Calama (CL) — Mercado mais maduro para o armazenamento em baterias na América do Sul, o Chile pretende chegar a 6 gigawatts (GW) de capacidade nessa tecnologia até 2030, segundo o ministro da Energia, Diego Pardow.
A estimativa inicial do atual governo era atingir 2GW até o fim da década, mas com a queda no custo global da tecnologia, a meta vai ser atingida já no começo de 2026.
O ministro reconhece que a redução no preço das baterias globalmente nos últimos anos ajudou a viabilizar o desenvolvimento da tecnologia no país.
No entanto, ele ressalta que o governo chileno buscou simplificar os procedimentos para a liberação dos projetos e o acesso aos terrenos, assim como acelerar a regulação e desenvolver formas de remunerar o suprimento de potência ao sistema, de modo a viabilizar os investimentos.
“As formas como operam estas baterias, quando despacham, sob quais condições, são questões técnicas muito detalhadas e que precisam ser atualizadas, porque esta é uma tecnologia que não existia de forma massiva há dez, vinte anos”, disse a jornalistas brasileiros.
“Estamos muito disponíveis para colaborar com o que o governo do Brasil precisa [no tema do armazenamento]”, acrescentou o ministro.
Na quinta-feira (24/4), a Atlas Renewable Energy inaugurou um dos maiores projetos do Chile, o BESS Del Desierto, na região de Antofagasta.
A planta está ligada a uma usina solar já existente da Atlas na região, mas funciona de forma independente e autônoma, com capacidade instalada de 200 megawatts (MW) e armazenamento de 800 megawatts-hora (MWh). O projeto exigiu um financiamento de US$ 250 milhões.
Bateria solar
A energia armazenada nas baterias é vendida à comercializadora Emoac, do grupo Copec. Parte vai ser direcionada para abastecer a frota de ônibus elétricos da região. Ao todo, o projeto tem capacidade para abastecer 2.500 ônibus elétricos em um percurso de 500.000 km.
Na prática, a energia elétrica gerada na usina solar durante o dia vai recarregar os ônibus à noite, quando não estão rodando.
A Atlas já tem acordos para desenvolver mais dois projetos de armazenamento similares no Chile, um deles para fornecer energia para a mineradora estatal Codelco.
O ministro ressalta que as baterias também são importantes para prover segurança ao sistema elétrico, com serviços de controle de frequência, por exemplo.
Em fevereiro de 2025, o Chile sofreu um apagão que afetou 80% dos consumidores de energia e fez o governo decretar estado de emergência.
As causas do incidente ainda estão em apuração.
Padow reconhece, no entanto, que o Chile está deixando de ter um parque elétrico mais flexível, a partir da geração termelétrica a combustíveis fósseis, e ampliando a geração renovável, mais intermitente.
Segundo o ministro, ainda é cedo para estipular as causas e o país está buscando usar aprendizados do apagão que ocorreu no Brasil em agosto de 2023.
“O grande aprendizado que temos do apagão que o Brasil teve em 2023 é que as hipóteses com as quais se começa a investigação forense de um blackout não são as mesmas de quando terminam”, diz.
A jornalista viajou ao Chile a convite e com despesas pagas pela Atlas Renewable Energy.