Esta entrevista é uma tradução do primeiro episódio da nova série em podcast da epbr, CEO E&P, em que vamos conversar com os principais executivos de empresas que atuam nas indústrias de petróleo, gás e energia no Brasil. O programa, gravado em inglês, pode ser ouvido aqui.
Em entrevista exclusiva à epbr, o Country Manager da Equinor no Brasil, Anders Opedal, afirma que o país tem destaque na estratégia global da companhia de ampliar investimentos em energias renováveis, enquanto ainda busca novos projetos de petróleo e gás.
Questionado sobre as falas de Ciro Gomes, que diz que vai retomar contratos no pré-sal de empresas privadas e critica diretamente o negócio da Equinor com a Petrobras em Carcará, Opedal prefere não comentar declarações específicas, mas ressalta que a empresa gera empregos no Brasil, exporta equipamentos nacionais para operações no exterior e tem condições de trabalhar com qualquer presidente eleito. “Já pagamos mais de US$ 1 bilhão em impostos no Brasil”, diz.
Opedal também fala sobre as recentes mudanças regulatórias que ocorreram no Brasil, mas reforça que o programa Gás para Crescer, do governo federal, precisa seguir em frente e os consumidores industriais devem poder escolher seus fornecedores de gás. O executivo defende que, dessa maneira, o mercado de gás natural pode ser um indutor de novos negócios e gerar empregos no país.
P. Brasil está passando por uma eleição presidencial. O que espera do próximo presidente, o que ainda precisa mudar no setor?
R. Somos investidores de longo prazo. Quando começamos um projeto, precisamos de cinco a seis anos para fazer o investimento e então temos de 20 a 30 anos de produção. O mais importante para a gente, seja qual for o presidente ou o Congresso, ao longo do tempo, é que tenhamos transparência e estabilidade nas principais legislações e no ambiente tributário e de investimentos para a indústria de óleo e gás.
Então, para qualquer presidente ou qualquer congressista, nossa expectativa é que eles dediquem algum tempo entendendo a indústria de óleo e gás, que é umas das principais industriais no Brasil em termos de participações governamentais e recolhimento de tributos, e no geral, que tenhamos um bom diálogo sobre o que é preciso para ser possível fazer investimentos de longo prazo como os que estamos fazendo.
P. Desde 2016, tivemos mudanças regulatórias no país. Essas mudanças aceleraram investimentos da Equinor no Brasil?
R. Primeiramente, a mais importante, que foi feita no início [desse período], foi dar acesso a todas as companhias, além da Petrobras, para serem operadoras no pré-sal. Isso deu início a alguns dos processos de desinvestimento da Petrobras e compramos a concessão do [bloco] BM-S-8.
Adicionalmente, a ANP anunciou as rodadas, transparentes e planejadas, que permitem nominar áreas que acharmos interessantes. Temos tempo de avaliar essas áreas e encontrar parceiros para trabalharmos juntos. Esse é o segundo ponto.
O terceiro são as mudanças regulatórias. As regras de conteúdo local foram importantes para colocar isso [a política de conteúdo local] em um nível sustentável, que podemos alcançar. Também tivemos uma transparência na unitização dos contratos de concessão e de partilha da produção e, claro, o que aconteceu com o Repetro.
E também [será positivo] se conseguirmos continuar com o Gás para Crescer. Acreditamos que levar mais gás natural para o mercado pode criar negócios, novos empregos para o Brasil. Mas precisamos fazer mudanças na estrutura regulatória para conseguir usar esse gás: acesso livre ao mercado, tarifas de transporte livres e transparentes e que os consumidores industriais possam escolher livremente seus fornecedores de gás.
P. Outro debate importante em Brasília é sobre a cessão onerosa. Um projeto desta magnitude está nos planos da Equinor?
R. Acredito que ter a possibilidade de acessar o pré-sal nesses diferentes leilões, incluindo esse processo da cessão onerosa, é muito bom para a indústria de petróleo e gás. Não especificamos em quais áreas vamos participar ativamente, mas estamos olhando todas as possibilidades que estão sendo oferecidas no mercado. Posso garantir que estamos olhando todas as possibilidades no mercado brasileiro.
P. Quais são as razões e os objetivos para os investimentos em energias renováveis no Brasil?
R. Nossa estratégia corporativa é mudar de uma empresa de petróleo e gás para uma companhia de energia mais ampla. Em 2030, 15% a 20% dos nossos investimentos serão em renováveis. Estamos numa fase de construção, desenvolvemos parques eólicos na Europa e investimos na nossa primeira usina solar no Ceará [usina solar Apodi, de 162MW]. A construção está indo bem e em breve seremos uma companhia ampla de energia no Brasil, porque neste momento já produzimos petróleo e gás e mais tarde, neste ano, também energia da usina solar.
O Brasil está numa posição fantástica. Temos oportunidades em eólica, solar. Estamos ativamente buscando [novas oportunidades] no Brasil para ver onde podemos expandir não apenas no óleo e gás, mas também em negócios em renováveis.
Ainda é cedo para dizer quanto e em quais projetos. Estamos dando os primeiros passos com a usina solar de Apodi e vamos construir conhecimento em cima disso, bem como em nossas operações no Reino Unido. Temos parques eólicos fixos, mas também flutuantes na Escócia. São tecnologias interessantes que nós vamos explorar ao longo do tempo. Nossa estratégia corporativa em relação a petróleo e gás e a renováveis será realmente muito implementada no Brasil.
P. Um dos candidatos à presidência, Ciro Gomes (PDT), fala em retomar áreas do pré-sal de empresas privadas. E diz que a Equinor pagou pouco por Carcará (BM-S-8).
R. Nós não comentamos declarações específicas. A Equinor está preparada para trabalhar com qualquer presidente eleito.
Acredito que como uma companhia, uma investidora estrangeira no Brasil, temos muito a oferecer. Deixe-me lembrar que desenvolvemos Peregrino, criamos 400 empregos na Equinor, mas também 700 empregos na indústria de fornecedores. Agora estamos perfurando para exploração, temos uma sonda e são 100 empregos.
Estamos comprando equipamentos da indústria local e exportando para projetos noruegueses. Já pagamos mais de US$ 1 bilhão em impostos [tributos e participações em geral] ao longo de todo o tempo que estamos aqui [a empresa chegou ao país em 2001 e começou a produzir em Peregrino em 2011]. Vamos continuar trabalhando e criando valor para a sociedade brasileira no futuro.
Sobre Carcará, é importante lembrar que foi um processo competitivo entre várias companhias, com ofertas para comprar [este ativo] da Petrobras. Você também pode ver que concluímos vários outros processos exatamente com o mesmo preço depois. Foi um processo justo de mercado.