A Petrobras incorporou na contratação das plataformas P-78 e P-79, unidades próprias da empresa que estão atualmente em licitação, sete pontos que mais impactaram os andamentos dos projetos das primeiras plataformas do pré-sal, os FPSOs replicantes. A empresa criou uma estratégia baseada em três pilares que servem de base para a melhoria da contração das unidades de produção.
Os FPSOs replicantes foram as primeiras plataformas contratadas pela Petrobras para produzir petróleo no pré-sal da Bacia de Santos.
São chamados replicantes porque tiveram seus projetos reproduzidos e padronizados. Mas uma parte das empresas acabou envolvida na operação Lava Jato, tiveram problemas de caixa, geraram atrasos e cancelamentos no projetos. A Petrobras acabou tendo que relicitar diversas etapas das obras.
Concentrar muitos projetos na mesma empresa, algumas sem porte econômico, ao mesmo tempo em que houve uma contratação excessiva de empresas envolvidas na entrega de partes de um mesmo contrato são erros que precisam ser corrigidos para minimizar os riscos dos projetos, afirma o diretor de Desenvolvimento da Produção da Petrobras, Rudimar Lorenzatto, em entrevista à agência epbr.
“Também é importante mencionar que estamos utilizando requisitos nos novos projetos de tecnologia digitais para permitir uma melhor gestão do projeto, assim como ter a estrutura necessária para implantação de tecnologia para maior aproveitamento de gêmeos digitais”, comenta Lorenzatto.
A Petrobras anunciou nesta terça (15/9) que fechou com a SBM Offshore a contratação direta do FPSO Almirante Tamandaré, unidade que será instalada no campo de Búzios, principal projeto de exploração e produção da empresa até 2030. A plataforma será a unidade com a maior capacidade instalada de produção do país, com 225 mil barris por dia de petróleo.
Nesta segunda (14), a estatal anunciou a revisão do seu planejamento e decidiu concentrar ainda mais sua atividade no projeto de Búzios e nos ativos do pré-sal, que vão demandar 71% do total que será investido pela empresa entre 2021 e 2025.
Além do FPSO Almirante Tamandaré, a Petrobras está contratando atualmente duas plataformas próprias para Búzios. Os FPSO P-78 e P-79 terão capacidade para processar diariamente 180 mil barris de óleo e 7,2 milhões de m3 de gás, cada, e devem entrar em operação em 2025.
Veja abaixo a íntegra da entrevista com Rudimar Lorenzatto
Como vai funcionar a contratação das plataformas P-78 e P-79, licitação lançada em agosto pela Petrobras?
A licitação em curso visa a contratação do fornecimento de pelo menos uma unidade. Pelas regras do edital, cada empresa poderá apresentar proposta para uma unidade e nada impede a Petrobras de adquirir uma segunda unidade com a segunda melhor proposta.
Adicionalmente, está prevista a discricionariedade da licitante de ofertar à Petrobras uma unidade adicional, com opção de exercício pela Petrobras. Esta unidade opcional seria entregue em até seis meses após a entrega da primeira unidade.
Quais as lições aprendidas nos FPSOs replicantes que serão incorporadas nas concorrências?
São sete pontos que mais impactaram no passado o prazo de conclusão das unidades e aumentaram o risco de execução dos projetos:
A concentração de muitos projetos de FPSO em uma mesma empresa; excesso de interfaces, mais de cinco empresas construindo partes de uma mesma unidade; falta de porte econômico das empresas contratadas; aceitação de estaleiros novos, que seriam construídos junto com a construção das plataformas; e falta de expertise técnico, com contratação de empresas sem tradição na área naval e offshore.
E quais as mudanças feitas na concorrência a partir deste aprendizado?
A Petrobras criou uma estratégia baseada em três pilares, que são a base das melhorias e que são lições aprendidas no âmbito contratual.
A redução de interfaces, preferencialmente com apenas uma empresa responsável pela construção de toda a unidade, incluindo o casco, planta de processamento e os equipamentos críticos.
Processo rigoroso de seleção de empresas de EPC e de subcontratadas, como estaleiros e empresas de engenharia.
E alinhamento de interesses no contrato, objetivando atender aos objetivos finais de entrega e partida da unidade de produção.
Além disso, em relação ao projeto, as lições aprendidas foram incorporadas no comissionamento e partida do sistema de tratamento e compressão de gás, que compõe metade do sistema da planta de processo do pré-sal e que trazem o benefício de reduzir o tempo para atingimento de produção plena.
Outro aspecto é que permite aumentar o índice de utilização de gás associado (IUGA).
Além disso, temos o aumento do grau de comissionamento das unidades na fase de estaleiro demandando menos trabalho offshore.
Também é importante mencionar que estamos utilizando requisitos nos novos projetos de tecnologia digitais para permitir uma melhor gestão do projeto, assim como ter a estrutura necessária para implantação de tecnologia para maior aproveitamento de gêmeos digitais.
Finalmente, mencionamos a incorporação de soluções para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
A Petrobras pretende contratar itens críticos, como turbinas ou módulos?
Não. A contratação é para o FPSO completo, estando todo fornecimento sob responsabilidade da licitante. No novo modelo de contratação estamos priorizando a redução de interfaces.
Os FPSOs serão cascos novos ou convertidos?
Para FPSOs próprios será casco novo. Para o FPSO afretado, a opção de escolha do modelo de casco é da licitante.
A Petrobras tem planos para lançar a licitação para a plataforma que será instalada em águas profundas de Sergipe ainda em 2020?
A companhia está atualizando a sua carteira de projetos, considerando a gestão ativa de seu portfólio, para compor o Plano Estratégico 2021-2025, que, uma vez aprovado, será divulgado tempestivamente ao mercado e demais partes interessadas
A licitação do FPO de Itapu foi novamente adiada. É possível que seja cancelada?
A postergação ocorreu devido à necessidade de reavaliação do Projeto de Itapu em função do cenário atual do mercado de óleo e gás. Até novembro/2020 a Comissão de Licitação, em novo comunicado, informará sobre a continuidade do processo de contratação do FPSO afretado.
Quando a Petrobras pretende lançar a licitação para os FPSOs Búzios 9,10,11 e 12?
Os projetos dos módulos 9, 10, 11 e 12 ainda estão em fase de estudos. As licitações para os FPSOs desses novos projetos serão oportunamente divulgadas.
Terão como modelo o Feed contratado com a Dóris?
Os futuros módulos de Búzios estão em fase de estudo e o projeto básico que está sendo desenvolvido pela Petrobras com assistência da Doris é uma das alternativas que serão consideradas para os FPSOs.