BRASÍLIA — A capacidade eólica onshore na América do Sul deve atingir 83 gigawatts (GW) até 2034, com uma taxa de crescimento anual de 6,5%, segundo relatório da Wood Mackenzie, divulgado nesta quinta (3/7).
Brasil, Chile e Argentina representam 84% da projeção regional de 39 GW de expansão.
De acordo com o relatório South America onshore wind power, grandes clientes comerciais e industriais estão impulsionando o crescimento da energia eólica por meio de PPAs corporativos nos mercados mais maduros, enquanto os países menos desenvolvidos ainda dependem de leilões governamentais.
No entanto, restrições na transmissão representam grandes desafios para a integração das renováveis, com aumento nas ocorrências de cortes de geração, a exemplo do Brasil.
“O excesso de oferta de energia está dificultando o desenvolvimento sustentável no Brasil e no Chile, após o recente boom das renováveis”, comenta Kárys Prado, analista sênior da Wood Mackenzie.
“De forma geral, os obstáculos relacionados à rede elétrica e a forte concorrência da energia solar contribuem para a desaceleração nos próximos anos”, acrescenta.
No longo prazo, Prado enxerga outros mercados atraindo mais atenção de investidores, à medida que gargalos relacionados ao licenciamento são resolvidos.
Ainda assim, a expectativa é que de crescimento limitado pela baixa demanda e infraestrutura insuficiente.
Transmissão desafia Brasil e Chile
Para o maior mercado da América do Sul, a previsão da Woodmac é que a expansão do mercado livre continue a impulsionar novas adições de energia eólica, embora esse crescimento tenda a ser mais moderado.
Um dos motivos é a desaceleração na corrida pelas renováveis subsidiadas pela rede.
A consultoria indica potencial melhora no longo prazo com a recuperação da demanda, mas a visão de curto prazo permanece pessimista, especialmente pelas limitações na rede elétrica.
“Por outro lado, embora o risco de desacoplamento afete negativamente as renováveis em geral, a energia eólica pode conquistar preços mais altos por meio da modulação personalizada dos PPAs, ajudando a superar a concorrência da energia solar”, avalia o relatório.
Já os esforços de descarbonização do Chile prometem impulsionar rapidamente a transição do mercado elétrico para as renováveis, com projeções apontando que a meta de 2030 será atingida antes do previsto.
No entanto, a oferta superou a demanda e a capacidade da rede, o que representa um desafio para os desenvolvimento de médio prazo.
“A pressão sobre a rede deve aumentar antes de diminuir, à medida que o armazenamento de energia e a infraestrutura de transmissão amadurecem na próxima década”, analisa.
Crescimento constante na Argentina
A capacidade eólica da Argentina, por outro lado, deve continuará crescendo de forma constante, apesar dos desafios macroeconômicos.
O relatório destaca o programa Energia Argentina (MATER), que permite a negociação livre entre grandes consumidores e geradores de energia renovável, como uma alavanca para os PPAs corporativos.
Ainda assim, indica que a desvalorização da moeda dificulta os investimentos em infraestrutura crítica de transmissão.
Colômbia e Peru na retaguarda
A Woodmac observa que o potencial eólico da Colômbia ainda não foi aproveitado, e baseia suas projeções para os próximos dez anos em projetos contratados em rodadas de leilões de 2019.
“O desenvolvimento enfrenta obstáculos estruturais e regulatórios, especialmente em La Guajira, onde grande parte da capacidade contratada ainda não saiu do papel. As perspectivas indicam que o crescimento eólico deve ganhar força após 2027, com a resolução gradual de problemas de licenciamento e conexão à rede”, diz o relatório.
Caso semelhante no Peru, onde os leilões de energia estão paralisados há mais de uma década, devido a sucessivas mudanças de governo.
Hoje, a maior parte das adições de capacidade no país depende do mercado livre e as metas nacionais de renováveis não hidráulicas estão atrasadas, por falta de políticas públicas consistentes.
“A capacidade da região de resolver os gargalos de infraestrutura e manter marcos regulatórios estáveis será essencial para concretizar seu pleno potencial em energia eólica”, conclui Prado.