Por Barani Krishnan
Os constantes impasses na luta pelo poder na Venezuela e a guerra comercial entre EUA e China estão prejudicando a recuperação do petróleo, enquanto preocupações com o crescimento global, o gradual avanço da produção de shale e a abundância de barris de petróleo presos no mar mínguam os ganhos do mercado neste ano.
O ouro e o dólar, enquanto isso, travam uma briga acirrada pela condição de supremacia nos ativos de proteção preferenciais contra os problemas políticos e financeiros do mundo.
Um passo para frente, dois passos para trás
Depois de um rali com poucas paradas desde o Natal, principalmente nas duas primeiras semanas do ano, os preços do petróleo entraram em um modo de “um passo para frente, dois passos para trás”.
No fechamento do pregão de sexta-feira, o petróleo norte-americano West Texas Intermediate ainda apresentava ganhos de 16% no ano, depois de uma escalada de quase 19% no mês passado, a maior para um mês de janeiro.
Mas a direção ascendente predominante no mercado até meados de janeiro desapareceu, e a variação entre dias de ganhos modestos e fortes quedas parece ser o cenário mais provável daqui para frente. A queda de 5% da semana passada foi a pior desde o início do ano. Os entraves na China e na Venezuela são a causa principal do complexo cenário no petróleo.
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No caso sul-americano, duas semanas depois que o líder da oposição, Juan Guaidó, declarou-se presidente interino do país, desafiando o presidente em exercício, Nicolás Maduro, o impasse entre os dois gerou um certo tipo de estagnação. Embora dezenas de países tenham reconhecido Guaidó, Maduro continua no controle do aparato estatal venezuelano, incluindo as forças armadas.
Em meio ao prolongado impasse, uma fuga de Maduro é improvável
A consultoria Energy Intelligence, de Nova York, afirmou em sua nota semanal:
“Por hora, os presidentes parecem estar reunindo aliados e tentando definir seus próximos passos, mas o mais provável é um entrave.”
Raul Gallegos, subdiretor da consultoria Control Risks, complementou:
“Se a sua expectativa é que Maduro fuja em um avião para Cuba nas próximas semanas, você está equivocado. Isso não vai acontecer.”
Esse impasse também explica por que as sanções impostas pelo governo Trump à petrolífera PDVSA, controlada por Maduro, tiveram um impacto limitado sobre os preços do petróleo até o momento. As sanções norte-americanas contra a Venezuela trazem mais duas dores de cabeça para Trump: lidar com uma Arábia Saudita determinada a elevar os preços do petróleo, justamente quando a economia dos EUA está se recuperando, e preservar sua posição de ascendência sobre o Irã.
Problemática saudita e iraniana complica a saga venezuelana
Trump está contando com a ajuda da Arábia Saudita para preencher qualquer lacuna provocada pelas restrições à PDVSA à oferta de petróleo, ao mesmo tempo que tenta evitar que a Opep formalize um pacto com a Rússia para aumentar os preços do petróleo.
Senadores norte-americanos de diferentes espectros políticos elaboraram uma lei para que o Departamento de Justiça processe os membros da Opep por violações à legislação antitruste, caso o cartel formalize seu pacto de cooperação petrolífera com os russos.
Além disso, as refinarias na Costa do Golfo dos EUA, pressionadas pela falta de petróleo venezuelano, foram alertadas por autoridades da Casa Branca a não contarem com qualquer liberação de petróleo da Reserva Petrolífera Estratégica, porque estavam “certos” de que os sauditas aumentarão suas exportações ao país nas próximas semanas, de acordo com o serviço de informações energéticas S&P Global Platts.
Como assinala a Platts, o mais surpreendente na posição dos EUA é que as autoridades sauditas não indicaram qualquer plano para cobrir um eventual déficit de oferta da Venezuela, na medida em que a Opep, sob forte influência saudita, vem tomando medidas para cortar a produção e aumentar os preços.
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Há muita coisa em jogo em Caracas, mas pouca certeza em relação ao seu desfecho
As sanções norte-americanas retiraram inicialmente 1 milhão bpd de petróleo iraniano do mercado e podem atingir outra parcela se as isenções prescreverem em maio, ou seja, as ações dos EUA podem remover quase 2 milhões bpd da oferta total. Considerando outros apagões – envolvendo as eleições na Nigéria no fim deste mês ou a intensificação da luta pelo poder na Líbia –, os preços do petróleo podem ficar seriamente pressionados.
Para compensar tudo isso, existem cerca de 7 milhões de barris venezuelanos encalhados no mar, sem qualquer certeza de quem pagará por eles.
De acordo com Phil Flynn, analista de energia da corretora The Price Futures Group, em Chicago: “ninguém sabe realmente como tudo isso vai acabar.”