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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Até 14 de julho, o Ibama contabilizava pedidos de licenciamento para 78 projetos eólicos offshore, somando 189 GW de capacidade com a instalação de cerca de 13 mil turbinas na costa brasileira – é quase a potência total de energia instalada no país (194 GW).
Para tirar os empreendimentos do papel, o mercado aguarda a aprovação de marcos regulatórios capazes de garantir segurança jurídica aos investimentos.
Um deles é o projeto de lei 576/2021 aprovado no Senado e que agora tramita na Câmara. Entre as principais regras que precisam ser definidas estão o modelo de cessão das áreas, a cobrança de outorgas e os critérios para a realização de leilões.
Mas além dessas definições, os empresários defendem uma política industrial que ajude a estabelecer uma cadeia produtiva de baixo carbono no país e, com ela, a demanda pela energia gerada em alto mar.
“O Brasil precisa criar mecanismos de incentivos para novas indústrias”, defende Elbia Gannoum, CEO da Abeeólica.
“Trata-se de um pacote de incentivos. A regulação é um deles. A lógica de longo prazo é outra. E a disposição de pagar pela tecnologia por aquilo que ela vale é outro”, completa.
É aí que entra o hidrogênio verde, como potencial consumidor âncora da eletricidade offshore.
Segundo a executiva, hoje o que mais preocupa a indústria é o pipeline. “O que precisamos é ter uma lógica de contratação futura. É assim que nós vamos trazer uma indústria nova. E só podemos fazer isso no conceito de política industrial verde”.
Indústria de baixo carbono
Citando a agenda do governo Lula (PT) para uma neoindustrialização, Gannoum acredita que a criação de uma nova indústria descarbonizada para o Brasil vai atrair a demanda.
Para isso, será preciso regulamentar o mercado de carbono, o hidrogênio verde, a eólica offshore e aprovar a reforma tributária, lista.
“Esse pacotão é o nosso IRA (sigla em inglês para a Lei de Redução da Inflação dos EUA) do ponto de vista da energia. Se seguirmos com tudo isso, as outras questões vêm. Não precisamos nos preocupar com a demanda, porque o hidrogênio vai ser a resposta de demanda para o Brasil e as várias economias do mundo”.
Nos Estados Unidos, o pacote do governo de Joe Biden está destinando US$ 430 bilhões em subsídios para estimular a transição energética em diferentes frentes: novas energias, eletrificação, captura de carbono, eficiência, entre outras.
Por aqui, o Ministério da Fazenda prepara um pacote com mais de 100 ações, integrando outras pastas da Esplanada para incentivar a transição ecológica e a neoindustrialização verde.
Regionalizando a produção de hidrogênio
Análise da consultoria Wood Mackenzie (WoodMac) projeta quase US$ 1 trilhão em investimentos para a indústria eólica offshore na próxima década, com a capacidade atingindo 330 GW, quase dez vezes os 34 GW registrados em 2020.
Além dos custos em queda e ganho de competitividade – o primeiro contrato para um projeto eólico offshore totalmente sem subsídios foi assinado em dezembro de 2021 na Dinamarca – os projetos estão se associando aos hubs de hidrogênio para se financiar.
Ricardo de Luca, diretor da Corio Brasil, observa que a eólica offshore tende a regionalizar a produção do hidrogênio, ao permitir o aproveitamento da energia independente da expansão de linhas de transmissão.
Braço do fundo de investimento verde Green Investment Group (GIG), da australiana Macquarie, a Corio planeja construir, em parceria com a brasileira Servtec Energia, cinco parques eólicos offshore no Brasil. Os empreendimentos totalizam 5 GW de capacidade instalada.
A carteira inclui os projetos Costa Nordeste (CE), com capacidade mínima de 1,2 GW; Vitória (ES), com 500 MW; Guarita, Cassino e Rio Grande (RS), com cerca de 1,2 GW cada um dos três parques.
Além da geração de eletricidade por meio da geração offshore, a Corio também está olhando para os hubs de produção e exportação de hidrogênio e amônia verdes.
A companhia já soma 20 GW em projetos de eólicas offshore em desenvolvimento pelo mundo, em países como Coréia do Sul, Taiwan, Japão, Irlanda e Reino Unido.
Elbia Gannoum e Ricardo de Luca participaram nesta segunda (14/8) dos Diálogos da Transição 2023. Confira na íntegra!
Cobrimos por aqui:
- Do etanol à solar, petroleiras travam corrida por energias renováveis no Brasil; veja quem é quem
- Governo do Rio planeja projeto-piloto de geração de energia eólica offshore
- Petroleiras dominam leilão de eólica offshore na Alemanha
- Hidrogênio, amônia e metanol verde são rotas para uso da energia eólica offshore
Curtas
Conteúdo local
A Comissão Interministerial de Aquisições (CIA-PAC), instituída por decreto na sexta (11/8), vai coordenar iniciativas de compras públicas e financiamento para priorizar a indústria nacional e, entre os setores analisados inicialmente, estão o de placas fotovoltaicas e aerogeradores.
Hidrogênio musgo
O Brasil aparece como um potencial grande produtor do hidrogênio verde, a preço competitivo. Mas, especialistas já apontam que o hidrogênio a partir da biomassa, conhecido como hidrogênio musgo, pode ser ainda mais promissor no país, escreve o jornalista Gabriel Chiappini.
Representando cerca de 24,8% do PIB, em 2022, o agronegócio é um grande produtor de resíduos que poderiam estar sendo aproveitados para gerar biogás e biometano, e futuramente serem transformados em hidrogênio, a partir do processo de reforma a vapor.
Centro para Finanças Climáticas
O Instituto Clima e Sociedade e a inglesa Climate Arc estão lançando no Brasil um espaço para aprimoramento de dados e análises para subsidiar decisões do setor privado em relação à economia de baixo carbono.
Com a previsão do início de atividades em janeiro de 2024, as organizações abriram uma chamada pública para a seleção de instituição de pesquisa (acadêmicas e think tanks) ou consórcio que irá implementar, operacionalizar e administrar o centro. Propostas devem ser apresentadas até o dia 31 de agosto. Informações neste link
Eletrificação
O programa de eletromobilidade Shell Recharge implementado pela Raízen Power no Brasil alcançou 13 mil recargas em um ano. A energia que alimentou as baterias dos veículos elétricos veio de fontes renováveis e as empresas estão investindo na expansão da rede. O programa global conta com mais de 120 mil carregadores em todo o mundo e a meta da rede é chegar a 500 mil carregadores até 2025.