Usinas híbridas

Auren avalia investimento em baterias para o varejo

Armazenamento de energia — sobretudo como solução para o curtailment — está nos planos, mas é preciso superar barreiras de custo

Parque de geração híbrido da Auren em Curral Novo do Piauí. Foto: Auren/Divulgação
Parque de geração híbrido da Auren em Curral Novo do Piauí. Foto: Auren/Divulgação

CURRAL NOVO DO PIAUÍ — Potencial aliado na mitigação de prejuízos provocados pelos cortes na geração de energia renovável (curtailment), o armazenamento de energia em baterias está nos planos da Auren, que avalia a entrada no segmento tanto no atacado, quanto no varejo.

A decisão, no entanto, ainda depende de análise desse mercado e das discussões regulatórias, normativas e avanço da tecnologia.

Segundo o gerente executivo de novos negócios da empresa, Alexandre Barroso, a implementação de um sistema de baterias, hoje, é inviável devido ao alto custo, em conjunto com a geração de grandes projetos.

No varejo, porém, diretamente no cliente, já existem perspectivas que chamam a nossa atenção para potenciais investimentos”, afirmou.

Barroso reconhece que há avanços regulatórios e que o custo das baterias caiu nos últimos anos, mas a carga tributária ainda é uma barreira, podendo chegar a 79% do custo de aquisição.

No início de 2024, entrou em funcionamento a usina solar do projeto Sol do Piauí, que divide espaço e aproveita a infraestrutura do parque eólico da Auren no município de Curral Novo (PI).

O projeto de hibridização foi o primeiro do tipo no país, e motivou a discussão regulatória na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). 

Segundo o gerente de operação e manutenção regional, Henrique Barbosa, a energia solar entra complementando a geração durante o dia e aproveita o espaço deixado pela eólica.

“Temos uma média de 10% de complementação, que chega a 46% no período de baixo vento”, explicou Barbosa.

Aproveitamento de infraestrutura

O complexo solar utiliza o sistema de transmissão quando a energia eólica, predominantemente noturna, não está em plena capacidade. Quando a capacidade é excedida, o sistema de controle prioriza a eólica.

Desta forma, evita-se a construção de um sistema de transmissão exclusivo para a energia solar, com 85% de eficiência, explicam os executivos da Auren.

Parques solares puros, de acordo com Barroso, tem mais sinergias com a instalação de um sistema de baterias, graças às características técnicas, operacionais e econômicas.

“A geração solar tem um perfil diário previsível e restrito a quando temos sol, o que facilita o planejamento do carregamento e descarregamento das baterias quando chega à noite, principalmente no período de ponta, das 18 às 22 horas”, detalha.

A empresa tem um portfólio de 8,8 GW de geração em energias renováveis e possui uma comercializadora de energia com mais de 3,4 mil clientes, que além de vender e energia gerada, compra de outros geradores, de diversas fontes, para fornecer aos clientes.

De olho nos data centers

Um cliente em potencial na mira da Auren são os data centers, que podem destravar novas demandas relacionadas à expansão do setor elétrico nos próximos anos. 

“Desde 2024, temos uma unidade de negócios dedicada à data center e hoje já possuímos algumas empresas do tipo na carteira”, conta Barroso.

Ele aponta que as possibilidades nesse mercado são muitas e vão além das Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs).

“Hoje, além de contratos tradicionais de fornecimento de energia, há diversas outras frentes de sinergia com o setor que podem ser exploradas, como soluções de operação junto a plantas”, comenta.

Em julho, o governo editou uma medida provisória definindo que novos projetos instalados em ZPEs devem utilizar energia de fonte renovável, atendendo a uma demanda de estados do Nordeste, em especial o Ceará.

Programas socioambientais

As áreas onde as turbinas eólicas estão instaladas são arrendadas. Os proprietários são obrigados a respeitar uma distância mínima em um raio de 250 metros dos aerogeradores para erguer construções, mas os terrenos podem continuar sendo usados para agricultura e pecuária.

Nos últimos anos, empreendimentos do tipo têm sido alvo de críticas pelos impactos na rotina e saúde da população em seus arredores.

Segundo a Auren, é oferecida assistência para mitigar eventuais efeitos da poluição sonora e do efeito estroboscópio, que consiste na sombra da pá da turbina passando sobre as casas, o que provoca um efeito ótico desconfortável.

Caso haja necessidade, as residências passam por reforma para receber tratamento acústico e forração do teto, para evitar os prejuízos do efeito ótico.

Em Araripina, município vizinho do parque híbrido, a Auren também tem uma parceria com a Escola Técnica Estadual Pedro Muniz Falcão, que forma mão de obra no curso de energias renováveis. A cooperação envolveu a doação de uma série de equipamentos para o laboratório da escola e um programa de estágio.

*O repórter viajou a Curral Novo do Piauí a convite e com despesas pagas pela Auren

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