RIO – A Organização das Nações Unidas (ONU) iniciou na terça-feira (25/7) a operação para descarregar 1,14 milhão de barris de petróleo estocados no navio-tanque FSO Safer, ancorado na costa do Iêmen.
A operação visa evitar um derramamento de petróleo, devido à deterioração da integridade do navio, que está com as operações de carga, descarga e manutenção suspensas desde 2015. O Iêmen enfrenta uma guerra civil.
Segundo a ONU, como o navio não tem um sistema funcional para retirada de gás dos tanques, poderia haver uma explosão a qualquer momento.
Veja as principais perguntas sobre a operação da ONU:
- Por que a operação é necessária?
- Como será feita a retirada do óleo?
- Quanto vai custar?
- Por que o Iêmen está em guerra?
- Por que a ONU está cuidando do problema?
- Há outras ameaças como essa no mundo?
Por que a operação é necessária?
A ONU estima que um derramamento no FSO Safer causaria o quinto maior vazamento de petróleo da história. O impacto seria quatro vezes maior do que o acidente com o Exxon Valdez, petroleiro que protagonizou um vazamento de óleo no Alasca em 1989.
Um eventual vazamento no Iêmen levaria ao fechamento dos dois mais importantes portos para o abastecimento do país, Hodeidah e Saleef. Além disso, poderia destruir recifes, mangues e a vida marinha na região, com um forte impacto também na indústria pesqueira. A limpeza após um possível desastre tem custo estimado em US$ 20 bilhões.
O cenário teria efeitos catastróficos em um país que já está devastado por anos de guerra, com impactos humanitários, ambientais e econômicos.
Como será feita a retirada do óleo?
Na prática, a carga de petróleo vai ser transferida do FSO Safer para outro navio, numa operação do tipo ship-to-ship, similar às que ocorrem na indústria de petróleo para exportação e movimentação de cargas. Nesse caso, no entanto, o procedimento é considerado de alto risco devido à possibilidade de explosão, por causa do acúmulo de gases nos tanques depois de anos sem manutenção.
A ONU coordena a operação, que conta com apoio do Greenpeace, assim como de empresas privadas. Segundo o secretário-geral, António Guterres, foi criada uma força-tarefa que conta com especialistas em leis marítimas, vazamentos de óleo e operações de resgate, além de engenheiros e arquitetos navais e químicos.
Nos últimos meses, um navio de apoio foi levado ao FSO Safer para avaliar as condições da embarcação. Foi realizada uma inspeção em equipamentos, que envolveu análises de válvulas, tanques, maquinário e da sala de bombas e motores. Ocorreu também uma verificação do sistema de ancoragem do navio-plataforma. A conclusão foi que os tanques não estavam seguros, devido ao acúmulo de vapor da carga.
Foi necessária então a instalação de geradores de gás portáteis no convés do navio para retirar o gás inerte de cada tanque e tornar segura a retirada do petróleo.
Na terça-feira, a carga do navio começou a ser transferida por meio de bombas hidráulicas para uma outra embarcação, do tipo very large crude carrier (VLCC), maior classe navio em operação no mundo para transporte de petróleo. A embarcação que vai receber o petróleo será o VLCC Nautica, comprado da empresa Euronav pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) da ONU este ano.
Quanto vai custar?
Prevista para durar 19 dias, a fase emergencial da operação, iniciada esta semana, vai custar US$ 129 milhões. O procedimento completo, no entanto, tem orçamento previsto em US$ 144 milhões, dos quais US$ 20 milhões ainda precisam ser levantados.
Os valores adicionais são necessários, pois, após a retirada da carga, ainda será necessário rebocar o FSO Safer, fazer a limpeza do ativo e reciclá-lo, além de garantir uma estocagem segura para o petróleo retirado do navio.
Por que o Iêmen está em guerra?
Iniciado em 2015, o conflito no Iêmen envolve forças do então governo, apoiadas pela Arábia Saudita, e os rebeldes hutis, apoiados pelo Irã. São dois grupos com orientações religiosas distintas que lutam há oito anos para governar o país.
Os rebeldes fazem parte de uma minoria xiita, que derrubou o governo sunita há oito anos. O conflito gera uma crise humanitária que leva mais de 20 milhões de pessoas a precisarem de ajuda para sobreviver.
Por que a ONU está cuidando do problema?
A ONU é a organização internacional com capacidade para dialogar com os diferentes grupos envolvidos no conflito, além de conseguir coordenar recursos financeiros e humanos para uma operação desse tipo.
“Por ser, em tese, um ator desinteressado [no conflito] e que não faz geopolítica, a ONU tenta solucionar o problema através da coordenação de recursos”, explica o pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV, Leonardo Paz.
O pesquisador aponta que a ONU nunca havia atuado em um resgate desse porte no setor de petróleo, mas já apoiou governos em outras situações similares, com a detecção de impactos ambientais e a identificação de grupos afetados após vazamentos nos Estados Unidos.
Há outras ameaças como essa no mundo?
Sim. Um dos casos mais notáveis é a disputa pela região onde está localizada a usina de Zaporizhzia, a maior da Europa, após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022.
Outra ameaça está relacionada ao ressurgimento do grupo Estado Islâmico no Iraque, o que pode levar a disputas em regiões com grandes refinarias, aponta o pesquisador da FGV.