A energia eólica se consolida como uma das principais forças na matriz energética brasileira. Esse movimento está alinhado à necessidade global de reduzir as emissões de carbono através de soluções sustentáveis.
Em 2023, o setor eólico foi responsável por uma parcela elevada do crescimento da matriz elétrica brasileira, representando 47,65% da expansão energética, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Esse avanço reflete não apenas a viabilidade técnica e econômica dessa fonte de energia, mas também o desenvolvimento econômico e social das regiões onde os complexos eólicos estão localizados.
O verdadeiro desafio, no entanto, não está na implantação de mais parques eólicos, mas sim em garantir que os benefícios dessa expansão realmente alcancem a todos.
Para que a energia eólica seja um vetor de transformação social, é preciso ir além dos números e investir nas pessoas – desde a qualificação da mão de obra local até o desenvolvimento de projetos socioambientais que realmente integrem essas comunidades ao processo de desenvolvimento.
No Brasil, o setor de energia eólica tem desempenhado um papel fundamental no fortalecimento das economias locais e na geração de empregos, especialmente em regiões rurais e menos industrializadas.
De acordo com o boletim anual 2023 da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), para cada megawatt instalado, são gerados aproximadamente 11 novos postos de trabalho, com a criação de mais de 300 mil empregos diretos e indiretos até o momento.
Essa geração de empregos, quando planejada e gerida, não se limita apenas à fase de construção, mas se estende por todo o ciclo de vida dos projetos, abrangendo a operação e a manutenção dos parques, com o potencial de promover a inclusão social e a criação de oportunidades duradouras para as comunidades locais.
Além de impulsionar a criação de postos de trabalho e renda, o setor também apresenta um significativo retorno econômico: para cada R$ 1 investido, o impacto no PIB brasileiro é de R$ 2,90.
Já na esfera ambiental, o setor eólico é peça-chave para os compromissos de descarbonização do Brasil, tendo evitado emissões de gases do efeito estufa valoradas entre R$ 60 e 70 bilhões no período de 2016 a 2024, consolidando sua posição como um dos maiores contribuintes para a matriz energética limpa do país, segundo dados da ABEEólica.
Ainda assim, é necessário que o setor avance com responsabilidade. Para que a expansão seja feita de forma justa e equilibrada, é necessário considerar as comunidades implicadas nos projetos como protagonistas, no centro das discussões, transformando desafios locais em oportunidades de geração de valor.
A legitimidade social é fator preponderante para que os projetos eólicos sejam colocados na prateleira de “bons vizinhos”.
O crescimento do mercado eólico também está intimamente ligado às metas corporativas da tríade ESG (Environmental, Social, and Governance). O mercado está respondendo com soluções mais transparentes, e muitas empresas têm adotado práticas mais consistentes nesse sentido.
A energia eólica, por sua natureza limpa, tem se tornado uma opção estratégica para as companhias que buscam alinhar seus negócios aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e às exigências do mercado de carbono.
Diante deste cenário, percebe-se o papel essencial do setor eólico como vetor de crescimento social e econômico a longo prazo para as comunidades. À medida que o setor cresce, as empresas devem garantir que as comunidades sejam mais do que espectadoras do desenvolvimento, mas agentes ativos na mudança.
A energia eólica no Brasil é, deste modo, um exemplo de como a sustentabilidade pode ser um motor para o crescimento econômico e social. O setor continua a expandir sua participação na matriz elétrica, ao mesmo tempo em que promove impactos positivos nas comunidades locais e fortalece o compromisso do país com a descarbonização da economia.
Este artigo expressa exclusivamente a posição do autor e não necessariamente da instituição para a qual trabalha ou está vinculado.
Alexandre Azevedo é diretor de Novos Negócios da EDF Renewables Brasil.