes consumidores de eletricidade, como data centers ainda nesta década, e o hidrogênio verde a partir dos anos 2030. 

Outro fator será a adoção de baterias no armazenamento de energia, cujo primeiro leilão vem sendo articulado pelo governo, após a realização do Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP).

“Batrias são muito importantes para o setor, inclusive por essa questão da flexibilidade. As baterias são muito boas por seu atributo ao sistema elétrico. Estamos trabalhando para que o leilão seja realizado ainda este ano”, ressalta.

A executiva fez críticas à modelagem do LRCAP, que prevê a contratação de térmicas a carvão e gás natural, além da ampliação de hidrelétricas. 

Para ela, a inclusão do carvão é um contrassenso em um sistema elétrico majoritariamente renovável como o brasileiro.

“O LRCAP com carvão é uma contradição de Brasil. Ainda é muito arraigada a ideia de que a energia de base vem de térmicas. Você poderia escolher ao menos térmicas mais amigáveis, a gás natural, com um modelo mais adequado de backup flexível”, avalia.

Offshore a partir de 2030

O desenvolvimento dos projetos de eólicas offshore também depende de um leilão.

De acordo com Gannoum, a expectativa é que o governo publique o decreto que regula a cessão de áreas e estabeleça as primeiras datas de leilão até a COP30, que será realizada em Belém, em novembro.

Gannoum é a enviada especial para energia na cúpula climática, com a missão de mobilizar governos, setor privado, sociedade civil, ciência e finanças em torno da transição energética. 

“Estamos articulando com o setor privado, recebendo estudos e propostas que estão sendo costuradas”, diz.

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