Desenvolver uma cadeia de fornecedores para o mercado eólico offshore no Brasil será um desafio muito maior do que o enfrentado nas últimas décadas com a eólica onshore, disse o vice-presidente de Procurement para América Latina da Vestas, Rodrigo Ugarte Ferreira.
“Como que a gente pode crescer o volume de uma forma a assegurar o devido nível de qualidade, o devido nível de sustentabilidade econômica e sustentabilidade ambiental, propriamente dito, das soluções que vão sendo introduzidas? Então, esse talvez seja o maior desafio”, disse durante os Diálogos da Transição 2023, evento virtual da agência epbr. (Veja a íntegra do debate acima)
A Vestas tem 6,5 GW de turbinas eólicas instaladas no Brasil e outros 5 GW já contratados. Ao longo dos últimos 10 anos, a fabricante dinamarquesa desenvolveu mais de 100 fornecedores tier 1 no país, a maior parte no Sudeste e Nordeste.
Concentração nos portos
Segundo Ferreira, desenvolver a cadeia de fornecedores do mercado offshore será muito mais desafiador.
“A gente começa a ter um pouco da ideia da magnitude dos desafios quando a gente vê o tamanho dos equipamentos que acabam sendo muito diferentes quando a gente compara com a indústria onshore, que já é de extremamente grande”, afirmou.
O executivo cita como exemplo o aerogerador V236 de 15 MW, com pás de 115,5 metros, que varrem uma área de 43,742 m2, equivalente a seis campos de futebol.
“Isso dá uma magnitude muito boa dos desafios logísticos, dos desafios necessários para localizar essa indústria e fazer ela algo material e real no Brasil nesses próximos anos.”
Segundo ele, por esse motivo, a tendência é que a cadeia de fornecedores fique mais concentrada e próxima dos portos.
Além disso, explicou, os empreendimentos offshore são de maior complexidade, exigem maior nível de investimento e estão em um ambiente bem mais competitivo que o onshore.
“Se pudesse comparar, fazendo uma analogia aqui, o onshore com o offshore, o onshore é como se fosse campeonato brasileiro, o offshore é Champions League. Então, é dessa magnitude que a gente está falando em termos de diferença de competitividade, em termos de diferença de nível, de porte de investimento.”
Descarbonização dos fornecedores
O gerente sênior para América Latina da Wärtsila, Mario Barbosa, destaca um outro grande desafio para a cadeia de fornecedores de eólica offshore, que é a descarbonização das operações. Ele ressalta a área de apoio marítimo, que é bastante intensiva na atividade offshore e que também passa por um movimento de transição energética.
“O mercado de eólica offshore vai ter diversas novas embarcações operando desde a construção dos campos offshore, a instalação das turbinas, até a operação em si, a manutenção. Porque ao invés de você fazer a manutenção de um aerogerador numa oficina, no caso do offshore, em terra, você leva o gerador para a oficina, muitas vezes, aqui você não vai ter essa opção, porque são grandes geradores”, explicou.
Segundo Barbosa, há uma série de medidas sendo adotadas atualmente para descarbonizar as embarcações de apoio e atingir as metas determinadas pela Organização Marítima Internacional (IMO), de reduzir em 40% as emissões de CO2 nas atividades de transporte marítimo até 2030, e alcançar emissão zero líquida até 2050.
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Novos combustíveis marítimos
Entre as iniciativas estão o uso de motores e geradores mais eficientes, monitoramento e gerenciamento remoto de energia, assim como a adoção de diferentes tipos de combustíveis, como amônia verde, biodiesel, óleo combustível GNL, e-metanol e biometanol.
“A gente acredita que vai ter uma transição do mercado, e sobretudo aqui no Brasil, da expertise que a gente tem no mercado offshore óleo e gás para o mercado de eólica offshore. Então, é natural que soluções hoje que a gente já emprega no mercado de óleo e gás também vai passar um pouco para o mercado de eólica offshore. Então, soluções integradas, já tendo em vista a questão das reduções de emissões preconizadas pela IMO, International Maritime Organization, que já diz que a gente tem que reduzir bastante as emissões de CO2 no horizonte 2030″, disse Barbosa.
Ele cita a necessidade de olhar as emissões das embarcações como um todo para alcançar maior eficiência e conseguir chegar à emissão zero em 2050.
“A questão da eficiência energética e sistemas de armazenagem de energia para otimização do uso da energia a bordo, seja ela vindo de combustíveis alternativos, seja recarga em baterias, etc. Mas a gente também aborda muito a questão da eficiência da embarcação como um todo.”
E conclui: “Como é que essa embarcação precisa operar com a menor demanda de energia possível? Porque também é um primeiro passo para a eficiência energética, você reduzir a demanda energética da embarcação. Então, a gente trabalha com esse loop integrado de projeto, dando suporte aos projetistas para desenvolver conceitos de novas embarcações.”
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