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Energisa acena para estados ao prometer acelerar investimentos em distribuição de gás

Grupo acena para os estados, que se queixam, historicamente, do atual modelo de gestão das concessionárias da região

Grupo Energisa acena para estados ao prometer acelerar investimentos em distribuição de gás natural canalizado do Nordeste. Na imagem: Rede de dutos amarelos (com registros azuis) em instalações da Cegás, distribuidora de gás canalizado no Ceará; com trabalhador uniformizado, de costas, em primeiro plano observando a operação Foto: Divulgação)
Instalações da Cegás, distribuidora de gás canalizado no Ceará (Foto: Divulgação)

RIO – A Energisa vê espaço para acelerar os investimentos na expansão da rede das distribuidoras de gás canalizado do Nordeste, sem comprometer a competitividade das tarifas do gás natural nas concessões locais.

Na sexta-feira (10/5), o Grupo Energisa assinou contrato para aquisição da Infra Gás e Energia – o que lhe permitirá entrar, como acionista indireto não controlador, no capital da Cegás (CE), Copergás (PE), Algás (AL), Potigás (RN) e Sergas (SE).

A Energisa destaca que a Base de Remuneração Regulatória (BRR) dessas distribuidoras é modesta. O investimento médio nessas concessões em 2024 é da ordem de 1,2 vez a depreciação regulatória, mas a empresa acredita ser possível aumentar esse patamar para 2 vezes. Os valores finais ainda serão tratados com os sócios e os reguladores estaduais,

“Na nossa avaliação, dada a limitada cobertura de rede nas regiões e a existência de um potencial significativo a ser capturado de mercado, há espaço tarifário para expansão acelerada da base de ativos e, por consequência, crescimento dessas companhias sem impactar a competitividade”, afirmou o CEO da Energisa, Ricardo Botelho, nesta segunda (13/5), ao tratar da aquisição com analistas e investidores.

O aceno para os estados

Ao sinalizar para o aumento dos investimentos nas distribuidoras, a Energisa faz um aceno aos estados – controladores das companhias e que se queixam, historicamente, do atual modelo de gestão das concessionárias da região.

“A expectativa é que a Energisa, com a experiência que ela tem e com os casos de sucesso que ela tem em indústria de rede, consiga liderar toda essa evolução do plano de investimento, o que vai ser muito bem-vindo pelos Estados que têm apetite em expansão estrutural em suas regiões”.

“Em geral, a expansão é um tema que soa de forma muito positiva nos stakeholders locais”, disse Anderson Bastos, que é ex-executivo da Mitsui e que prestou consultoria à Energisa na aquisição da Infra Gás e Energia.

Em alguns estados, a relação entre os governos estaduais e os sócios privados é conflituosa. Em Sergipe, já foi até judicializada. Um dos temas que costumam gerar impasses é, justamente, o nível de investimento nas concessões versus distribuição de dividendos.

Entenda: O atual modelo de governança das distribuidoras do Nordeste possui travas que impedem decisões sem que haja um consenso entre os sócios.

A diretoria dessas concessionárias é composta por três cadeiras: o Estado indica tradicionalmente o diretor-presidente; a Norgás (antigamente era a Petrobras, via Gaspetro) indica o diretor técnico-comercial; e a Mitsui o diretor financeiro-administrativo. Pelo estatuto social dessas companhias, em geral, as decisões devem ser aprovadas por unanimidade.

Antes de a Energisa avançar com a aquisição, a japonesa Mitsui chegou a sinalizar a intenção de exercer o direito de preferência e ampliar a sua participação nas concessionárias, mas desistiu – justamente após pressão contrária nos estados.

No Ceará, o governador Elmano de Freitas (PT) chegou a sancionar, no fim de 2023, uma lei que impõe limites à participação de capital estrangeiro em empresas públicas – e que, na prática, impede a Mitsui de comprar mais ações da Cegás.

Em Sergipe e Pernambuco também houve discussões para se aprovar uma lei nos mesmos moldes.

No Senado, Laércio Oliveira (PP/SE) saiu em defesa da revisão dos acordos de acionistas e dos contratos de concessão das concessionárias estaduais, em meio à investida da Mitsui.

Energisa quer ser sócia-operadora

Embora vá entrar como acionista não controlador no capital das distribuidoras, a Energisa quer ser ativa na gestão das concessionárias.

Pelo acordo de acionistas dessas companhias, caberá ao grupo assumir a diretoria técnica–comercial das distribuidoras – cadeira responsável por liderar o desenvolvimento do negócio através da proposição dos planos de investimentos e expansão.

“Ou seja, seremos o sócio operador”, disse Botelho.

A Energisa também vê a baixa alavancagem das distribuidoras da região e o modelo regulatório das concessões – o cost plus – como fatores que contribuem para estimular a aceleração dos investimentos.

Os contratos de concessão determinam uma taxa de retorno de 20% que permite às distribuidoras recuperarem seus custos operacionais.

“O retorno financeiro regulatório é um bom indutor de investimento e acreditamos haver a possibilidade de otimizarmos as margens com investimentos prudentes simultaneamente ou aumento do volume distribuído”, disse Botelho.

Energisa se vê posicionada para eventuais privatizações

O executivo também comentou que a aquisição da fatia nas concessionárias locais deixa a Energisa bem posicionada, no futuro, em eventuais privatizações das distribuidoras, já que a estrutura de acordos acionistas garante um direito de preferência sob eventuais alienações dos sócios.

Botelho justificou a aquisição da Infra Gás, ainda, pelo movimento de abertura do mercado no Nordeste e pelas perspectivas de aumento de oferta ao fim da década, com o projeto Sergipe Águas Profundas, da Petrobras.

“A região Nordeste tem elevado potencial de crescimento com baixa saturação, com uma penetração no gás canalizado que é cinco vezes menor do que da área da concessão da Comgás (SP), além de contar com reservas de gás onshore e offshore a custos bem competitivos e uma crescente demanda por gás que vai exigir certamente mais infraestrutura de distribuição”, comentou.

A previsão da Energisa é concluir a aquisição da Infra Gás e Energia em julho. A empresa assumirá as obrigações da Infra Gás perante a Compass para compra da fatia de 51% da Norgás – holding que reúne participações em distribuidoras de gás canalizado de cinco estados no Nordeste.