Opinião

Naturalmente digital: por que o Brasil tem tudo para liderar a revolução da energia limpa

Pressão global por digitalização e consumo crescente de eletricidade reforçam papel do Brasil como polo sustentável para data centers movidos por energias renováveis, escreve Gustavo Ayala

Gustavo Ayala é CEO do Grupo Bolt (Foto Divulgação)
Gustavo Ayala é CEO do Grupo Bolt (Foto Divulgação)

A expansão dos data centers é um fenômeno inevitável no cenário global, impulsionada principalmente pela aceleração da inteligência artificial (IA), da computação em nuvem e da digitalização massiva de serviços.

Essas estruturas, que funcionam como os “cérebros” da internet, consomem volumes gigantescos de energia elétrica para processar, armazenar e distribuir dados em tempo real.

Além do consumo direto de eletricidade pelos servidores, os data centers demandam energia também para sistemas de resfriamento, segurança e conectividade, o que torna sua pegada energética especialmente intensa. 

De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a demanda energética dos data centers deve mais que dobrar até 2030, chegando a mais de 100GW médios — o equivalente a uma vez e meia o consumo anual de todo o Brasil.

Esse cenário coloca pressão sobre os países para garantir fontes confiáveis, sustentáveis e escaláveis de energia para atender à essa explosão de demanda.

Nesse contexto, o Brasil se destaca como um território naturalmente privilegiado. Com um percentual considerável de matriz energética limpa, composta em sua maioria por fontes renováveis como hidrelétrica, solar e eólica, o país reúne condições excepcionais para se posicionar como um hub sustentável de processamento de dados.

A diversidade geográfica e climática do Brasil também favorece a distribuição de grandes centros de dados em regiões com alta incidência solar e regime de ventos constantes, como o Nordeste, além de permitir estratégias complementares com uso de água para resfriamento, principalmente em áreas próximas a reservatórios ou usinas.

Além disso, há uma crescente movimentação de empresas globais interessadas em instalar ou expandir seus data centers em solo brasileiro, atraídas tanto pela matriz limpa quanto pela localização estratégica do país dentro do mercado latino-americano. 

No entanto, essa paisagem promissora pode enfrentar um desafio importante. Embora o Brasil se beneficie de seus recursos naturais abundantes e de sua matriz energética invejável, estamos acompanhando a discussão de uma Medida Provisória que propõe alterações nos incentivos fiscais para empresas que desejam se estabelecer aqui.

É fundamental que as decisões sobre incentivos considerem o potencial do Brasil como destino estratégico para investimentos em tecnologia e sustentabilidade.

Subsídios têm o papel legítimo de impulsionar mercados em estágios iniciais, mas, à medida que esses setores ganham maturidade, é preciso revisar esses mecanismos e promover uma transição gradual para modelos mais eficientes. No setor elétrico, essa lógica precisa estar no centro do planejamento de longo prazo. 

Hoje, o debate ainda se concentra na expansão da oferta, mas a chegada de centros de dados e outras indústrias eletrointensivas exige um novo olhar: é hora de planejar, com a mesma prioridade, a expansão sustentada da demanda.

Garantir um ambiente fiscal estável, competitivo e previsível será decisivo para que o Brasil não perca a janela de oportunidade de se consolidar como um dos grandes polos globais de data centers sustentáveis.

Grandes nomes da tecnologia já operam centros robustos por aqui, e novos projetos estão em desenvolvimento — muitos deles já considerando contratos de energia renovável de longo prazo, que garantem previsibilidade de custos e reforçam compromissos ESG.

Com a governança adequada e investimento em infraestrutura elétrica e digital, o Brasil pode atender tanto à demanda nacional quanto se tornar exportador de serviços de processamento de dados com baixa emissão de carbono.

A perspectiva é clara: a transformação digital global precisa de energia, e quanto mais limpa e segura ela for, maior é sua contribuição para o nosso presente e, sobretudo, para o futuro do planeta.

O Brasil não apenas pode fornecer essa energia como atrair os centros responsáveis por operá-la. Temos uma chance única de combinar nossa expertise energética com desenvolvimento tecnológico, nos posicionando de forma estratégica na interseção entre esses dois setores que seguirão enquanto os mais relevantes da próxima década. 


Gustavo Ayala é CEO do Grupo Bolt. Atua na liderança de estratégias inovadoras voltadas à transformação do setor energético, com ênfase em soluções sustentáveis, uso inteligente de dados e eficiência no consumo. À frente da companhia, impulsiona o desenvolvimento de tecnologias que otimizam o uso de recursos renováveis, consolidando a empresa como referência em transição energética no Brasil.

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